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Livro "Gente Ansiosa", de Fredrik Backman, expõe mal-estar na sociedade
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Livro "Gente Ansiosa", de Fredrik Backman, expõe mal-estar na sociedade

Livro "Gente Ansiosa", de Fredrik Backman, utiliza de elementos do romance policial para abordar os problemas com saúde mental de uma forma cômica
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'Gente Ansiosa', de Fredrik Backman, foi lançado pela Editora Rocco (Foto: Linnéa Jonasson Bernholm/ Appendix Fotografia)
Foto: Linnéa Jonasson Bernholm/ Appendix Fotografia 'Gente Ansiosa', de Fredrik Backman, foi lançado pela Editora Rocco

O livro "Gente Ansiosa", escrito pelo sueco Fredrik Backman, começa como qualquer outro romance policial: uma pessoa armada assalta um banco na véspera do Ano-Novo e faz quem estava presente de refém. Seu objetivo, obviamente, é roubar o dinheiro do lugar. Mas o assaltante não precisa de milhões e promete que devolverá a quantia roubada em um mês. Agora, dois policiais - um pai e um filho - precisam resolver a situação, liberar as vítimas e prender o criminoso. Em uma perspectiva geral, a narrativa é similar a milhares. Basta ler uma obra de Agatha Christie (1890 - 1976), de Edgar Allan Poe (1809 - 1849) ou de Arthur Conan Doyle (1859 - 1930) para encontrar uma estrutura parecida.

Entretanto, a obra não é uma história cujo único objetivo é descobrir os detalhes do crime. O mistério conduz o leitor até o fim, mas somente ao chegar na última página, quem está lendo descobre que o enredo nada tinha a ver com o gênero. Uma sinopse simples, em que os personagens principais são apresentados, não dimensiona as questões abordadas pelo texto. O significado está, na verdade, no próprio título: "Gente Ansiosa". É uma trama sobre amor, luto, empatia e conflitos com saúde mental em uma sociedade repleta de desigualdades sociais. Por fim, também é um romance policial.

Com uma dezena de protagonistas, Fredrik Backman revela trajetórias distintas que não precisam de muitas páginas para expor suas respectivas complexidades. Uma pessoa rouba uma arma de um desconhecido e decide assaltar um banco para pagar suas dívidas. Seu único medo é que nunca mais possa ver os filhos. Enquanto isso, a família de policiais, o pai e o filho, divide o luto após a morte da matriarca. Mas a dor deles não termina nisso, porque lidam com uma filha e irmã viciada em drogas.

Além desses três, que são a chave para o início e a solução do caso, ainda há o grupo de reféns. Todos as vítimas têm interesse em um imóvel para alugar e ficam presas no lugar depois que o criminoso invade o espaço. Estão presentes: duas jovens que esperam o primeiro filho, mas não concordam em nada; um casal aposentado que procura casas para reformar; uma idosa calma, que já viveu muito para ter medo de alguém com um revólver; uma mulher rica demais para estar em busca de um apartamento de classe média; uma corretora de imóveis disposta a fazer negócio em qualquer situação; e um homem em uma cabeça de coelho preso no único banheiro do local.

Não há nada que aparentemente conecte os protagonistas uns aos outros, mas são os sentimentos quase universais na sociedade atual que permitem a criação de um vínculo de empatia. No limiar entre o humor e a tragédia, o autor traça um panorama complexo dos problemas íntimos: a ansiedade, a depressão, o vício em drogas, o medo constante do futuro, os relacionamentos infelizes, o luto e as relações familiares conflituosas são retratados. Mas também explicita as questões da sociedade do século XXI, como o capitalismo, as consequências da concentração de renda, o excesso de redes sociais e a impaciência generalizada que surgiu com a rapidez do cotidiano.

O enredo, porém, não é o único ponto interessante. O livro de Fredrik Backman dialoga com o leitor para conduzi-lo pela história e demandá-lo que retorne a momentos anteriores na narrativa. Com uma linguagem coloquial, escreve partes como: "Ninguém sabia para onde o assaltante de banco tinha ido. Isso é realmente tudo o que você precisa saber neste momento. Agora a história pode começar". Ou: "Muito bem. Um assaltante de banco assalta um banco. Pense nisso agora".

O escritor ainda perpassa por situações profundas com uma facilidade própria de quem sabe explicar o mundo para pessoas de todas as idades. Entre as várias reflexões sobre a vida adulta, escreve: "a parte terrível de se tornar adulto é ser forçado a perceber que absolutamente ninguém se importa conosco, temos que lidar com tudo nós mesmos, descobrir como o mundo inteiro funciona (...). Não temos tempo para pensar ou respirar, acordamos e já começamos a cavar o entulho, porque outro será despejado sobre nós amanhã".

Dentre tantas questionamentos, talvez um dos principais seja: se você corresse o risco de perder os filhos e precisasse de dinheiro para pagar o aluguel, mas não encontrasse emprego, nem conseguisse um empréstimo, até onde, em um ato de desespero, você iria para salvar a família e evitar desmoronar?

Gente Ansiosa

Fredrik Backman

368 páginas

Editora Rocco

Preço médio: R$ 64,90 (e-book: R$ 32,90)

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