Como símbolo de resistência, a reserva indígena Taba dos Anacé mostra sua presença e a importância da preservação cultural realizando sua primeira exposição de arte. Raphael e Débora Anacé estão por trás do projeto que, por meios de costumes, tradições e músicas, demonstra a realidade de povos silenciados e promete surpreender o público com a capacidade da comunidade.
Partindo do processo de extração da tinta de jenipapo até a realização de pinturas indígenas na pele, Débora exibe fotografias da tradição. Gleidson Kwaraywak, Silmara Anacé e Weligton Anacé são os artistas responsáveis pelas pinturas. As fotos foram realizadas em momentos de criação coletiva nas comunidades indígenas Japuara e Taba dos Anacé com a ajuda da juventude.
"É importante ter a preservação da cultura dentro das nossas comunidades, principalmente entre a juventude. Se nós não trabalharmos essas questões, elas acabam se perdendo com o tempo", afirma Débora. As pinturas indígenas representam diversos significados, além de serem específicas de cada povo, mas tratam principalmente da relação com a natureza e com a comunidade. "Para nós, povos indígenas, a pintura tem significado de resistência. Resistência contra esse sistema que sempre quis nos apagar. Então através das pinturas nós continuamos resistindo e elas nos dão força", explica.
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Já o projeto de Raphael une a música da comunidade com tecnologia na exposição "Tecno Tapera". Ao identificar a forte influência do "homem branco" na reserva, Raphael usou os talentos como DJ para gravar e remixar os cantos dos Anacé. "Descobrimos vários talentos de pessoas que tinham muito preconceito dentro da aldeia com estilos musicais, por exemplo o trap e a música eletrônica. Percebi que os jovens tinham talento para quebrar esse tabu para nós podermos trabalhar e fortalecer nossa cultura com esses processos", afirma.
"O Tecno Tapera remete ao estilo eletrônico e tapera, a "casas em ruínas" na nossa linguagem. Minhas lideranças têm um marco temporal muito forte na vida deles, onde eles passaram por lutas e tiveram que restaurar tudo que foi apagado pelo 'homem'. Agora, eu tento fazer esse processo novo, de não deixar se acabar, tentar restaurar de uma forma pura e transparente para toda comunidade", explica.
Raphael conta que a liderança foi muito receptiva com a exposição. "Chegou num ponto em que as pessoas vinham à aldeia, captavam áudios, tiravam fotos e depois sumiam. E nós não sabíamos o que estava sendo feito com aquele material. Com esse propósito, nós estaremos fazendo nossa própria produção, nosso próprio material e da forma que a gente quer ser representado".
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Ele acredita que a exposição irá fazer com que as pessoas enxerguem a reserva de uma maneira diferente. "As pessoas irão enxergar uma comunidade capacitada, não uma comunidade que tem aquele produto rico, com aquela qualidade de canto, afinação, instrumentos, mas pessoas que sabem gravar, produzir música, sabem mexer em notebook, já que ainda há muito tabu sobre indígena ter tecnologia em suas mãos. Então mostraremos que somos capacitados", pontua.
Débora também reforça a relevância da exposição para quebrar preconceitos, mostrando que uma mulher indígena também é fotógrafa. Através de projetos dentro da comunidade, ela ensina fotografia a outros jovens que tenham interesse, marcando a importância do retrato feito pelo próprio povo. "Nada melhor que um indígena falar sobre sua cultura e nós queremos incentivar isso com a juventude, começando o trabalho pela base", diz.
"Nós conhecemos nossa realidade. Às vezes a pessoa vê só um momento e incentiva o estereótipo do indígena, que só é indígena se tiver trajado, pintado ou usando um cocar. E a nossa realidade não é essa. Temos nossas tradições, nossa cultura, mas vivemos como pessoas comuns e nas nossas fotografias, nas nossas músicas, retratamos isso. Nada melhor que nós para falarmos sobre isso", afirma.
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Por fim, eles esperam que a exposição mostre a presença indígena, como um povo que resiste e tem muito talento para ser reconhecido, a partir de retratos que fazem muito mais sentido sob o olhar da própria comunidade.
Exposição de Arte na Reserva Indígena Taba dos Anacé
Quando: hoje, às 18h30
Onde: rua katanduba na Reserva Taba dos Anacé (Situada no quilômetro 13 da CE-085)
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