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Cearense ganha destaque na internet com rimas geek
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Cearense ganha destaque na internet com rimas geek

O cearense Sandro Júnior, mais conhecido como "VMZ" em seu canal do Youtube, faz rimas voltadas ao universo geek
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VMZ é um artista cearense que ganha repercussão na internet com o rap geek (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação VMZ é um artista cearense que ganha repercussão na internet com o rap geek

"Se eu me lembrar/ Cada vez que você pediu pra eu ficar/ Eu neguei mas nada impede de tentar/ Ilusão te imagina e você não tá/ Nós seguimos juntos, separados por isso/ Nada é perfeito e esse meu sacrifício/ As palavras que eu nunca teria dito/ Então julgue-me, isso nunca foi difícil". A música "Your Name", criada pelo rapper cearense VMZ, conta a história de um casal que, por causa da distância, não consegue ficar junto.

Eles estão unidos de uma forma que nem sequer entendem e tentam se relacionar a partir disso. A letra continua: "A nossa dimensão é a do coração/ Te apresentei meu universo e você gostou/ É que o destino e a distância separou/ Mas dessa vez o multiverso nos juntou".

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Quem é familiar com as produções japonesas talvez já tenha percebido a referência. A canção, publicada no canal do Youtube do artista, é inspirada no anime homônimo dirigido por Makoto Shinkai.

 

Na narrativa, Mitsuha Miyamizu é uma jovem que mora no interior do Japão e sonha em viver em Tóquio. Em paralelo, Taki Tachibana trabalha em um restaurante na capital, mas deseja se tornar um arquiteto. Eles não se conhecem, porém, começam a se conectar pelos sonhos.

Assim como "Your Name", a maioria das obras do VMZ surge de conteúdos do universo nerd. Há, por exemplo, letras baseadas em "Naruto", "Dragon Ball Z", "Pokémon" e "Death Note". Os games, os super-heróis e os mangás também fazem parte deste microscosmo, como "Among Us", "Venom" e "One Piece". Isso acontece porque o artista, que tem como nome verdadeiro Sandro Júnior, é um rapper geek.

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Com mais de 1,4 milhão de inscritos em seu canal no Youtube, ele é um dos vários brasileiros que integram este subgênero do rap. "Eu comecei a fazer vídeos em 2014, mais com a vontade de produzir conteúdo aleatoriamente e sem compromisso. Pausei o canal até 2016, quando comecei a fazer música", diz VMZ.

Ele se inspirou em outros youtubers que faziam o mesmo. Mas o jovem, hoje com 20 anos, morador do Maracanaú, não tinha experiência com a música naquela época. Há cinco anos, era apenas um consumidor. Tinha referências do hip hop e das canções gospel.

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"Tudo começou de uma forma muito louca. Eu fazia música no meu quarto, me gravando e editando para lançar no Youtube. Foi confortável porque não me expus muito, eu só pegava o produto final e não colocava meu rosto", explica.

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Seu processo criativo começa, principalmente, por meio da identificação com os personagens dos animes. "Eu foco em algumas coisas muito específicas. Às vezes, eu componho pensando em como a música seria se tocasse em determinada cena ou exploro um sentimento mais profundo de identificação no personagem. Eu não faço como se fosse uma interpretação, mas tento mostrar o sentimento dele".

Essa situação pode ser visualizada, por exemplo, em sua composição sobre Jiraiya, personagem de "Naruto". A letra indica: "Se eu vi que eu quero não mais/ Antes dedicar todo a essa jornada/ Tudo que carrego agora peso falha/ Afiado como corta parte da alma / Perfurando coração com a ponta da faca/ Sigo em meio ao caos forte porte da calma".

Neste subgênero, as obras são majoritariamente acompanhadas por um "lyric video", ou seja, por um vídeo que reproduz a letra da canção. Mas, no começo deste ano, VMZ lançou o primeiro videoclipe do canal, o "Rei dos Piratas".

"Eu comecei a ter uma percepção de que a gente tem uma escassez de clipes. Da forma como tudo começou, é bem confortável que a gente só ponha as imagens do anime no 'lyric video' para ter uma frequência e uma consistência maior", comenta.

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Isso dialoga com um dos maiores objetivos do artista: quebrar os paradigmas entre a cena geek e a mainstream dentro do rap. "Nosso trabalho, musicalmente falando, é como qualquer outro. Então, para atingir um público novo, queria atrelar o clipe ao rap geek e também continuar de forma independente, sem fechar com gravadora", explicita.

 
 
 
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Ele pontua, porém, que os caminhos entre os dois mercados são distintos. "A forma como começa, a administração e a produção, por exemplo, são distintos. No rap mainstream, para um artista se destacar, ele começa a ir para batalha de rimas, é visto e recrutado em uma gravadora, uma produtora… No rap geek, a gente começa produzindo a nossa música. Somos nosso próprio editor de áudio e de vídeo, todo esse processo é nosso", afirma sobre a produção para a internet.

O rapper não foca somente em conteúdos com letra geek. Ele também detém um projeto autoral, que pode ser encontrado no Spotify, plataforma em que reúne quase três milhões de ouvintes mensais. Há, por exemplo, o EP "Atemporal" (2020) e o álbum "Tributo" (2018). Neste ano, ainda lançou o single "Plutão", que teve mais de 12 milhões de reproduções no streaming de música.

"Tenho um projeto secundário de músicas que não são voltadas para a cultura nerd. Isso me ajuda a levantar a bandeira do rap nerd também, porque alguém conhece minhas canções, procura na internet e pode passar a consumir os dois. Desde o começo da minha carreira, preparo músicas que podem ser escutadas por qualquer pessoa que não seja consumidora da cultura nerd", indica.

Por causa de sua maneira de existir, o subgênero ganhou ainda mais força durante o isolamento social rígido provocado pela pandemia do coronavírus. Os rappers desta área já ganhavam prioritariamente pelo digital e não dependiam tanto de shows presenciais.

"Nossa maior fonte de renda já era o digital, então não teve esse desbalanceamento", diz. Mas, com todas as pessoas em casa, a demanda pela produção também cresceu. "Todo mundo teve que subir a frequência, aumentar qualidade e diversificar para não saturar a galera".

Em uma perspectiva pessoal, sua rotina se tornou mais estressante, principalmente, por causa do aumento das horas de trabalho e da necessidade de permanecer isolado. É um problema recorrente em profissionais de setores diversos e que também atingiu VMZ.

"A rotina se tornou mais estressante, trabalhando muitas horas por dia e sem sair de casa, que é nosso lar e nosso lugar de trabalho. Esse espaço se torna uma zona de estresse muito grande, com a insegurança e a ansiedade", reflete.

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