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Música: Daya Luz, MC Rebecca e Solange lançam clipe sobre sororidade
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Música: Daya Luz, MC Rebecca e Solange lançam clipe sobre sororidade

Em conversa exclusiva com O POVO, Daya Luz, MC Rebecca e Solange Almeida falam sobre o lançamento de "Até o Piso" e debatem sobre rivalidade feminina e preconceito com o funk
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Unindo Solange Almeda, MC Rebecca e Daya, música
Foto: Divulgação Unindo Solange Almeda, MC Rebecca e Daya, música "Até o piso" estreia hoje, 6 de agosto, no YouTube

Cantora, compositora e dançarina brasileira, Daya Luz é de São Paulo. MC Rebecca é do Rio de Janeiro e ganhou destaque na música através do funk. Ícone do forró, Solange Almeida nasceu na Bahia. Com diferentes origens, histórias, idades e gêneros musicais, essas três mulheres estão unidas em novo trabalho.

As cantoras juntaram suas vozes para falar sobre sororidade e a importância da união e liberdade feminina na música e clipe de "Até o Piso", que estreia hoje no YouTube. "Quanto mais a gente levantar essa bandeira e falar sobre o assunto, mais as pessoas vão entender", acredita Daya.

"Quero que as mulheres entendam o que é sororidade, porque muitas falam mas não praticam. Muitas ainda julgam, apontam o dedo uma pra outra e não apoiam nem têm empatia. Se nós estivermos unidas, somos muito mais fortes para lutar contra o mundo lá fora. Esse é objetivo da música", explica a cantora em entrevista ao O POVO.

"Já passei por várias situações na minha vida, antes mesmo de ser cantora, onde eu precisava provar que era capaz de fazer ou ser algo por ser mulher. Já passei por relacionamentos abusivos, já sofri preconceito por trabalhar com a sensualidade quando era bailarina do Faustão, e agora na música também. Quem é mulher na música sabe o quanto a gente precisa trabalhar e se provar. É um sentimento que nós temos que lutar contra para não se abater", pontua Daya.

Um dos temas abordados na faixa é o relacionamento abusivo. "Me deixa em paz, não quero escolta", diz um dos trechos. "Fala o quanto a mulher está melhor, o quanto ela deu a volta por cima. É uma bandeira da mulher que passou por isso, mas superou e hoje se enxerga e se respeita. Esse é o ponto principal, o ponto de partida, porque quando você entende que tem que se respeitar em primeiro lugar tudo fica mais claro na mente", explica Daya.

O clipe é composto por cenas gravadas em um campo de futebol. Rebecca joga de um lado, Daya está no outro e Solange é a juíza. "Eu quis juntar duas mensagens no clipe: mulheres empoderadas e sororidade", pontua Daya. Apesar dos times opostos, o intuito das cantoras é mostrar que apesar das diferenças é possível haver respeito mútuo. "Na vida podemos estar em lados opostos, em times diferentes ,com opiniões, ideologias e pensamentos diferentes, mas nós temos que nos respeitar, nós temos que ter esse lado da empatia umas com as outras", acredita a paulista.

"Não estamos aqui para competir ou sermos julgadas. Estamos aqui para nos unir e ter sororidade umas com as outras. Para lutar contra tudo que lutamos diariamente na sociedade, que ainda é muito machista", comenta. As cenas de futebol também são uma demonstração de apoio à seleção brasileira feminina. "As mulheres do futebol, assim como também de outros esportes, lutam muito para ter visibilidade, para serem vistas e respeitadas", diz Daya. "As meninas jogam pra caramba e não têm o mesmo apoio do futebol masculino, então esse clipe vai dizer muita coisa", afirma Rebecca.

Apesar de prezar pelo respeito, Daya conta que precisa lidar com o preconceito e críticas por sua postura artística e revela que a terapia a ajudou nesse processo. "Eu sei quem eu sou e o que eu quero. O que o outro diz, fala sobre ele mesmo, não sobre mim. Quando a gente ataca uma pessoa, levanta o dedo e julga, a gente fala mais sobre nós do que sobre aquela pessoa", acredita. "Julgamentos não me afetam mais", afirma a cantora.

