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Mostra de Cinema de Ouro Preto reúne mais de 100 filmes em programação gratuita
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Mostra de Cinema de Ouro Preto reúne mais de 100 filmes em programação gratuita

Mostra de Cinema de Ouro Preto acontece até próxima segunda-feira. Evento reúne debates entre profissionais do audiovisual, apresentações musicais e exibição de mais de 100 filmes
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Chico Diaz é o 
homenageado da Mostra OP (Foto: LEO LARA/UNIVERSO PRODUÇÃO)
Foto: LEO LARA/UNIVERSO PRODUÇÃO Chico Diaz é o homenageado da Mostra OP

Por que o cinema brasileiro tem que existir? Esse questionamento percorreu a maioria das produções nacionais da década de 1990. Apesar de ser uma reflexão presente nos dias atuais e em períodos anteriores, ganhou força na época por causa da situação política do País. Pela primeira vez em mais de 20 anos, um presidente eleito democraticamente assumia o poder. Mas a visão neoliberal de Fernando Collor de Mello quase estagnou os conteúdos audiovisuais produzidos no Brasil. Ao extinguir a Embrafilme, que fomentava a produção e a distribuição de filmes nacionais durante a ditadura militar, o mercado cinematográfico ficou sem investimento financeiro. Os cineastas, naquele momento, tinham liberdade de expressão para elaborar suas obras, mas faltava dinheiro.

Essa situação volta à discussão na 16ª CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto, que acontece gratuitamente e em formato virtual até 28 de junho. Com debates entre profissionais, apresentações musicais e exibição de mais de 100 filmes, o evento ocorre sob a temática "Memórias entre diferentes tempos". "A década de 1990 parece muito próxima, mas, ao mesmo tempo, está suficientemente distante para pensarmos um pouco sobre a trajetória do audiovisual a partir de vários pontos de vistas, como as formas, os temas e as políticas públicas. Podemos pensar, paralelamente a isso, sobre a trajetória desse Brasil pós-regime militar", explica o curador Cleber Eduardo.

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Após os três primeiros anos de 1990, várias obras passaram a ser lançadas na tentativa de recuperar a relação entre o setor e o governo. "Consequentemente, houve o aumento da produção dos filmes, uma maior circulação por festivais internacionais e uma maior projeção internacional. Progressivamente, teve um aumento no número de filmes com destaque para o público", comenta. Uma dessas narrativas que foram elaboradas na época é "Corisco e Dadá" (1996), do cearense Rosemberg Cariry. Com grande repercussão fora do Brasil, a história explora a vida da cangaceira Dadá.

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A mulher foi raptada e estuprada pelo cangaceiro Corisco quando ainda era uma criança. "'Corisco e Dadá' é sobre esse casal célebre e trágico do Nordeste das décadas de 1930 e 1940. No filme, o cangaço é mostrado com uma ótica feminina, através do olhar de Dadá, desde quando era criança e foi raptada pelo Corisco. Depois tem a Dadá que precisa se adaptar ao bando de cangaceiros, ao mundo masculino, machista e perverso. E depois, Dadá já mulher", indica o cineasta.

O filme, que surgiu depois de uma entrevista com a personagem principal, tinha poucos recursos para as filmagens devido ao cenário econômico do setor audiovisual no período. Mesmo assim, a equipe passou por vários lugares do interior nordestino. "Esse filme foi muito importante para o Ceará porque marca o esforço de uma geração que conseguiu fazer cinema naquele momento. Ele circulou em grandes festivais nacionais e internacionais, conquistando prêmios. Mostrou que era possível e que podíamos ultrapassar as fronteiras regionais e nos encheu de ânimo e de vontade de fazer cinema", recorda Cariry.

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Entre as várias discussões que ocorrerão no CineOP, o evento também traça um paralelo com os dias atuais. Em um momento que o mercado enfrenta a estagnação provocada pela pandemia do coronavírus e a redução orçamentária do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) da Agência Nacional do Cinema (Ancine), questiona-se o lugar que o cinema brasileiro ocupa nestes últimos anos. "Acredito que alguma coisa de lá ecoa hoje. No país que vivemos atualmente, podemos, talvez, considerar que há um 'sinal trocado'. Naquela época, saímos de um regime militar para um regime civil, que estava vivendo, de largada, seus limites e contradições. Neste momento, estávamos em um regime civil consolidado e, agora, vivemos um regime que não é militar, mas é militarizado. Então a natureza da instabilidade é diferente", avalia Cleber Eduardo.

Em referência à década de 1990, o homenageado da mostra será o ator Chico Diaz, responsável por interpretar papéis importantes entre 1980 e o início dos anos 2000. Esteve em "A Cor do Seu Destino" (1986), "Corisco e Dadá" (1996), "Os Matadores" (1997) e "Amarelo Manga" (2002). Participou, portanto, de vários cenários do mercado audiovisual, como a presença do apoio da Embrafilme, a extinção do órgão, a retomada do cinema e segue até os dias atuais.

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Apesar da referência à época, o evento ainda traz outras mostras, como a "Mostra Contemporânea". Os curtas, médias e longas selecionados nesta categoria também dialogam com a memória. "Era uma espécie de critério que os filmes lidassem, de alguma forma, com a memória. Não necessariamente que fossem filmes ambientados no passado, mas que o diálogo com a história se desse como produção da memória do presente", indica Cleber.

Um desses títulos selecionados é o do filho de Rosemberg, o Petrus Cariry. No curta-metragem "Foi Um Tempo de Poesia", ele mostra sua relação com o padrinho e poeta Patativa do Assaré (1909 - 2002) a partir de uma narrativa em primeira pessoa. Os registros do repentista cearense foram feitos pelo próprio pai do diretor. "Patativa do Assaré é um amigo que tenho desde a infância. Digo que tenho porque, mesmo ele tendo morrido, continuo com a mesma admiração e sempre sinto a marcante presença dele na nossa cultura e na nossa literatura. Então o Petrus aproveitou esses registros filmados em Super-8 e fez um pequeno filme sobre sua própria memória com seu padrinho", comenta Rosemberg.

Mostras

Mostra Homenagem

"A Cor do Seu Destino",
de Jorge Durán

"Amarelo Manga",
de Cláudio Assis

"Corisco & Dadá", de Rosemberg Cariry

"O Ano da morte
de Ricardo Reis",
de João Botelho

"Os Matadores",
de Beto Brant

"Praça Saens Peña",
de Vinícius Reis

"Cachaça",
de Adelina Pontual

"De Sentinela",
de Katia Maciel

"Quem Você Mais Deseja", de André Sturm e Silvia Rocha Campos

"Girassol Vermelho",
de Éder Santos

Mostra Histórica

"A Negação do Brasil",
de Joel Zito Araújo

"Amélia",
de Ana Carolina

"Baile Perfumado",
de Lírio Ferreira
e Paulo Caldas

"Brava Gente Brasileira",
de Lúcia Murat

"Carla Joaquina -
Princesa do Brasil",
de Carla Camurati

"Carmen Miranda:
Banana Is My Business",
de Helena Solberg

"Lamarca",
de Sergio Rezende

"O Mandarim",
de Júlio Bressane

"Tudo é Brasil",
de Rogério Sganzerla

"Yndio do Brasil",
de Sylvio Back

*veja mais mostras no OP

16ª CineOP

Quando: até terça-feira, 28 de junho

Onde: no site da CineOP

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