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Festival reúne obras que discutem o conceito de "fracasso" e "sucesso"
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Festival reúne obras que discutem o conceito de "fracasso" e "sucesso"

Fracasso Festival - Cenas Para Celebrar a Recusa acontece entre hoje, 13, e domingo, 16, de forma gratuita e virtual. Evento surge a partir de reflexões sobre os conceitos de "sucesso" e "fracasso"
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Obra 'Souvenir', de Drica Czech, será exibida no sábado, 15, durante o Festival Fracasso (Foto: Lais Catalano Aranha/Divulgação)
Foto: Lais Catalano Aranha/Divulgação Obra 'Souvenir', de Drica Czech, será exibida no sábado, 15, durante o Festival Fracasso

Corra atrás do sucesso. Nunca pare. Fuja da derrota. Esforce-se sempre para obter o êxito. Evite ao máximo perder. Essas frases aparecem de diferentes maneiras na sociedade: perduram durante o período escolar, estão difundidas nas ideologias das empresas e fazem parte de toda a estrutura capitalista. Mas o que significa fracassar? Que criações surgem depois que a vitória não é alcançada? Essas perspectivas foram abordadas pelo escritor e pesquisador estadunidense Jack Halberstam no livro "A Arte do Fracasso", primeira obra do autor publicada no Brasil. E, das reflexões propostas pelo teórico, surge o "Fracasso Festival - Cenas Para Celebrar a Recusa", que ocorre de hoje, 13, a domingo, 16.

"Jack faz uma análise da obra que chama de 'baixa cultura', que os acadêmicos costumam olhar com certo desprezo. Ele disseca a ideia do fracasso, pensando também no conceito de sucesso, fora da lógica hegemônica, normativa e binária. Ele teoriza que os fracassos, dentro dessa perspectiva, são uma categoria queer", explica o ator e dramaturgo Ronaldo Serruya. Integrante do Grupo XIX de Teatro, o artista dirigiu um grupo de estudos acerca do livro de Halberstam.

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Esse núcleo de pesquisa foi dividido inicialmente em dois módulos. O primeiro contou com 40 participantes e teve a elaboração de narrativas biográficas por meio de uma pergunta principal: "a quem interessa as histórias de triunfo?". No segundo, houve uma seleção para que 16 pessoas pudessem continuar o processo de produção de seus conteúdos. "De alguma maneira, as histórias estão afirmando a ideia do fracasso como recusa. Recusam um certo silêncio para falar de coisas que normalmente deixamos de lado ou que não deveriam estar em cenas. Alguns têm relatos dos próprios autores, com histórias muito individuais", afirma.

Um dos exemplos dos contextos biográficos expostos é a obra do ator Vicente Concilio, que apresenta "Tábata Amputada" na quinta-feira, 13. A experimentação revela experiências de sua trajetória pessoal, traz elementos da cultura pop e conecta as situações com o cenário sociopolítico da época em que a narrativa ocorre. "Eu trago algo que foi um fracasso em minha vida, algo que era pra ser super simples, mas que acabou virando um transtorno. Eu tive muitos aprendizados a partir disso", conta.

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O artista revela que as condições em que a obra foi produzida se tornou um desafio. Com todos os processos à distância e feitos por meio da plataformas digitais, precisou aprender sobre diferentes linguagens e formatos de apresentação. "Quando imaginei originalmente meu texto, que é um stand up, eu estava olhando para as pessoas. Eu poderia ter interações com meu público e jogar com as reações da plateia. Então tive que compreender como isso pode acontecer no virtual", indica Vicente.

Arail Rezende apresenta 'Onde fica a casa do meu pai?' no Festival Fracasso
Foto: FOTOS: Divulgação
Arail Rezende apresenta 'Onde fica a casa do meu pai?' no Festival Fracasso

Ronaldo Serruya pontua a mesma dificuldade: "Muita pouca gente fala, mas esse teatro on-line que estamos sendo obrigados a fazer por causa da pandemia, ele não significa apenas o abandono do palco, mas também é um chamamento para lidarmos com os 'know-hows' que não tínhamos, que não dominávamos". Determinadas demandas que solicitou durante o grupo de estudos, por exemplo, ele mesmo não conhecia tão profundamente. "Logo nos primeiros meses da pandemia, eu lancei um curso. Então já tinha descoberto como construir presença nessa virtualidade. O desafio foi mais em como encontrar uma estrutura para aqueles encontros renderem", explica.

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Mesmo com as restrições e as possibilidades impostas pelas tecnologias, 16 projetos foram criados com temáticas e formatos distintos. Em todas as apresentações, os atores estarão presentes. Alguns aparecerão na tela, outros estarão apenas com a voz. Mas todos os conteúdos serão exibidos ao vivo. O festival conta com apoio técnico do Pandêmica - Coletivo Temporário de Criação, que surgiu durante o isolamento social rígido para conceder suporte às produções artísticas brasileiras.

Cada cena terá aproximadamente dez minutos. As experimentações narrativas serão divididas por dias, mas no domingo, 16, todas serão exibidas para o público. As experiências cênicas passam por diferentes linguagens, como podcast, desenho, videoarte e até mesmo o modelo mais "tradicional" dos canais do Youtube. As obras serão transmitidas na plataforma Zoom. Ingressos gratuitos podem ser adquiridos no site Sympla.

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Programação completa

Quinta-feira, 13
- "Era uma vez uma história", de Ego Sum Frank
- "BG", de Camilla Flores
- "Tábata Amputada", de Vicente Concílio
- "Habitaculus", de Rodrigo Eloi
- "Korpa Çantu", de Dai Ida
- "Madrugadaviva", de Heleno Rohn

Sexta-feira, 14
- "Era uma vez uma história", de Ego Sum Frank
- "A falsa ilusão de ser predadora", de Karla Ribeiro
- "Querido Papai Noel", de Larissa Alves
- "Fragmentos de uma mulher alicate", de Carol Narchi
- "Descendente", de Ricardo Withers
- "MHME - Manual homossexual de macumba empresarial", de Sydney Salvatori

Sábado, 15
- "Era uma vez uma história", de Ego Sum Frank
- "Baba gospel", de Marco Antonio Oliveira
- "Souvenir", de Drica Czech
- "Onde fica a casa do meu pai?", de Irail Rezende
- "Graças a deusa", de Natália Martins
- "7", de Ruda

Domingo, 16
- Todas as apresentações

Fracasso Festival

Quando: de hoje, 13, a sábado, 15, às 21 horas; domingo, 16, às 19 horas
Onde: no Zoom
Ingressos: reservas gratuitas na plataforma Sympla
Mais informações: Instagram @grupoxixdeteatro

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