O mês de maio apresenta datas especiais para a celebração da cultura pop e das produções que preenchem o dito universo nerd. Livros, séries, histórias em quadrinhos, filmes, games… De fato, são muitos os trabalhos que fazem parte desse meio tão diverso que reúne tantos fãs no mundo todo. Em 4 de maio foi o Dia de Star Wars. Nesta terça-feira, 25, é a vez de se comemorar o Dia do Orgulho Nerd.
Esse dia acabou sendo o escolhido para isso por alguns motivos: há a versão de que é devido à data de estreia de "Uma Nova Esperança", primeiro filme da saga Star Wars; e existe também o lado de que esse dia foi selecionado para representar o Dia da Toalha, referente ao universo literário criado por Douglas Adams na série O Guia do Mochileiro das Galáxias. A toalha é considerada um item de sobrevivência dos mochileiros espaciais nessa obra que entrelaça ficção científica com humor e se tornou um marco cultural. A data também é homenagem ao autor, que faleceu em 11 de maio de 2001.
De uma forma ou de outra, o fato é que a cultura nerd cada vez mais se ramifica e se consolida como importante engrenagem social. Assim, o Vida&Arte reuniu indicações de obras desse universo para quem deseja conhecê-lo - ou celebrá-lo - e também depoimentos sobre o que significa "ser nerd" atualmente.
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IMERSÕES CINEMATOGRÁFICAS E TELEVISIVAS
A cultura nerd tem sido cada vez mais relacionada à cultura pop, e produções cinematográficas e televisivas como “Vingadores”, “Game Of Thrones” e “Star Wars” tiveram grande importância nesse universo, como aponta Victor Morais, um dos fundadores do portal CosmoNerd. Com tantas obras, restringir a gama de seleção “é difícil”, mas ele complementa com as indicações de “Harry Potter” e “Indiana Jones”.
“São produções que marcaram época, ditaram tendências e/ou com seu pioneirismo habitam o imaginário dos fãs de cultura pop constantemente”, lembra Victor. Atualmente, ele vê que a série “The Mandalorian”, da plataforma Disney+, se destaca e traz, ao mesmo tempo, “algo novo e nostálgico” sobre a franquia “Star Wars”. Obras brasileiras como “Bacurau”, “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus” também não ficam de fora.
Victor se considera nerd desde os seus 10 anos de idade, com a leitura de quadrinhos da Marvel e da DC e também ao jogar RPG (Role Playing Game) com seus amigos. Hoje, sua relação com essa cultura é ainda mais intensa, pois, por ser um dos fundadores do CosmoNerd, busca sempre se atualizar sobre as produções mais recentes e criar conteúdo para a comunidade de “aficionados pelas obras que permeiam a cultura pop”.
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Sobre a visão de “ser nerd”, ele comenta: “Para mim, ser nerd é ficar todo arrepiado com um trailer, criar mil teorias sobre aquela obra e ficar feliz por ter acertado (ou com raiva porque errou). Ser nerd é um mix de emoções, mas, principalmente, é ser um apaixonado”.
Onde encontrar: Netflix, Amazon Prime Video, Disney+, HBO Go, Telecine Play
LIVROS TAMBÉM MARCAM PRESENÇA
A literatura também traz obras muito importantes para a cultura nerd. A visão sobre essa cultura, aliás, para a escritora e integrante do portal Cosmonerd Kamile Girão, ganhou outros horizontes com o passar do tempo devido ao seu impacto: "Eu diria que não temos mais uma cultura nerd necessariamente, porque esta já se expandiu a um ponto que virou uma cultura pop. Falo isso porque o consumo dos produtos que seriam direcionados para esse público específico já não se restringem mais a um nicho só, tamanho o seu impacto cultural".
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Nesse sentido, a escritora indica os livros O Senhor dos Anéis (J. R. R. Tolkien), Duna (Frank Herbert), As Crônicas Vampirescas (Anne Rice), O Mochileiro das Galáxias (Douglas Adams) e A Guerra dos Tronos (George R. R. Martin). Para Kamile, esses trabalhos "pavimentaram caminhos" para produções tanto dos seus gêneros, como ficção científica, fantasia e terror, quanto de outras linguagens artísticas, como "obras cinematográficas e televisivas".
