Há um dito popular que afirma que as canções são capazes de afugentar os males, tudo aquilo que não é desejado. Estudos comprovam que escutar música clássica pode reduzir a ansiedade e aumentar a liberação de dopamina, substância química ligada ao prazer. Uma das principais referências nacionais no estilo é o maestro, compositor e pianista Mozart Brandão, que completaria 100 anos nesta quinta-feira, 13.
Nascido no Recife, em Pernambuco, Mozart - cujo nome foi inspirado no compositor austríaco - cresceu com referências artísticas. O pai, João Batista Brandão, era flautista e arranjador de banda militar. Aos quatro, ele já tinha conhecimentos musicais, aos doze compunha os primeiros melodramas para, finalmente, tocar profissionalmente com apenas quatorze anos. As primeiras apresentações aconteceram já em Fortaleza, através da criação de arranjos para festas escolares e clubes tradicionais da cidade.
Leia também | Mateus Fazeno Rock lança campanha de financiamento para segundo álbum
Ele começou trabalhando como pianista no Ceará Rádio Clube e anos depois foi contratado como regente e orquestrador. A vocação seguia paralelamente a graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Entretanto, as demandas musicais cresceram e o artista foi transferido na década de 50 para o Rio de Janeiro, onde foi aluno de grandes maestros, como Villa Lobos e Eleazar de Carvalho, e colaborou com Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e outros artistas renomados.
Leia também | Entre Brasil e Itália: série "Canto com Gosto" mescla música e gastronomia
As vivências em estúdio fazem parte da memória de um dos seus 18 filhos, o engenheiro e escritor Mozart Brandão Júnior. Para ele, a experiência do pai registrou uma maneira de criar música com racionalidade, sentimento e, acima de tudo, valorização do ofício. "Os trabalhos desenvolvidos por ele criaram raízes profundas, tanto que não se resumiu apenas ao Ceará. A música dele é um misto de popular com o clássico, uma visão que ele tinha", explica.
Para a professora adjunta do curso de Música da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Lu Basile, o trabalho do maestro incentivou a produção artística local. “Ele era inventivo e muito talentoso, especialmente em arranjo, em processar as novas demandas de uma sonoridade moderna que chegava com os discos e a influência da música dos filmes”, explica. Após passagem como regente e orquestrador em emissoras como TV Tupi e Rede Globo, onde colaborou ainda no ano de fundação, Mozart retornou definitivamente ao Ceará em 1983.
Leia também | Biografia, filme e curso reavivam mito de Belchior
Na capital cearense, o pianista somou diversas contribuições profissionais, recebeu títulos de destaque e até deu nome a uma rua localizada no bairro de Fátima. Até os 85 anos, idade em que faleceu por complicações de uma cirurgia cardíaca, continuou colaborando com a arte não apenas com a música clássica, mas também pelos sambas, frevos, marchinhas e maracatus. Mozart deixou como legado um repertório eclético, com trabalhos singulares e composições que, nas palavras do filho, “engrandecem a alma”.
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker.