A paisagem noturna de Fortaleza movimenta corpos, histórias e lembranças. Novos enredos continuam se arquitetando por meio das fronteiras entre as ruas da capital cearense. Estes cenários cotidianos ilustram os curtas-metragens "Boca de Loba" (2018), "Superdance" (2016) e "Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno" (2018), integrantes do "Sessão Circular", novo programa do Cinema do Dragão. O projeto irá reunir mensalmente, no canal no Youtube do equipamento cultural, curtas brasileiros apresentados em circuito de festivais e agrupados em sessões temáticas.
As características em comum das três obras nomearam a primeira sessão, intitulada "Corpos à Noite", já disponível na plataforma de vídeos até o dia 31 de maio. A seleção partiu de "Boca de Loba", filme de direção de Bárbara Cabeça. Os demais curtas à disposição seguem propostas similares e reverberam, cada qual a sua maneira, a diversidade de corpos e de configurações.
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Outro ponto em comum entre as obras são as articulações de produção, que se aproximam da experimentação cinematográfica. "São filmes muito conduzidos por um regime de imagens e de sons que vão tentar acessar a sensorialidade do público, isso se contrapõe a uma ideia de narrativa clássica. Eles dão visibilidade aos corpos negros e LGBTQIA na noite, quando uma outra lógica aparece na cidade", explica o curador Pedro Azevedo.
O projeto faz parte de um ato contínuo da instituição para engajar a comunidade de espectadores, no qual os idealizadores buscam manter o cinema com ações de formações, debates e, claro, exibições de filmes. "Sessão Circular surge no momento em que a gente vive uma segunda onda da pandemia, onde a gente quer repensar a ocupação virtual tendo a liberdade de propor programas com diferentes sentidos. A ideia é trazer curtas cearenses e brasileiros, que já tenham circulado em festivais e tenham uma carreira consolidada", adianta.
O contato com produções que já passaram por diversos eventos, conquistaram prêmios e alcançaram críticas consolidadas, oferece ao público a oportunidade de redescobrir os títulos. Assim, as obras ganham novas perspectivas e olhares. "A proposta é tentar articular algum diálogo possível entres filmes diferentes. A gente espera que esses filmes se abram para possíveis interpretações dos espectadores", acrescenta Pedro.
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Para Leon Reis, diretor de "Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno", os espaços para exibição de filmes servem para divulgação e compreensão da evolução dos processos de curadoria. Ele também atua como curador na Mostra Negritude Infinita e afirma que desde a finalização do título, em 2018, os movimentos de equipamentos culturais e os recursos dos auxílios emergenciais ajudam na descentralização das produções audiovisuais. "O que mudou é que tem uma crescente maior de produção, realização e pensamento, pode acreditar que tem ativamento de compartilhamento de filmes", diz.
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Com o "Sessão Circular", Leon pode, novamente, reproduzir uma criação que surgiu a partir de um sonho. No curta-metragem, o sopro em um cartucho feito em uma encruzilhada no Conjunto Beira Rio, em Fortaleza, abre um universo de múltiplas realidades. "Eu escrevi um roteiro para falar sobre as imagens de cunho racista, porque essas imagens eram utilizadas dentro da cadeira de ensino do Cinema de uma maneira não questionada. Também por querer falar de outras coisas sobre a herança do sistema escravocrata nas nossas relações sociais, como as instituições são criadas dentro do país", detalha Leon. A história nasceu em um ateliê de ficção do Vila das Artes e retorna ao Instituto Dragão do Mar, espaço onde foi realizada a primeira exibição.
"Sessão Circular" - Programa "Corpos à Noite"
Quando: até o dia 31 de maio
Onde: Youtube do Dragão do Mar
Gratuito
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