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Rap brasileiro: Edgar mergulha nas referências de Ultraleve, seu novo disco
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Rap brasileiro: Edgar mergulha nas referências de Ultraleve, seu novo disco

Edgar lança "Ultraleve", o álbum conta com a produção de Pupillo e participações de Kunumi MC e Elisapie
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Capa do disco Ultraleve, do Edgar  (Foto: GOTAA/Divulgação)
Foto: GOTAA/Divulgação Capa do disco Ultraleve, do Edgar

Disco recém-lançado pelo rapper paulista Edgar, “Ultraleve” desfia, ao longo de nove músicas, recorrentes referências ao mundo virtual. “Cuidado para não perder seu software” e “Feche os windows e as portas” são exemplos de versos que linkam tecnologia aos demais temas presentes na obra. Seria, então, a poética do artista de 27 anos cria direta de uma vida ultraconectada? “Nada disso! Consegui pagar minha internetzinha só em 2020. Passei muito tempo na rua. Morei em situação de rua em três estados: São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais. É mesmo um processo de arrancar leite de pedra”, conta o músico. A obra chega às plataformas digitais com assinatura da gravadora Deck e do selo Natura Musical.

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Após ganhar projeção em 2018 ao dividir os vocais com Elza Soares na faixa “Exu nas Escolas”, o artista dá mais um passo na carreira com o novo álbum, que repete a parceria com o produtor Pupillo Oliveira depois do debut 'Ultrassom' (2018). “‘Ultravele’ é um desabafo para não desabar. Vou revisitando anotações, misturando textos antigos. O processo vai na sua velocidade natural, não tenho muito controle. Parece um download. Aí eu faço um processo de lapidação da mensagem que chega”, reflete o músico, que afirma buscar sempre “olhar para um local que as pessoas não estão olhando”.

Além das letras atravessadas pela vivência nas ruas, o artista traz para o álbum o elemento urbano por meio da sonoridade de materiais recicláveis. Objetos encontrados nas ruas de São Paulo por Edgar foram transformados em instrumentos e amplificados, adicionando efeitos as produções de Pupillo. A obra tem as participações Kunumi MC rima em guarani na faixa "Que A Natureza Nos Conduza", e a cantora canadense Elisapie, uma artista e ativista inuite, participa em "A Procissão dos Clones" cantando em seu idioma nativo.

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“Toda pedra é um HD que eu não consigo acessar”, canta o artista, adepto a pedras como objetos para recarregar (“deixo uma pedra debaixo do meu travesseiro, tenho pedras que têm essa função de limpeza”). “Se for pensar os cartões de memória tem lithium, silício, que vem do mineral. É tão tecnológico que é primitivo”, reflete, entre cianita preta e quartzo rosa. Essa relação primitivo-tecnológica também tem lados difíceis. “A internet também chega em forma de gatilho, de paranoia. Gera muita ansiedade, pressa. Um Iphone, por exemplo, tem uma obsolescência programada. Quando chega para as pessoas já está velho. As pessoas se transformam refém do consumo”, contrapõe, em fala que faz eco ao trecho da música “Saia da Máquina” que versa: “Somos todos hologramas, toneladas de mensagem”.

Outra marca constante nas letras de Edgar é o uso da ironia, recurso que também está presente na sonoridade dançante em músicas com discurso político. “Uma mão no joelho e outra na consciência?”, se diverte o compositor. “Acredito que a ironia é uma puta arma. Ela é provocativa, puxa a atenção”, reflete.

Mesmo que jogue com as palavras com muita subjetividade, Edgar olhar de frente para problemas reais do País, como violência urbana e descaso com o meio ambiente. “Eu me sinto com esse papel quase jornalístico, de olhar para o problema de modo crítico. Isso vem muito das minhas paradas pelo País. Cada estado é um outro Brasil dentro dele”, aponta, destacando que esse olhar parte muito da observação. “Sou leigo, não sou um acadêmico”, aponta.

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Sobre o olhar ambiental, muito presente em toda a obra, Edgar questiona o desconhecimento sobre nossa flora. “A gente nem desbravou as propriedades das plantas, mas já está desmatando tudo. Enquanto isso, as farmácias lotadas. Tudo artificial e industrializado, mas muita coisa derivada da natureza. São rachaduras do jeito que é passada a informação que vai deixando a gente pobre, burro e dependente da empresa que está desmatando para sintetizar a natureza em comprimidos”, critica;

Apesar dos tons de crítica, “Ultraleve” também tem espaço para a esperança. “Você e eu estamos cada dia melhor”, entoa o artistas repetidas vezes em "O último peixe do mundo". Ironia? Dessa vez não. “Eu trato como um baita mantra. Quando eu fiz esse refrão, pensei nesse lugar da fé. Uma injeção de esperança”, conta.

Capa do disco Ultraleve, do Edgar
Capa do disco Ultraleve, do Edgar

Ultraleve, de Edgar

9 faixas
Deck/Natura Musical
Produção dePupillo
Participações de Kunumi MC e Elisapie

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