"Não tente fazer todo mundo feliz, você não é cuscuz" — a frase estampa diversas publicações nas mídias sociais e até artigos de decoração. Isso porque o cuscuz, alimento tão consumido no Nordeste do Brasil, desperta não só o paladar, mas também o afeto e a identidade do ser nordestino. Herança africana, o cuscuz feito por aqui tem como base a farinha de milho flocada (chamada de flocão), hidratada com água e cozida à vapor. Não importa a combinação ou a circunstância. Simples ou molhado no leite de coco, com manteiga, ovo, queijo ou carne… No café da manhã, no almoço, no jantar ou na "merenda": seja como for, o cuscuz é muito amado.
Essa iguaria carrega histórias de vida e saberes repassados por gerações entre continentes. Em dezembro de 2020, o cuscuz foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O alimento chega a este 19 de março, Dia Mundial do Cuscuz, com repercussão recente nas redes sociais.
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No último mês, a advogada paraibana Juliette Freire e o cantor paulista Fiuk se desentenderam na cozinha do reality show Big Brother Brasil 21. O artista utilizava a farinha de milho flocada para fazer farofa, enquanto a advogada alertava que o produto servia para o preparo do cuscuz nordestino. Na ocasião, o pernambucano Gilberto Nogueira, comentou: "Esse é o cuscuz do Nordeste, com farinha de milho flocada".
Após a discussão, Juliette explicou que o cuscuz integra a culinária regional e pode até salvar vidas. "O preço de um cuscuz deve ser um real e pouco e rende um dia inteiro de alimentação", disse. No embalo, o político cearense Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, protagonizou um vídeo ensinando a fazer cuscuz. O registro está disponível em seu perfil no Instagram.
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Fabricado apenas com o milho, o flocão não tem adição de conservantes — aponta João Augusto Oliveira Júnior, coordenador industrial da Três Corações, responsável pela marca de derivados do milho Dona Clara. "Após a seleção dos grãos do milho, se retira, durante o processamento, a parte mais nobre, o endosperma, que passa por um processo de moagem e laminação para se transformar em flocão", acrescenta. As demais partes são utilizadas para fabricar outros produtos. Para João Augusto, trata-se de um alimento nutritivo, de baixo custo e sem glúten. Muito por isso, o cuscuz se destaca Brasil afora como "o ouro do Nordeste".
Os "Cuscuzeiros"
Para quem deseja apreciar um bom cuscuz, a Cuscuzeiros garante a valorização do "amarelinho". A marca oferece opções para montar, desde os mais simples (acompanhados de manteiga e ovo, por exemplo) aos mais elaborados (com todos os ingredientes do cardápio). Pode ser salgado ou doce. No menu, os pratos referenciam o pertencimento ao Nordeste, com os títulos danado de bom, arretado, pai d'égua e oxente.
Além da loja física, localizada no bairro Rodolfo Teófilo, a Cuscuzeiros disponibiliza o serviço de entregas. Criada em meio às dificuldades de uma pandemia por Liviane Cardoso e Gildésio Júnior, a marca comemora a média de 60 pedidos por dia. "Desde pequena eu gostava de cozinhar, aprendi a fazer cuscuz com minha mãe. O cuscuz é minha paixão, mas não só minha. Do nordeste inteiro! Ele é perfeito, é a sustância para um dia cheio e se encaixa em qualquer ocasião. Combina com tudo", diz Liviane.
Cuscuz em casa
Tradicionalmente, o cuscuz é feito numa panela que cozinha o flocão à vapor: a cuscuzeira. Pode ser preparado também sem o utensílio, mas utilizando panela, prato e pano de prato. Esse método carrega a ancestralidade e a resistência de grandes mulheres do sertão. Há, ainda, a possibilidade do cozimento no micro-ondas.
Modo de Preparo
- Misture 2 xícaras de farinha de milho flocada Flocão Dona Clara, 1 xícara (chá) de água e 1 colher (chá) rasa de sal
- Deixe descansar por 10 minutos
- Coloque a massa em uma cuscuzeira, sem apertar a superfície, e leve ao fogo baixo por 10 minutos
- Desenforme e sirva em seguida
Fonte: João Augusto Oliveira Júnior, coordenador industrial da Três Corações
Mais memória
Apaixonada por cuscuz, a economista Neuly Oliveira, 51, consome a iguaria todos os dias. Não pode faltar a farinha de milho flocada na casa da "especialista em cuscuz". "Mais do que um alimento para o corpo, o cuscuz é alimento para a alma. Junto dele, vem a memória afetiva dos meus avós", revela. Desde criança, o cuscuz integra os momentos íntimos de sua família, tanto materna quanto paterna. Ela lembra com carinho da feitura à beira do fogão e das histórias à mesa.
Do município de Quixeramobim, distante cerca de 184 km da Capital, ela foi criada com "cuscuz feito do milho, no pano e no fogão à lenha, o melhor". Aos 12 anos, já havia adquirido o hábito de seu pai, comer cuscuz regado ao leite toda noite. Quando veio a Fortaleza para estabelecer morada, seu pai ficou até preocupado. Quem faria o tão amado cuscuz? Tamanha é a história de amor que, quando casou, em 1980, Neuly recebeu um "mimo" de suas tias, um pote de cuscuz com leite. Não à toa, ela amou o presente.
Mais curiosidades
- Nosso cuscuz, que pode ser doce ou salgado, é originado de um prato do Magrebe, região do Noroeste da África
- Há outras versões diferentes do consumido no Nordeste, como o cuscuz paulista e o cuscuz marroquino
- Repleto de vitaminas do Complexo B, especialmente a colina, que proporciona melhora da memória, cognição, frequência cardíaca e atividade muscular
- Rico em selênio, importante mineral — dificílimo de encontrar nos alimentos — que auxilia na saúde vascular
- Tem poder antioxidante, ajudando na imunidade e redução de dores musculares
- Abundante em fibras que levam à saciedade e regulam o intestino
Fonte: Vanessa Carneiro, nutricionista
Quero pedir cuscuz!
Cuscuzeiros
Onde: rua Francisca Clotilde, 770, Rodolfo Teófilo
Instagram: @cuscuzeiros.ce
Entregas: via iFood ou retirada no local
Empório de Fátima Delicatessen
Onde: av. Deputado Oswaldo Studart, 250 - Fátima
Instagram: @emporiodefatima
*disponível para entregas
Chez Café
Onde: av. Viena Weyne, 330 - Cambeba
Instagram: @chez_cafe
Entregas: via iFood ou retirada no local
Noélia Doces e Salgados
Onde: Aldeota, Montese e Parque Manibura
Instagram: @noeliadocessalgados
Entregas: via iFood ou retirada no local
Cafeteria Kadosh
Onde: av. Washington Soares, 6180 - Cambeba
Instagram: @cafeteriakadosh
Entregas: via iFood ou retirada no local
Empório Café
Onde: Meireles e Messejana
Instagram: @emporio.cafe
Entregas: via iFood
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