Bruceuílis Nonato (Edmilson Filho) é o tira mais arretado do "primeiro e único distrito" cearense de Guaramobim — chamada de Guará para não confundir com Guaraciaba do Norte… Também conhecida como Guará. Responsável por cuidar da cabra Celestina, considerada patrimônio da pacata cidade fictícia e até eleita vereadora, Bruce perde o animal numa desatenção e debanda para São Paulo na missão de resgatá-la. Na capital paulista, conhece Renato Trindade (Matheus Nachtergaele), um policial de escritório amedrontado com a profissão. Juntos, os improváveis parceiros desvendam um esquema criminoso. O enredo curioso é da nova comédia da plataforma de streaming Netflix que estreia amanhã, 18: "Cabras da Peste".
Ao estilo de filmes buddy cop, mas com o melhor da fuleiragem brasileira e um toque de artes marciais, "Cabras da Peste" tem direção de Vitor Brandt ("As Five" e "Copa de Elite"), que coescreve o roteiro com Denis Nilsen ("O Doutrinador"). Responsável pela produção executiva, o cearense Halder Gomes ("Cine Holliúdy" e "O Shaolin do Sertão") coreografou as lutas do longa — e foi peia muita para todo lado. O elenco conta ainda com Leandro Ramos, Letícia Lima, Juliano Cazarré, Evelyn Castro, Falcão, Valéria Vitoriano, Victor Alen e Paulo Sérgio de Barros, o Bolachinha.
Em entrevista ao O POVO, os protagonistas Edmilson Filho e Matheus Nachtergaele celebram a contínua presença do Nordeste no audiovisual brasileiro. O longa é ambientado em São Paulo, mas Bruce carrega o Ceará na ponta da língua. "Eu acho que o Brasil sempre gostou de se ver. Nos últimos anos, o audiovisual brasileiro estava fazendo muita comédia no eixo Avenida Paulista, Copacabana, Leblon… A última coisa que a gente teve antes de 'Cine Holliúdy' (2013) foi 'O Auto da Compadecida' (2000), com o Matheus Nachtergaele, que foi um sucesso tremendo. Nos anos 1940 e 1950, nós tivemos Oscarito e Mazzaropi como referências. O momento da vez é de mostrar nosso olhar cearense, que é tão famoso no Brasil por causa dos nossos grandes mestres da comédia. Com o 'Cine Holliúdy', a gente já começou a mostrar que a gente não faz só show de humor, a gente não faz só piada, a gente também sabe fazer cinema", defende Edmilson.
Para Matheus Nachtergaele, intérprete do policial Trindade, a estreia de "Cabras da Peste" acontece num momento fundamental para o País. "A comédia sempre conseguiu ser não só o respiro, mas também a pequena revolução nos tempos muito difíceis. Grandes obras foram feitas na forma de comédia para poder conseguir afirmar liberdades pessoais, fazer as pessoas sorrirem juntas. A comédia é uma forma bonita de unir pessoas", acredita. Parceiros de set na série "Cine Holliúdy", produzida e exibida pelo serviço de streaming Globoplay, Nachtergaele dá vida ao prefeito Olegário, antagonista do Francisgleydisson de Edmilson.
Além das afinadas atuações dos protagonistas, as interpretações de Marcondes Falcão como o político Zeca Brito e de Valéria Vitoriano como a delegada de Guaramobim também merecem destaque. O enredo de "Cabras da Peste" envolve crimes e investigações, mas o caricato resultado final replica uma fórmula de sucesso que promete conquistar o público — a amizade. "É uma comédia é policial antiarmas. Há um combate sem violência armada, é muito bonito isso", ressalta Matheus Nachtergaele. Para Edmilson, o longa é um retorno às tardes entre filmes na infância. "Cada filme que eu faço é um sonho realizado, sabe? Essas comédias fizeram parte da minha infância, dos anos 1980. Hoje estou fazendo os filmes que eu era fã. Num momento tão difícil, entramos na casa das pessoas de forma segura para trazer comédia e todo mundo se divertir", finaliza.
