Com muitas festas, forró, quadrilha, bandeirinhas pelas ruas, comida e vestuário típicos, o São João alegrava o mês de junho. No entanto, pelo segundo ano consecutivo a data não poderá ser celebrada, devido a pandemia da Covid-19. Com isso, profissionais que lucravam com a época e a população que se divertia com os eventos precisam lidar com o impacto econômico e cultural que a ausência da festa junina causa.
Representando a diretoria da Federação de Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce), Anderson Assunção conta os desafios enfrentados pela falta dos festejos e os planos para o futuro. A Fequajuce tem cerca de 200 quadrilhas juninas filiadas em todo o Estado e é responsável por 150 eventos. Por temporada, os festejos juninos geram 8 mil postos de trabalho e R$130 milhões no Estado.
O POVO - Após dois anos sem São João, como isso tem impactado economicamente as quadrilhas juninas e outros profissionais que lucravam nessa época do ano?
Anderson Assunção - Realmente tem sido muito difícil, porque são muitos profissionais ligados à cultura junina, tanto quem trabalha com as quadrilhas juninas, como chapeleiro, sapateiro, costureira, aderecista, como as pessoas que promovem os eventos, os barraqueiros, pessoal de estrutura, entre outros. Sem as festividades essas pessoas ficaram sem renda e a situação ficou difícil. Os artistas tentaram se reinventar em outras atividades para tentar sobreviver.
O POVO - Além do impacto econômico, como a ausência dessa festa impacta a cultura?
Anderson Assunção - O impacto cultural é absurdo. A preocupação é muito grande. São dois anos de pandemia, dois anos sem nossas festividades juninas, e essas atividades são desenvolvidas principalmente nas regiões periféricas e os brincantes acabam se afastando nesse período em que as atividades estão paradas.
O POVO - Que tipo de apoio tem sido ofertado a essas pessoas que perderam o São João e também um meio de trabalho?
Anderson Assunção - Há algumas políticas públicas de auxílio emergencial para os profissionais da cultura. Como o nome já diz, são auxílios emergenciais, então cobrem só o básico do básico, e às vezes nem isso.
O POVO - Você tem expectativas para que no próximo ano as festas voltem a acontecer?
Anderson Assunção - Nós temos essa esperança e expectativa de que as festas voltem. Nós acreditamos que o retorno será difícil, por conta da questão financeira e do afastamento dos brincantes durante a pandemia. As pessoas acabam criando outros vínculos e iniciando outros projetos e nós temos receio de que não voltem. Porém nós também acreditamos que o próximo São João será muito massa, porque as pessoas estão há dois anos com isso entalado, de muito amor pelo São João, afinal, eles fazem isso por amor, e aí eles estarão com todo esse sentimento preso para soltar no próximo ano.
O POVO - Há alguma programação online para celebrar o São João em 2021?
Anderson Assunção - Pensando nas dificuldades que podem surgir no retorno às atividades presenciais, nós pensamos numa ação que pudesse envolver todos os agentes do movimento junino. Uma das ações é um circuito regional de destaques de casais juninos, que vai ter desfecho em um campeonato cearense que vai reunir todos os vencedores desses concursos regionais em uma final no mês de julho, onde os vencedores irão representar o Ceará nos concursos nacionais. Também estamos organizando outros concursos, como infantil, premiação para as melhores atuações de 2019, uma programação de oficinas nas redes sociais, encontros setoriais do teatro, dança, música, e a gente vai tentar movimentar o máximo de pessoas possível para manter as pessoas ligadas a nossa cultura e ter uma redução desse prejuízo cultural que pode ter no retorno aos festejos.