E não só de autores estrangeiros é composta a estante de Kamile. Ela, por sinal, consome bastante literatura feita por brasileiros, com destaque para livros escritos por mulheres, como os de Cecília Reis e Ana Lúcia Merege. Quanto a escritores masculinos, destaca André Vianco e Eduardo Spohr com influências muito importantes para o universo nerd no Brasil.
Como Kamile Girão diz, esse é um "universo muito próximo" a ela. As influências da cultura nerd - ou pop - a acompanham desde sua infância. Além da literatura, ela consome muitas animações japonesas e mangás.
Onde encontrar: livros disponíveis em sites como Amazon, Magazine Luiza e Submarino
ANIMES E MANGÁS EM DESTAQUE
Falar de cultura nerd abre espaço para falar sobre também animações e quadrinhos japoneses, os famosos animes e mangás, respectivamente. Fã, a jornalista e integrante do Molho Shoujo Podcast Amanda Fontenele lembra da influência dessas obras na cultura nerd até hoje. "Akira", por exemplo, tem grande responsabilidade, diz Amanda, na popularização da animação japonesa no Brasil. A jornalista destaca também "Neon Genesis Evangelion" e "Sakura Card Captors", que marcou a infância de muitas crianças nos anos 2000.
A lista é completada por "Sailor Moon", que "mostrou, já nos anos 90, que feminilidade não é sinônimo de fraqueza", e "Berserk", influência para franquias como "Final Fantasy" e "Dark Souls". Seu ator, Kentaro Miura, faleceu no último dia 20, deixando "um legado imensurável para os quadrinhos e para a fantasia sombria". Para Amanda, mangás e animes "fascinam tanto" porque, além de "boas tramas e discussões", as obras comunicam imageticamente suas narrativas de uma forma diferente da encontrada no Ocidente.
Não à toa Amanda levou o universo dos mangás para sua pesquisa de mestrado. Sobre a titulação de "ser nerd", ela comenta: "Para mim, ser nerd é olhar para o passado e o futuro através dessas histórias que tanto amamos e, a partir delas, traçar reflexões sobre a nossa realidade. Eu acredito muito no potencial de comunicação dessas obras, sobretudo dos quadrinhos".
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Para aqueles que desejam desbravar também o universo de produções de autoria nacional, a integrante do Molho Shoujo Podcast recomenda "Shoujo Bomb", coletânea de mangás shoujo (histórias para o público feminino) feita por brasileiros. "Outra coletânea que eu gosto bastante é a Boys Love, cujo título faz referência a uma demografia muito popular nos mangás (histórias que abordam relacionamentos entre homens). E estou bem curiosa para ler Shamisen - Canções do Mundo Flutuante, do Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa", acrescenta.
Onde encontrar: para animes, plataformas como Crunchyroll, Netflix e Looke; para mangás, sites como Amazon, Panini e Pipoca&Nanquim
O MUNDO DOS GAMES
Foi ainda criança que Davi Rocha, produtor de conteúdo e host dos podcasts A Semana em Jogo e Vale a Pena Jogar, ganhou seu primeiro videogame. Desde então, nunca mais parou de “associar o ato de jogar videogame a momentos agradáveis” de sua vida. Com a internet, aliás, essa relação se intensificou, e o que antes era hobby se transformou em trabalho.
Davi indica como pilares na cultura nerd títulos clássicos da Nintendo, da Sega e da Sony, entre eles “Super Mario World”, o primeiro “The Legend of Zelda”, “Sonic: The Hedgehog”, o primeiro “Winning Eleven” - “para os amantes antigos do futebol virtual” - e a franquia “Final Fantasy”, considerado “um clássico dos RPGs tanto em consoles da Nintendo quanto da Sony”.
Ele lembra do início da indústria dos games, que começou “muito pequena e cheia de incertezas”. Para o produtor de conteúdo, as produções acima “representam marcos evolutivos e de consolidação importantes” por terem marcado gerações e “aproximado um pouco mais os jogos eletrônicos do mainstream”.
Sobre lançamentos recentes, Davi destaca: “A gente vive hoje um momento evolutivo fascinante do meio gamer e que não considera apenas enredo, qualidade gráfica ou jogabilidade. ‘Fortnite’ é, para mim, um marco por ter revolucionado o aspecto social e cultural dos jogos, elevando a mídia a patamares nunca antes alcançados. Toda uma geração com certeza irá olhar com nostalgia e reverência para Fortnite como a minha olha e reverencia Super Mario, Pokémon ou Zelda”.
O mercado de jogos no Brasil, para Davi, se desenvolveu diante de uma relação “muito próxima com a pirataria” devido a um cenário “que continua até hoje muito inacessível para a maior parte da sua base de consumidores”. Assim, ele destaca a produção do “Bomba Patch”, franquia de jogos de futebol originada a partir da modificação da série Pro Evolution Soccer (PES).
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O produtor de conteúdo ressalta sua relação com a cultura nerd e aponta as características que acredita que permeiam esse universo: “Ser nerd, para mim, é ter uma paixão profunda e sincera por um assunto, seja ele games, tecnologia, carros, tênis e por aí vai. Sou um nerd de games com orgulho e amo poder fazer parte e contribuir com essa comunidade sempre que posso!”
A VEZ DOS QUADRINHOS
A paixão pelo mundo dos quadrinhos “e tudo que é derivado deles” acompanha o jornalista, ilustrador e quadrinista Fernando Lima desde muito jovem. Ele trabalha com a mídia desde 1986 e integrou a primeira versão da oficina de quadrinhos da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Com seu conhecimento sobre esse universo, elenca como trabalhos pilares na cultura nerd quadrinhos como “O Cavaleiro das Trevas” (Frank Miller), “Watchmen” (Allan Moore), “Sandman” (Neil Gaiman), “Maus” (Art Spiegelman) e “Spirit” (Will Eisner). “Todos eles são marcantes porque mudaram paradigmas e estabeleceram novos conceitos dentro do universo dos quadrinhos”, pontua Fernando.
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Assim, ele aponta que muitas HQs atuais são “fortemente influenciadas” por essas obras, e sugere leituras de quadrinhos como “Saga” (Brian K. Vaughan e Fiona Staples) e “Black Science'' (Rick Remender). Em produções brasileiras, o ilustrador indica “Luzia” (Zé Wellington e Débora Santos), “Amoras” (Emicida e Aldo Fabrini) E “Manual do Minotauro” (Laerte).
Se ele se considera um nerd? Bem, depende da lupa utilizada para avaliar essa questão. Fernando lembra de como o termo era usado como estereótipo para se referir a “indivíduos com pouca habilidade social e grande fixação pelo estudo e por aspectos culturais menos relevantes”. Atualmente, porém, isso é abordado de outra forma:
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“Hoje em dia nerd se refere, comumente, a qualquer um que demonstre interesse acima da média por aspectos diversos da cultura pop. Seguindo essa ideia, posso dizer que, sim. Sou um nerd dos quadrinhos. Um estudioso constante e um ávido consumidor dessa forma de produção cultural”.
Sob essa perspectiva, o jornalista e editor do Vida&Arte Marcos Sampaio pondera sobre sua relação com o segmento. A leitura de quadrinhos foi mais intensa em sua vida quando mais jovem, e atualmente não possui o mesmo tempo para ler que tinha antes. Seu gosto por esse universo, entretanto, não sumiu.
Marcos destaca sua relação com os quadrinhos de super-heróis, principalmente as histórias produzidas pela Marvel Comics. Em especial, ele menciona a “Trilogia do Infinito”, saga com os quadrinhos “Desafio Infinito”, “Guerra Infinita” e “Cruzada Infinita”.
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“Eles têm uma série de questionamentos que passam por democracia, por ser ‘bom’ e por ser ‘mau’ que são muito interessantes. Então, esses três quadrinhos, para mim, foram fundamentais. Eu não sei se eles são os melhores nem os mais importantes, mas acho que, para mim, foram muito importantes”, comenta.
Onde encontrar: Amazon e Panini
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