Já Rebecca conta que não tem filtro e responde mesmo quando vê algo que não gosta. "Não consigo controlar minha língua", brinca. "Tento não absorver essas coisas ruins da internet. Às vezes a pessoa nem ouviu a música e já está criticando. As pessoas precisam ter mais respeito, não é porque somos artistas que elas podem falar o que pensam e está tudo bem e nós temos que ficar calados. Não sou obrigada a ver gente falando mal de mim, é óbvio que eu vou falar. Dúvido que esse povo da internet fala na cara", questiona.

Ela também fala sobre o preconceito que recebe por ser cantora de funk e acredita que o estilo musical é criminalizado por ter vindo da periferia. Daya também pontua que o preconceito do funk tem a ver com o machismo. "As pessoas julgam pela roupa, pela sensualidade. As pessoas ainda têm o conceito de que a mulher não pode ser sensual e inteligente. Já sentei com outras pessoas para conversar e elas falaram 'ah, você sabe falar, né?', porque tem muito preconceito ainda", diz. "O funk é alegre, é sensual, vou fazer o quê? Sou bonita", brinca Rebecca.

"Eu sempre amei o funk porque trata a realidade e também a beleza da mulher, que tem o direito de expor da maneira que bem entender. Ninguém tem nada a ver com isso. Se ela quer mostrar a bunda, a bunda é dela. Eu sou casada há quase 10 anos e mostro toda a minha sensualidade nos clipes. Meu marido acha o máximo porque não tem esse machismo. Já ouvi comentários de mulheres dizendo que eu não iria arranjar marido pelo jeito de dançar. Amor, sou casada há quase 10 anos!" debocha Daya.

Conhecida pelo forró, Solange Almeida entrou com tudo no funk e conta em entrevista exclusiva ao O POVO como foi a experiência. "Foi desafiador, nunca imaginei gravar algo assim, onde tivesse tanta exposição do corpo, porque é um clipe muito sensual, ele explora muito a sensualidade feminina". Apesar do estilo diferente do que costuma cantar, Solange afirma "música é música, independente do ritmo, música é vida".

A cantora revela que gosta muito do estilo musical. "Eu tento descer até o chão, embora não consiga", brinca. "Tem muitos rótulos, mas acho que tudo é válido na música, principalmente se te faz feliz e quando você se junta com pessoas bacanas, com mulheres de pensamentos e ideologias parecidas com as suas. Foi muito incrível, faria de novo", afirma.

Rebecca também fala sobre boicote aos clipes de funk, citando o exemplo de Pocah que teve seu clipe censurada pelo YouTube recentemente, e teme que o mesmo aconteça com elas. Ao comparar clipes brasileiros com internacionais, a cantora acha injusto a medida, já que há clipes estrangeiros mais explícitos e que não recebem o mesmo tipo de censura. "É uma sacanagem o que estão fazendo com a gente, especialmente o YouTube Brasil", desabafa. "A gente tem que parar de dar moral pro YouTube e ir todo mundo para o TikTok", brinca.

Avaliando o clipe, Daya diz o que achou do resultado final. "Está lindo, a gente dança, a gente é sensual. Depois do jogo, vamos para o vestuário e fazemos nossa própria pelada e resenha, em referência aos homens que saem para jogar e deixam suas mulheres em casa. Nós fizemos nosso próprio jogo".

Essas três mulheres acreditam que a música é um caminho para unir e combater a rivalidade feminina, ainda presente no meio artístico. "Ninguém toma o lugar de ninguém, quando você tem seu espaço ele é teu. Ninguém tem a capacidade de tirar. Isso não é só com mulheres, é com homens também, é do ser humano. Cabe a nós ter consciência. O teu espaço é teu e ninguém tira", acredita Daya.

"Desde que você cante com verdade, com amor, a música vai ser sempre ouvida da melhor forma", acredita Solange. "A música tem poder de transformação. A música pode transformar pensamentos, atitudes. Quanto mais usarmos a música para abordar temas, quebrar tabus e vencer paradigmas nós poderemos ter resultados incríveis".

Ficha técnica

Cantoras: Daya Luz, Solange Almeida e Mc Rebecca
Compositores: Daya Luz, Batuta
Produção musical: Batuta
Direção: Chilleno
Produção: Aretusa Novais
Produção geral: A7D Entretenimento

Lançamento do clipe de "Até o Piso"

Quando: hoje, sexta-feira, 6 de agosto, a partir das 12h
Onde: Canal Daya Luz no YouTube

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