Um ano. 365 dias. 8.760 horas. 525.600 minutos. O planeta Terra completou uma volta ao redor do Sol, mas o mundo parece estar no mesmo lugar. Há um ano, o Ceará começava a cumprir o primeiro decreto de isolamento social. Desde então, a realidade que os cearenses viviam até aquele dia 20 de março mudou de maneira drástica: usar máscaras, limpar os produtos do supermercado e evitar o contato físico viraram ações recorrentes. Quem no passado acreditaria que todos ainda estariam confinados em casa? Que a população hoje viveria o maior pico da pandemia? Que os brasileiros assistiriam a uma tragédia que se agrava a cada nova morte?
Em meio a adversidades extremas, pessoas recorrem às artes para encontrar alguma sensação de conforto. E os artistas também encontram em sua produção uma maneira de exteriorizar os sentimentos. Torna-se uma relação mútua. Nesta perspectiva, desde o início das medidas de distanciamento necessárias para conter a disseminação do coronavírus, músicos compõem canções que dialogam com as vivências de milhões de outros. O Vida&Arte preparou uma lista de álbuns que foram elaborados e divulgados na quarentena. Talvez, ao escutá-los, a percepção da separação física diminua.
Não tem bacanal na quarentena
Quando o rapper Baco Exu do Blues decidiu lançar seu terceiro álbum de estúdio, "Bacanal", o período de isolamento social começou. Por causa disso, a produção foi parada por decisão própria. Mas ele sentia a necessidade de oferecer algo ao público em um momento de tantas tristezas. Surgiu assim "Não tem Bacanal na quarentena". Sempre com referências da atualidade, faz protestos contra o racismo e as diferenças sociais. Apenas com os títulos das canções, é possível identificar suas opiniões. "Amo Cardi B e Odeio o Bozo" e "Jovem Preto e Rico" são alguns dos nomes. A capa do álbum também faz alusão ao período: um urso está com uma máscara cirúrgica, ao lado de um álcool gel.
No tempo do tempo
Como sua relação com o tempo mudou após o início da pandemia? Alguns começaram a enfrentar a vida um dia de cada vez, sem fazer planos a longo prazo. Outros decidiram colocar em prática projetos que sempre ficavam "para depois". No caso de Di Ferreira, ela havia decidido finalizar todos os compromissos para focar na reflexão sobre sua carreira em 2020. Distante da rotina que mantinha e sem contato físico com o mundo exterior, entrou em um processo de criação espontâneo. Foi assim que surgiu o EP "No tempo do tempo", em que há duas canções de sua autoria: "Suave" e "Revolução do Amor Cósmico". Além delas, faz a releitura de músicas que marcaram sua vida de alguma forma.
Cinco
"O mundo é um jogo estranho/ Eu não sei bem jogar/ As perdas e os ganhos/ Esqueço de somar/ Trancado nessa casa/ Acendo meu cigarro/ E pego um violão/ Olhando da janela/ Eu tomo um outro trago/ Dessa solidão". A letra de "Jogo Estranho", presente no sexto disco de estúdio de Silva, "Cinco", revela as sensações que permearam sua quarentena. Ao mostrar a solidão de um amor separado pela distância física, faz o retrato de milhares de pessoas. A obra, que mistura vários ritmos brasileiros, não tinha previsão para ser lançado tão cedo. Mas, com o cancelamento dos shows, o artista usou seu tempo para trabalhar no álbum. A música ainda termina em um tom positivo: "Amor de quarentena/ Futuro a tropeçar/ Não vai mais ser problema/ Se o mundo acabar/ Mas se não acabar/ Quando eu te encontrar/ Tudo vai ser melhor/ Olhei lá no futuro, a gente fez um mundo/ E ninguém era só".
BE
São raros os países que não enfrentam a transmissão comunitária do coronavírus. Cada região tem sua própria maneira de lidar com o vírus, mas as medidas de isolamento social permanecem, em essência, as mesmas. A mais de 17.000 km de distância do Brasil, o grupo sul-coreano BTS escreveu um álbum que reflete sentimentos universais deste período. A solidão, a angústia do enclausuramento, a depressão, a luta diária pela estabilidade psicológica e a tentativa de conexão com o outro à distância são alguns dos temas que a banda aborda no álbum "BE". O conteúdo, lançado no final de 2020, foi o resultado do cancelamento da programação de shows.
Só
Em pouco mais de um mês, Adriana Calcanhotto compôs, produziu e gravou o álbum "Só". Na tentativa de manter uma rotina produtiva durante o isolamento social, ela escreveu, em média, uma canção por dia. No final, tornaram-se as nove faixas presentes no disco. Com todos os planos parados, ela traduziu em música as emoções vividas durante o distanciamento. A paisagem de uma rua sem fluxo de carros e o excesso de informação são algumas das questões que entoa. Em "O Que Temos", por exemplo, canta: "Deixa eu te espiar/ Finge que não vê / O que temos são janelas/ Em tempos de quarentena/ Nas sacadas, nos sobrados/ Nós estamos amontoados e sós".
Sem pensar no amanhã
Às vezes basta fechar os olhos para a mente ser conduzida para um mundo alternativo, onde as tragédias param de existir por pelo menos alguns segundos. É neste espaço quase espiritual que se encontra o disco "Sem pensar no amanhã", de Alceu Valença. Com somente uma música inédita, que dá nome ao álbum, o cantor e compositor pernambucano regrava as obras de destaque de sua carreira. Com sua voz, é possível ir até a praia de Boa Viagem, com "La Belle du Jour", ou até pegar um táxi na beira do mar para a estação lunar, com "Táxi lunar". No total, conteúdo conta com 11 faixas.
Nu
Durante o isolamento social, o rapper Djonga entrou em um momento de instrospecção: apagou todas as suas redes sociais e permaneceu por meses fora da internet. Retornou há uma semana para dar início à divulgação do álbum "Nu". O trabalho é um resultado do período que esteve "fora" deste ambiente hiperconectado. A obra não estava em seu planejamento inicial do ano, mas foi realizada com o objetivo de exteriorizar suas fragilidades. Este é o quinto disco de estúdio do artista.
Playlist
O Vida&Arte preparou uma playlist com músicas lançadas na quarentena para você conhecer e aproveitar sem sair de casa. Confira: