Logo O POVO+
Compositor cearense Assun lança samba que celebra igualdade
Vida & Arte

Compositor cearense Assun lança samba que celebra igualdade

As cantoras cearenses Luiza Nobel e Mumutante e o sambista paraense Arthur Espíndola unem-se à voz de Assun na música que integrará o próximo álbum do artista, previsto para 2022
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Assun, Mumutante e Luiza Nobel dividem os vocais no single
Foto: BARBARA MOIRA Assun, Mumutante e Luiza Nobel dividem os vocais no single "Iguais"

“Existem/ Várias cores no planeta/ Então, meu amor/ Não há cor que prevaleça”. Nos primeiros versos de “Iguais”, novo single do cantor e compositor cearense Assun, a diversidade é celebrada num sambinha suave feito entardecer de domingo. As cantoras cearenses Luiza Nobel e Mumutante e o sambista paraense Arthur Espíndola unem-se à voz de Assun na música que integrará o próximo álbum do artista, previsto para 2022. A canção e o clipe serão lançados no Youtube e no Spotify na próxima sexta, 9, às 12 horas.

Leia Também | Dragão do Mar realiza programação virtual para as férias de julho

Fomentador cultural em Fortaleza, Assun é ativo no cenário de música underground da Capital e integrou a reconhecida banda de reggae Donaleda. Mas "Iguais" é história antiga, forjada no quintal de casa de avó quando ainda era David Lima: o cantor compôs o samba aos 16 anos e só agora, aos 34, decidiu gravá-lo. "O processo de criação foi baseado na realidade que eu enxergava naquela época, que eu enxergo até hoje também — a dificuldade do acesso das pessoas pretas em determinados lugares. A gente realmente é colocado num nível inferior e eu percebia muito isso na adolescência. Começou a partir daí esse questionamento: por que eu não posso ser eu? Por que eu não posso ter o meu cabelo dread? Por que sempre eu sou inferior, sempre colocado para baixo? Porque sempre sou sujo, sempre sou errado, sempre sou vagabundo, sempre sou marginal? Eu só queria ser eu, só queria viver. É justamente isso que perdura hoje no Assun de 2021. Aos 34 anos de idade, família, filho, esposa… O que tem hoje do Assun daquela época é esse questionamento, essa afronta, esse não se calar perante a sociedade", rememora o artista.

"O clipe fala muito sobre essa relação de equidade e igualdade, nós somos iguais dentro das nossas diferenças. Nós temos a mesma composição celular, sanguínea, corporal", continua Assun. Neste mergulho ao passado, entre episódios de racismo que rasgaram a pele, o cantor encontrou bálsamo na arte: Assun achou uma fita cassete cantando Clara Nunes e Dorival Caymmi, aos 9 anos de idade, em 1995. O registro foi um presente do falecido tio Reginaldo Lima, chamado de Tio Régis, homem negro e gay que falaceu com apenas 29 anos. Reginaldo simulou um programa de rádio e colocou o sobrinho David para cantar.
Os trechos dessa gravação histórica e inédita também compõem o novo single de Assun. "Ele era incrível, eu tenho várias lembranças maravilhosas. Ele era um exemplo de ser humano! Eu adorava estar com ele, brincar com ele. Eu me sentia à vontade, sabe? Eu exalto o meu tio de todas as maneiras possíveis, então essa homenagem fica para posteridade. Quando eu escutei, me emocionei muito... Ele já estava perto de partir e essa lembrança agora virou um trabalho artístico. É uma inspiração para outras pessoas se reconectarem com seus familiares, para entenderem as suas origens", defende.

Leia Também | Marisa Monte afirma que governo Bolsonaro trata artistas "como vagabundos"

A ancestralidade do ensinamento africano "Ubuntu", “eu sou porque somos”, bordou em "Iguais" a união das diferenças: Luiza Nobel é atriz, compositora e arranjadora musical e constrói em seu repertório de percussão forte e ritmo swingado passagens pelo, reggae, rap, RnB, samba e soul. Já Mumutante, artista independente natural de Sabiaguaba, investiga a música preta em geral, do rap ao brega. As duas são também ativistas LGBTQIA+. O paraense Arthur Espíndola, por sua vez, consagrou-se representante do samba da Amazônia na atualidade e já gravou com Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro, e Mestre Curica. "Consegui dar essa misturada, essa juntada de várias pessoas e vários olhares para a temática da música — e é sobre isso que a canção fala, sobre todo mundo ter o sangue vermelho, mas no final das contas é uma pena que isso não se reflete no espelho", destaca Assun.

Leia Também | Festival de circo abre inscrições para propostas de espetáculos e oficinas

Coda (Children of deaf adults), ou filho ouvinte de pais surdos, difunde a cultura surda artisticamente dando o mesmo peso para a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e o português. Ariel Volkova realiza a interpretação em Libras no clipe de "Iguais", com apoio do revisor Cleiton Santos.

Single e clipe "Iguais"

Quando: sexta, 9

Onde: canal Assun no YouTube e em todas as plataformas digitais

Informações: Instagram @assunoficial

Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker.

O que você achou desse conteúdo?