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Exposição celebra 80 anos de vida e 60 anos de ofício de Zé Tarcísio
Vida & Arte

Exposição celebra 80 anos de vida e 60 anos de ofício de Zé Tarcísio

Com mais de 50 obras e curadoria de Kadma Marques, exposição "O Olhar e o Tempo" comemora 80 anos de vida e 60 anos de ofício do artista Zé Tarcísio
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 26.07.2021: Exposição do Artista Ze Tarcísio na Sculpt Galeria. A galeria fica dentro da loja de decoração Spazio, localizada na Rua Paula Ney, no bairro Aldeota. Ex votos, muita presente na obra do artista  (Thais Mesquita/OPOVO) (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FORTALEZA, CE, BRASIL, 26.07.2021: Exposição do Artista Ze Tarcísio na Sculpt Galeria. A galeria fica dentro da loja de decoração Spazio, localizada na Rua Paula Ney, no bairro Aldeota. Ex votos, muita presente na obra do artista (Thais Mesquita/OPOVO)

“Teimosia”: ao consultar o dicionário, um dos significados possíveis é a característica ou o comportamento de uma pessoa “que não desiste facilmente”. Se preferir, também há a leitura do “apego obstinado às próprias ideias”. Na trajetória do pintor, artista intermídia, gravador, escultor, cenógrafo e figurinista cearense Zé Tarcísio, dos seus 80 anos de vida já são mais de 60 anos “de teimosia” dedicados à arte. A relação dessas duas marcas será celebrada na exposição “O Olhar e o Tempo”, com curadoria da Socióloga da Arte e colunista do Vida&Arte Kadma Marques. A mostra reúne mais de 50 obras e abre nesta sexta-feira, 13, na Sculpt Galeria da Spazio.

A exposição foi desenvolvida ao longo de um ano por uma equipe que reuniu, além de Kadma Marques, o proprietário da Spazio Rodrigo Parente, Tânia Vasconcelos, Alex Meira e Gerson Ipirajá. Em um “diálogo” feito de forma muito próxima com Zé Tarcísio, foi definida a necessidade de a mostra apresentar “um conceito forte e de colocar em relação evidente os principais pontos do percurso de produção” do artista.

“O Olhar e o Tempo” reúne unidades “temático-formais” que apresentam a forma como Kadma observa o legado de Zé Tarcísio. Na mostra, há diferentes produções, como ex-votos (termo que designa pinturas, estatuetas e objetos variados doados às divindades como agradecimento a um pedido contemplado), gravuras/serigrafia e séries como “Blá-blá-blás”, “Voo Noturno”, e “Indígenas”.

A emoção toma conta de Zé Tarcísio ao falar sobre a “vida” - tema intrínseco à sua exposição. A comemoração da expressividade de seus 80 anos fica ainda mais intensa quando a mostra também relembra as marcas de seus “60 anos de teimosia”, referentes ao período em que trabalha com diferentes tipos de artes.

“Eu escolhi isso (a arte) muito criança, quando tive vontade de rabiscar as paredes da minha casa. Foi aí que começou o processo desse amor. A minha família entendeu essa liberdade de rabiscar e isso foi a companhia mais forte para mim. Até hoje eu rabisco. É um prazer muito grande”, relata o artista.

Sendo assim, diante de tantos momentos vividos, é possível observar diferentes aspectos trabalhados em suas obras ao longo desse período - não à toa o artista se considera “um repórter plástico”, registrando acontecimentos que o marcam. Como exemplo, cita a pintura “Interferências da Paisagem Cearense”, relacionada a uma lembrança da década de 1970, quando se posicionou criticamente sobre a especulação imobiliária que afetava a paisagem cearense nas dunas.

Para a curadora Kadma Marques, mesmo com trabalhos tão variados há uma articulação “coerente” na trajetória do artista, com destaque para as análises feitas sobre tempos vividos por meio de suas artes: “Sua obra é marcada por uma inteligência crítica em face de problemas que caracterizaram a realidade de cada época vivida. Por isso, Zé Tarcísio se afirma como repórter visual de seu tempo”, comenta a curadora.

Entrelaçando o olhar de Zé Tarcísio sobre momentos de sua vida e o tempo transcorrido, a mostra, segundo Kadma, apresenta um “fio condutor” que caracteriza a poética do artista: “A exposição trata desde figuras que interpelam o público pelo olhar ostensivo até a percepção do modo como o artista olha as coisas do mundo. Há ainda o olhar que não vê, que registra ausências (nas instalações o humano é um corpo ausente)”.

São mais de 50 obras expostas na Sculpt Galeria em um “conjunto representativo” que apresenta a trajetória artística de Zé Tarcísio a partir da década de 1960. Ao caminhar pela Spazio em direção à galeria, o público se depara com trabalhos que dão uma amostra da densidade que está por vir, em uma “transição harmoniosa entre o decorativo e o artístico”, segundo Kadma. 

Entre as formas presentes na exposição criadas por Zé Tarcísio para apresentar seus pensamentos e visões, a instalação “Golpe” (2021) remete a escultura de mesmo nome, mas datada de 1973. Essa traz peso político à ação de uma machadinha fincada em um tijolo, quando o artista esteve ligado a movimentos políticos e teve trabalhos apreendidos durante a ditadura. A obra da atual exposição reúne sentidos poéticos e políticos ao conjunto de machadinhas que atingem a parede vermelha.

Uma das mensagens principais reunidas pela exposição, na visão do cearense, é a de “liberdade”. Com auxílio de palavras de Kadma ao avaliar o trabalho de Zé Tarcísio, o artista evoca: “Eu quero ser livre em tudo, mas não dá. Entretanto, consigo ser no meu trabalho. Eu o uso muito para colocar dúvida, para propor diálogo. É ótimo quando a obra instiga alguém”.

Sob a análise de Kadma Marques, Zé Tarcísio ocupa "um lugar ímpar nas artes do Ceará" devido às suas trajetórias a níveis locais, nacionais e internacionais e também por ser "um artista pop extremamente atuante". Em meio a isso, participar da curadoria da exposição a permitiu ter uma convivência mais próxima com Zé Tarcísio, experiência que a fez “descobrir, para além do artista, um ser humano interessantíssimo”.

O primeiro momento da exposição reunirá convidados especiais de Zé Tarcísio, incluindo crianças e adolescentes que visitam suas oficinas e compartilham suas visões com o artista. Para o público geral, a mostra estará disponível a partir desta sexta-feira, 13.

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Exposição "O Olhar e O Tempo"

Quando: a partir desta sexta-feira, 13
Horários de visitação (com agendamento): de segunda à sexta-feira, das 10 às 18 horas; aos sábados, das 10 às 14 horas; fechado aos domingos
Onde: Spazio Decoração e Arte - Sculpt Galeria (Rua Paula Ney, 650 - Aldeota)
Mais info: (85) 98739 3442 (Rodrigo Parente) e @sculptgaleria no Instagram

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