Na ausência da relação palco-plateia no período pandêmico, as redes sociais têm sido um importante trampolim para artistas conseguirem descobrir seu público. A drag queen fortalezense Emma (@supremmas) é exemplo dessa safra e, impossibilitada de performar nas boates noite afora, adaptou sua arte às telas. Com suas perucas e muita maquiagem, ela faz sua mágica em vídeos humorísticos que duram segundos e impactam milhares.
Já são mais de 500 mil seguidores no TikTok e 175 mil no Instagram. Os vídeos já chegaram a marca de milhões de visualizações, mas quem assiste e ri junto com os esquetes de Emma nem imagina o trabalho que está por trás. Em entrevista ao O POVO, a artista cearense explica como conseguiu achar seu lugar na web e o que pretende fazer para ir além.
O primeiro contato de Emma com a criação de conteúdo na internet foi com o Dubsmash, aplicativo de dublagem que surgiu em 2014. O foco da artista, porém, era a performance de palco dublando divas do pop internacional em eventos na Capital. Com a pandemia de Covid-19, ela voltou a dar uma maior atenção às redes sociais.
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"Quando veio a pandemia, eu precisei adaptar a minha drag para a internet. Com a era do TikTok, eu lembrei do Dubsmash e decidi unir as duas coisas. Já tinha muita gente fazendo dublagem e conteúdo de humor, então meu diferencial era: colocar a peruca na cabeça, me maquiar e fazer três ou quatro personagens em um vídeo, o que eu não via ninguém fazendo", conta Emma.
"Não tive uma inspiração para começar a gravar", revela. Hoje, a artista conta que recebe mensagens de pessoas que se espelham em seu conteúdo. "É muito cansativo. É preciso muita força de vontade para ter essa pegada de se transformar em vários personagens", detalha.
Emma também conta como funciona o processo de criação. Primeiro, ela escolhe um áudio para dublar. A partir da voz, a humorista decide como será a aparência do personagem e começa a criação com peruca e maquiagem. A expressão corporal também é minuciosamente pensada. Depois começam as gravações e, ao terminar, ela mesma edita os vídeos.
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A trajetória não tem sido fácil, ela conta. Foi de vídeo em vídeo que Emma conquistou aos poucos seus seguidores nas redes sociais, além de chamar atenção de famosos, como Pabllo Vittar, Whindersson Nunes, Kéfera e Xuxa. "Eu nunca tive um único vídeo que viralizou de forma grandiosa e que me fez ganhar 100 mil seguidores, por exemplo. Foram degraus. Cada vídeo foi uma construção, um degrau para chegar no número que eu tenho hoje", comenta.
A artista também revela que precisa lidar com o preconceito por ser drag queen. "Às vezes estou numa live e, do nada, chega uma pessoa e deixa um comentário extremamente feio e mal educado e eu fico constrangida por não saber reagir. Às vezes eu consigo tirar de letra, brincando", diz.
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Emma avalia que os comentários ofensivos são de pessoas que caem sem querer no seu conteúdo, já que para quem segue é óbvio que se trata de um perfil de drag queen. "Eu fico me perguntando como a pessoa para no meu vídeo para comentar coisas assim, enquanto podia seguir em frente com sua vida", desabafa.
"A gente precisa saber lidar. Infelizmente, não é sempre que eu estou preparada para lidar com essa situação. Às vezes estou com a cabeça muito fraca e não aguento, vejo o comentário negativo e sumo. Mas sempre tento lidar da melhor forma para me sobressair e não deixar isso me afetar", pondera.
Emma foi a capa de julho da revista Elle View e conta ao O POVO sobre a experiência. "Eu vim de um lugar onde as coisas pareciam inacreditáveis. Sair na capa de uma revista? É surreal", diz. Foi a primeira vez que a artista viajou a São Paulo. "Mesmo vendo a foto, a ficha demorou a cair", brinca. "Quando caiu, eu desabei em lágrimas, não acreditei que esse momento era meu".
Emma também revela quais os próximos passos: gravar uma série de terror e humor com artistas fortalezenses. O desejo da artista é investir em conteúdos autorais e também voltar a fazer atividades de antes da pandemia, como ser DJ em festas.
Além disso, ela também sonha em um dia ser vista por todas as famílias brasileiras por meio da televisão. "A internet é nosso maior meio de divulgação hoje em dia. Através dela e das pessoas que me apoiam, eu acredito que consigo ir pra TV também. Eu sempre tive vontade de estar onde os grandes estão, como Multishow e Globo, fazendo novela ou um programa de humor, eu me vejo lá. Meu grande objetivo é estar na TV. Eu demorei muito para acreditar no dom que eu tenho, mas hoje eu acredito e quero pensar que um dia eu estarei lá", finaliza Emma.