Entrevista com Vitor Brandt
OPOVO: "Cabras da Peste" une buddy cop e sertão cearense. Como nasceu esse roteiro?
Vitor Brandt: O Denis Nielsen e eu tivemos vontade de lembrar os filmes que assistíamos na Sessão da Tarde — "Um tira da pesada", "Máquina Mortífera", "A hora do rush". Já sabíamos que tinha que ter um peixe fora d'água, o personagem que sai de um lugar para resolver um crime em outro. Misturar vários tipos de comédia também torna mais interessante. Nossa produtora trouxe o Halder Gomes, que produziu o filme, e o Edmilson Filho entrou logo no começo para interpretar o Bruce. O Edmilson é campeão de taekwondo, então ele corria, pulava, me ajudou a coreografar as cenas de luta, fez tudo.
OP: Além de Halder Gomes na produção e Edmilson Filho como protagonista, temos outros cearenses no elenco do filme: Valéria Vitoriano, Falcão, Victor Alen, Bolachinha… Como foi a experiência de trabalhar com a comédia do Estado?
Vitor: Foi maravilhoso, sabe? Eu nunca tinha ido ao Ceará, então o processo de conhecer esses artistas me abriu os olhos e fiquei muito encantado. O Falcão atua sem aquela figura já conhecida, sem os óculos, com a cara limpa. Foi muito legal ver ele interpretar um outro personagem. A Valéria Vitoriano, a Rossicléa, é fenomenal! Eu sou muito fã dela, estou impressionado como ela não está fazendo mais audiovisual por aí porque ela é maravilhosa. Ela é enorme no Ceará, o Brasil precisa saber quão grande ela é. Eu fico torcendo para que o filme seja um acesso, para que abra portas para pessoas fazerem mais coisas — e para, quem sabe, trabalhar com o filme novamente. A continuação já tem até nome: "Cabras da Peste 2: Miami Vixe".
OP: A atuação do Halder Gomes no audiovisual está construindo outros olhares sobre o interior do Nordeste no cinema nacional. Apesar de ambientado em São Paulo, "Cabras da Peste" também narra um Ceará no personagem de Bruceuílis. Como você avalia essas representações regionais?
Vitor: De fato, há olhares que já estão edificados na nossa cabeça. Mas eu acho legal a possibilidade que o próprio Halder já começou — com "Cine Holliúdy" e "O Shaolin do Sertão", com alienígenas no sertão — de colocar coisas novas ou que não se espera de um filme que se passa no Nordeste, mas sem perder as raízes do lugar. Eu não inventei a roda, eu acho que muita gente faz isso, mas eu acho muito bom sair da mesmice. Enquanto diretor, eu gosto de fazer muita coisa, mas enquanto diretor eu gosto mesmo é de fazer comédia.
V&A Viu
Almoço de domingo, família reunida. Na televisão, o tira Bruceuílis Nonato enfrenta um calor do cão para correr atrás de um suposto ladrão em meio ao sossego de Guaramobim. A inquietude do personagem interpretado por Edmilson Filho movimenta a trama de "Cabras da Peste", comédia da Netflix dirigida por Vitor Brandt que estreia ao 18 de março. Tricampeão brasileiro de taekwondo, Edmilson empresta muito ao policial Bruce: as lutas, o sotaque cearense e, sobretudo, o desejo de se movimentar.
"Cabras" não inova no enredo e nem cria grandes reviravoltas, mas faz uma bem-sucedida aposta em parcerias consolidadas no audiovisual brasileiro. O camaleônico Matheus Nachtergaele interpreta com maestria o parceiro de Bruce, Renato Trindade. Na atuação do paulista, o conforto de quem se sente em casa com a trama e os companheiros de set eleva a dupla protagonista. Enquanto comédia, o longa entrega o que promete ao espectador — mas a superação de uma adversidade vivida por Trindade ao se unir ao cearense vai além. Talvez o grande triunfo da produção seja encontrar comédia no cotidiano da amizade.