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Livro de Rodrigo Barneschi reúne histórias vividas em estádios de futebol
Vida & Arte

Livro de Rodrigo Barneschi reúne histórias vividas em estádios de futebol

"Forasteiros" traz uma escrita que agrada a todos que já levaram a sério uma partida de futebol no estádio - levar a sério significa saber que o seu grito vai fazer a diferença entre o triunfo e o fracasso, para escolher uma definição
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São 350 jogos como torcedor visitante, ou forasteiro, como prefere Rodrigo Barneschi. São 79 estádios, 49 cidades e 10 países visitados nessa condição e é uma parte dessa extensa experiência que o leitor encontra em "Forasteiros - Crônicas, Vivências e Reflexões de um Torcedor Visitante" (ed. Grande Área). Inspirado por Nick Hornby, Eduardo Galeano e Bill Buford, o livro mostra o futebol pela percepção do torcedor que ocupa o espaço de visitante para apoiar o time do coração.

Barneschi conta ter escrito "Forasteiros" entre abril e dezembro do ano passado, exceção feita ao capítulo em que conta sobre a última final da Libertadores, elaborado após o bicampeonato do Palmeiras. Barneschi é palmeirense, mas o livro não é só para alviverdes. É uma escrita que agrada a todos que já levaram a sério uma partida de futebol no estádio - levar a sério significa saber que o seu grito vai fazer a diferença entre o triunfo e o fracasso, para escolher uma definição. Mas é também um livro que pode ser lido por aqueles que não têm afinidade com o esporte. Ou com a arquibancada.

Em uma das passagens mais saborosas, Barneschi conta como a torcida corintiana preparou uma pequena surpresa aos palmeirenses em um clássico Corinthians e Palmeiras, no Pacaembu. Eis o trecho: "O que se tem, a seguir, é uma ladeira íngreme e sinuosa, até desembocar no isolado setor visitante. A recepção no declive derradeiro costuma variar (adesivos grudados em postes e pichações nos muros são recorrentes), mas a daquela tarde é caprichada: óleo diesel despejado nos paralelepípedos durante a madrugada transforma os últimos metros em um teste final de resistência. Mas, dado que os andarilhos esperam ser mal recebidos, os escorregões atestam que tudo vai bem com a rivalidade. Óleo diesel na ladeira: por que não pensamos nisso antes?".

Há outras passagens deliciosas, como a ida para acompanhar o time do coração no Uruguai, as visitas a um sem-número de estádios na Argentina, quando o autor é confundido com um policial por torcedores locais. E passagens sentimentais, por assim dizer. É nelas que Barneschi conta por que nunca mais acompanhou os jogos como visitante viajando nos ônibus alugados pela torcida organizada Mancha Verde, à qual é filiado até hoje. Ou quando relata a experiência do último título palmeirense em São Januário, na companhia do filho. "Já me habituei a olhares arregalados de pessoas do meu círculo de amizade ao saberem que eu faço parte de uma organizada: 'Mas você é da Mancha?'. O tom assustado é revelador da imagem das torcidas perante a opinião pública, mas eu sempre faço questão de colocar o outro lado: as torcidas têm uma função social importantíssima, em especial para os jovens da periferia e, como qualquer organização da sociedade civil, reúnem todo tipo de gente", diz Barneschi, diretor de BI (business intelligence) e do Innovation Hub de uma agência de relações públicas e comunicações.

Sim, o autor tem um lado e não o esconde. Mas isso não é importante. Ao se inspirar em Galeano, Hornby e Buford, Barneschi abre caminho para uma crônica difícil de encontrar no Brasil, mas muito presente na América Latina. A crônica futebolística. "Galeano sempre foi uma das vozes mais importantes do nosso continente e 'Futebol ao Sol e à Sombra' é o que de melhor ele escreveu especificamente sobre futebol". Sobre Hornby e seu "Febre de Bola", Rodrigo avalia ser o autor inglês capaz "de dialogar com o sentimento de qualquer torcedor em qualquer parte do mundo". Calcado em experiências brasileiras e sul-americanas, Barneschi consegue algo semelhante com "Forasteiros".

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