O Brasil é das rodas de samba, dos bailes sertanejos, dos forrós dançados a dois, dos surungos de chão batido. É terra do Carnaval, dos abraços fartos, das plateias cheias. Mas desde que a Covid-19 foi detectada pela primeira vez em território nacional, ainda em fevereiro de 2020, o setor cultural enfrenta os devastadores impactos da pandemia: com a proibição de aglomerações para conter o avanço da doença, shows foram cancelados e diversos artistas recorreram ao virtual na tentativa de sobrevivência financeira. Hoje, regiões como Estados Unidos, China, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Itália, França e Arábia Saudita avançam nos programas de vacinação populacional e muitas nações já ensaiam retomadas de atividades presenciais. Na contramão do mundo, o Brasil segue num colapso de saúde pública forjado pelo negacionismo.
Com cerca de 16 milhões de casos de coronavírus confirmados e apenas 19,41% da população vacinada até o fechamento desta matéria, o Brasil segue sem previsão de retomadas seguras de festas, shows e demais atividades culturais presenciais em grande escala. "No início, a gente ficou assustado com o fato de não poder fazer shows", relembra o cantor, compositor e apresentador carioca Diogo Nogueira. "Com as lives, a gente voltou a se conectar com o público e em sete lives conseguimos ter mais de 11 milhões de views, que são pessoas que estão em suas casas, arrastando o sofá para o lado e dançando e cantando junto comigo. Acho que estamos mais perto do que nunca de voltar aos palcos e ter um contato presencial com o público e isso vai ser muito bom. Estou com saudades do palco e de ver o público olho no olho", ressalta o artista.
"É inacreditável estarmos passando por essa situação, pois não se trata somente de uma pandemia, que por si só é algo da maior gravidade, mas a negação da ciência é algo inacreditável. Mas como sempre, o povo brasileiro é guerreiro e vamos superar essa situação", deseja Diogo Nogueira. No contexto de incertezas no País, o sambista segue um movimento adotado por diversos artistas brasileiros recentemente: iniciar shows e turnês no exterior, onde o avanço na vacinação já permite encontros presenciais com maior segurança. "No exterior, mantenho uma frequência boa de shows e já estamos montando uma turnê nos Estados Unidos que acontecerá no final do ano e em abril de 2022. Estou louco para reencontrar com o meu público, no Brasil e no exterior", complementa o carioca.
Gusttavo Lima, Israel & Rodolffo e Rodrigo Amarante são alguns dos artistas com turnês internacionais planejadas. Entre os nomes que se destacam no mercado fonográfico internacional, o cearense Matheus Lima já tem shows agendados para novembro e dezembro em Boston, Framingham, Nashua, Orlando e Miami, nos Estados Unidos. A jovem revelação do forró e do sertanejo deve ainda cantar em uma festa de Réveillon particular em Honolulu, no Havaí. "Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei fazer uma turnê internacional em tão pouco tempo de carreira. Com certeza esse é um dos passos mais importantes da minha trajetória como cantor. Conquistar o público fora do Brasil serve de termômetro para a gente conseguir medir a força do nosso trabalho", pontua Matheus.
Essa turnê nos Estados Unidos foi muito bem estudada e bem planejada pelo meu empresário, que conhece bem o mercado americano", explica Matheus Lima. "Tudo foi pensado com bastante cuidado devido à pandemia. As datas foram fechadas quando vimos que realmente os Estados Unidos estavam prontos para receber eventos com segurança. O povo brasileiro é caloroso demais em qualquer parte do mundo, então minha expectativa é receber muito carinho e retribuir também todo o afeto", adianta o cantor.
O empresário de Matheus Lima é o cearense Tony Linard, que aposta no mercado norte-americano para a volta de cantores brasileiros aos palcos. Natural de Juazeiro do Norte, Linard é formado em Administração, tem mestrado em Relações Internacionais e vive há sete anos em Boston, nos Estados Unidos. Empresário do ramo da construção civil, o cearense "com alma de artista"— como se define — é criador da Linard Music Entertainment. "A agenda dos norte-americanos ainda está um pouquinho inibida, porém a gente já tem grandes shows confirmados no país. Nova York aprovou um teste rápido de Covid para eventos. Acredito que Nova York, Miami e Las Vegas serão as primeiras cidades com eventos maiores, porque a vacinação aqui está muito avançada. Logo voltaremos a não usar máscaras, não precisar de testes para eventos", explica.
"Já foram liberados vistos para bandas que vêm aos Estados Unidos a trabalho. Em relação às aglomerações, nós temos um povo dividido: tem muita gente que não acredita no poder da vacina ainda, mas não acredito que isso vai atrapalhar a agenda de eventos até mesmo porque os jovens — que são os mais interessados nesses shows — estão se vacinando", continua Linard. "A probabilidade de ter ganhos nos EUA vindo do Brasil existe sim, até mesmo porque a nossa moeda é muito forte. Porém, neste momento, todas as propostas que tenho feito para bandas é que pensem numa divulgação, numa oportunidade de fazer um trabalho internacional. Acredito que ainda será um público inibido, que vai levar um tempo pra voltar. Mas acho que a partir do ano que vem as coisas serão bem melhores em relação ao público. Nós estamos muito otimistas, quero abrir para o maior números de pessoas possíveis", finaliza.