Documentário dirigido por cineasta do Jangurussu celebra história de projeto social do bairro
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Documentário dirigido por cineasta do Jangurussu celebra história de projeto social do bairro
Produção realizada pelo fotógrafo e cineasta Leo Silva, curta-metragem "Uma História de Amor, Esperança e Fé" introduz história de projeto social do Conjunto Santa Filomena
Nos primeiros minutos de "Uma História de Amor, Esperança e Fé", o rapper Ronny Relato enuncia na narração uma ideia que reúne, em si, uma das principais intenções do curta dirigido pelo fotógrafo e realizador Leo Silva: "Tô buscando me conhecer. Tenho estado em cada canto desse lugar, cada beco, cada viela, cada rua", divide. O mergulho na própria história e na do lugar ao qual pertence é um dos nortes do filme, que introduz a história do projeto social Meninos de Deus. Com 12 anos de atuação na comunidade do Conjunto Santa Filomena, no Jangurussu, a iniciativa oferta, a partir de treinos de futebol para crianças e jovens do território, lições sobre coletividade, cultura de paz e transformação. O filme, fomentado com recursos da Lei Aldir Blanc via Secretaria da Cultura de Fortaleza, já está disponível no canal do YouTube do projeto.
Nascido e criado na comunidade do Santa Filomena, Leo explica que acompanha, desde a criação, o projeto idealizado pelo ex-jogador e morador do bairro Paulo Uchôa. "Por estar no local que resido desde que nasci e de eu ter visto o grupo nascer e as gerações passarem, o Meninos de Deus e a relação com eles se tornam muito importantes", considera o diretor.
A criação da iniciativa, em 2008, vem na esteira do que Leo define como "um processo delicado na comunidade", marcado por envolvimento de crianças e jovens com a violência. "O Paulo começou a pensar em um projeto social, entendeu que tinha um meio de frear essas violências", narra o diretor.
"Ele se reuniu com diversas lideranças da comunidade para pensar meios de puxar o diálogo. Paulo é uma referência de coletividade, da mudança de um local a partir de uma perspectiva. Como ele diz, o Meninos de Deus não é só futebol, é muito mais", define. O título do curta, "Uma História de Amor, Fé e Esperança", faz referência à frase norteadora do projeto.
Inicialmente distante, o acompanhamento de Leo começou a se estreitar a partir de 2018, quando, estimulado pela vontade de voltar o olhar à própria comunidade, decidiu fotografar treinos das crianças e jovens atendidos pelo projeto. Os laços se fortaleceram para além dos registros, desdobrando-se em trocas de vivências e, então, na inspiração de realizar um documentário sobre o grupo.
"Comecei a rascunhar a ideia e, toda vez que ia fotografar lá, fazia alguns takes pra ir guardando. As trocas foram me dando outro olhar sobre o grupo, vi que, caraca, tinha mais coisa ali. Você vai entendendo a importância pra comunidade", relata.
Mais recentemente, o diretor revisitou os arquivos de registros já feitos, como entrevistas com pessoas voluntárias, e foi procurando uma linha narrativa para dar vazão à obra. Ela veio na figura de Ronny, que trabalha como voluntário no grupo.
"Ele é uma das pessoas que mais entrevistei e, na edição, se tornou importante porque vai narrando o processo, dá a abertura para, a partir dos voluntários, introduzir a história da comunidade e dos Meninos de Deus", aponta.
É a partir da fala e do percurso de Ronny que "Uma História de Amor, Fé e Esperança" se desenrola, ouvindo também relatos de Paulo e de Valônia Cruz, voluntária e mãe de um dos atendidos pelo projeto. O filme traz ainda registros recentes das crianças nas ruas do Santa Filomena e imagens de arquivo da época de criação do grupo, cumprindo também um papel de resgate histórico da própria comunidade.
"Desde que comecei a fazer cursos de fotografia, audiovisual, todos os meus trabalhos têm sido voltados pra cá, que é o local onde estou e me sinto mais à vontade. Ter relação com minha comunidade, com as pessoas, meus vizinhos, amigos, se torna muito importante pra isso", avalia o diretor.
Leo destaca a parceria com o amigo Thiago Campos, também morador da região e com quem divide a operação de câmera da obra. "A gente tem várias ideias de filmes a partir da própria comunidade, construindo essas histórias a partir dos diálogos com as pessoas", afirma.
O olhar "de dentro" lançado a partir do filme para a comunidade do Santo Filomena, ressalta o diretor, tem diferentes níveis de relevância. "A narrativa de dentro pra fora se torna importante porque o pessoal vê outro olhar. Não é uma pessoa de fora que tá filmando, fotografando. É algo de dentro. É um processo super importante não só pra gente. Quando as pessoas veem o olhar de dentro, de uma pessoa que realmente entende aquele local, ele não é distorcido", defende.
Diretor divide planos de aprofundar a história dos Meninos de Deus em um longa-metragem
Em 16 minutos, o curta "Uma História de Amor, Esperança e Fé", nas palavras do diretor Leo Silva, "introduz" elementos históricos da comunidade do Santa Filomena, Jangurussu - onde ele nasceu, mora e se debruça para a produção fotográfica e audiovisual -, e do projeto social Meninos de Deus.
Após o lançamento do filme, a intenção é aprofundar a abordagem e produzir um documentário em longa-metragem sobre a iniciativa e o território. "A história dos Meninos de Deus é super longa. A gente entende que um curta não daria para detalhar melhor algumas questões ou até mesmo histórias de transformação, mudanças de vida", aponta o cineasta.
No momento, a concretização da vontade esbarra no cenário de pandemia, mas Leo divide que a perspectiva é ir trabalhando em frentes possíveis para conseguir lançar o longa em 2022. A previsão para este ano, antecipa, é conseguir adiantar não somente o roteiro, mas também "alguns corres para conseguir financiamento".
"Eu e o Thiago (Campos, operador de câmera do curta) já estamos roteirizando devagarzinho, sempre em diálogo com os próprios meninos, porque tem que ter esse respaldo, aprovação, deles do que a gente tá construindo em narrativa", explica. "Mas tudo depende do processo da pandemia. A gente tem os desejos, mas eles têm que estar atrelados ao isolamento social. Enquanto isso, a gente vai estudando, escrevendo, pensando e rascunhando", afirma.
O caminho buscado pela destrinchar no longa é justamente o de ressaltar histórias de transformação advindas do projeto. "Ele teve grande importância na vida social a partir de atividades, oficinas. São mudanças extraordinárias que poucas pessoas poderiam esperar. Pretendemos contar com mais detalhes, numa narrativa mais direcionada, essas histórias", divide.
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