“Nós estávamos fechando as portas para a geração do rock dos anos 1980 quando vocês colocaram o pé na frente e disseram: ‘Não, espera aí que nós queremos fazer parte disso também’”. A música responsável por essa introdução da banda Nenhum de Nós no cenário do rock nacional foi “Camila, Camila”, um de seus maiores sucessos. A lembrança foi anunciada pelo vocalista, compositor e palestrante Thedy Corrêa em uma edição do programa Altas Horas, da TV Globo, ao falar sobre a reação da gravadora ao receber uma fita demo da canção. Em outubro, o grupo formado também por Carlos Stein, Sady Homrich, Veco Marques e João Vicenti chega a 35 anos de carreira. Sem dúvidas, é possível afirmar: a banda tem seu nome em destaque na história do rock nacional.
São mais de três décadas de forte presença na indústria fonográfica brasileira. No repertório, 17 discos, mais de dois mil shows realizados e hits como “Astronauta de Mármore” e “Você Vai Lembrar de Mim”, além de fãs no Brasil e em países vizinhos. Ao olhar em retrospectiva, o vocalista Thedy Corrêa aponta, em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, a característica pilar no Nenhum de Nós de “conseguir acompanhar bem a evolução dos meios e da música”.
Para ele, isso ajudou a banda “a se manter em atividade por tanto tempo” e a “não ficar para trás” ao longo desses anos. Se ele pudesse destacar uma marca do grupo, certamente usaria a palavra “coerência”: “O Nenhum de Nós é uma banda que foi coerente e honesta com seu público o tempo inteiro. Nós procuramos construir uma carreira digna, algo desejado por muitos artistas, e quando nós olhamos todos os passos que demos, percebemos que erros e acertos também fazem parte de uma trajetória digna”.
Com a noção de que “uma carreira é feita por altos e baixos”, Thedy ressalta outro aspecto que não se desvinculou da banda: o da busca pela arte em primeiro lugar. “Imagina quantos altos e baixos nós não já tivemos em 35 anos? Entretanto, é muito importante manter esse pensamento de buscar a referência artística em primeiro lugar, de buscar uma coerência e uma consistência artística antes de ficar correndo atrás do sucesso e das exibições em rádios. Nós sabemos que essa parte é importante, mas deve ser consequência e não causa”, afirma.
A banda estava em turnê em comemoração ao relançamento de dois álbuns quando a chegada da pandemia forçou a interrupção da agenda de shows. Mais de um ano depois, as dificuldades para o meio artístico continuam, como aponta Thedy: “O que sustenta o artista é o evento presencial”. Uma alternativa foi recorrer ao ambiente virtual. Em 2020, a banda lançou o EP “Feito em Casa”, com oito faixas gravadas à distância.
Em meio a isso, Thedy destaca a importância da música - e da cultura - durante a pandemia, servindo como alentos e estímulos à criatividade diante desse período. A pausa provocada pela pandemia intensificou também as reflexões da banda sobre questões bastante presentes na sociedade, relembrando o histórico do Nenhum de Nós de tratar sobre problemáticas sociais em suas músicas: “Nós sempre tivemos canções que pontuaram temas muito importantes e relevantes, como ‘Camila, Camila’, que fala sobre a violência contra a mulher e sobre relacionamentos abusivos”.
Ele acrescenta: “Nós já chegamos a falar sobre violência urbana, pessoas em situação de rua… Nós sempre buscamos um equilíbrio entre músicas que fossem mais românticas e canções que tivessem um olhar mais comprometido com a sociedade”.
O trabalho do Nenhum de Nós repercute até hoje e, consequentemente, alcança as novas gerações. Sobre essa característica, Thedy encara como um “privilégio” encontrar um público “muito jovem” interessado pelo que a banda diz, porque comumente acaba sendo criada “uma distância muito grande” entre quem escreve a canção e quem a ouve. Entretanto, em sua análise, o grupo “consegue manter essa conexão”.
“É claro que o nosso público predominante é um público com uma faixa etária um pouco mais alta, mas muitas pessoas que estão chegando agora entendem que a música do Nenhum tem um sentido ainda de ser ouvida enquanto jovem. Isso é muito bom. Espero que esse interesse ainda perdure por muito tempo”.
A comemoração dessa trajetória de mais de três décadas ocorrerá no próximo dia 28, com um show exclusivo e transmitido virtualmente. Os ingressos estão à venda e a live reunirá sucessos da carreira do Nenhum de Nós. Thedy conta que, além de ter um caráter comemorativo, a apresentação se baseia em um movimento de retrospectiva. Assim, será uma oportunidade de celebrar em conjunto com os fãs - ainda que à distância - a discografia do Nenhum de Nós.
Para Thedy, falar sobre o futuro do grupo neste momento é uma incógnita além do habitual. Por isso, a banda prefere se ater ao presente e viver cada momento - reforçando os cuidados com a pandemia: “Está tão difícil fazer planos… No início da pandemia se pensava que seriam três, quatro meses nessa situação, mas olha onde estamos até agora. Então, realmente estamos evitando fazer um planejamento e colocar coisas adiante, porque isso gera uma frustração não só para nós, mas também para o nosso público”.
Ele destaca: “Vamos aguardar, ter paciência e atravessar essa pandemia da melhor maneira possível, com todos os cuidados e resguardos. Assim que sentirmos que as coisas estão começando a voltar, nós queremos a possibilidade de planejar”.
Live Nenhum de Nós
Quando: 28 de agosto, às 21 horas
Onde: Plataforma Cubo Play
Mais info: cuboplay.com.br e @nenhumdenos no Instagram
Quanto: R$ 30 (segundo lote)
O POVO+
Thedy Corrêa é o entrevistado do 8º episódio do Vida&Arte Convida, disponível na seção “Séries e Docs” do O POVO+. O vocalista e palestrante também fala sobre o sucesso "Camila, Camila", a conexão com os fãs, críticas de colegas do ramo - incluindo Renato Russo - ao seu trabalho e a importância da música na vida das pessoas.
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