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Livro "Santo Sertão", de Sérgio Carvalho, retrata a religiosidade sertaneja
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Livro "Santo Sertão", de Sérgio Carvalho, retrata a religiosidade sertaneja

Lançamento virtual acontece nesta quinta-feira, 30, no canal da Imagem Brasil Galeria no YouTube
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Imagem disponibilizada exclusivamente para O POVO do livro "Santo Sertão" (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Imagem disponibilizada exclusivamente para O POVO do livro "Santo Sertão"

"Em todos os anos / Setembro e Novembro / Vou ao Juazeiro / Alegre e contente / Cantando na frente / Sou mais um romeiro / Vou ver meu Padim". Como entoa Luiz Gonzaga na canção "Viva Meu Padim", os peregrinos que chegam até o topo da Colina do Horto, no município de Juazeiro do Norte, no Ceará, são recebidos pela imagem de Padre Cícero. Os percursos dos devotos são celebrados e retratados no livro "Santo Sertão", do fotógrafo Sérgio Carvalho, que será lançado virtualmente amanhã, 30, no canal da Imagem Brasil Galeria no YouTube.

A primeira vez que Sérgio acompanhou profissionalmente uma romaria - grande fenômeno da religiosidade brasileira - mobilizada pela figura do "Padim" foi na produção de um projeto sobre trabalho infantil no País. A concentração de cultura por trás das peregrinações, todavia, surpreendeu o fotógrafo. Ele decidiu se dedicar a estes eventos durante 10 anos, entre 2007 e 2017, para mergulhar no tema e no leque de simbolismos e sentidos presentes no imagético místico dessas expressões sociais.

"Até decidir o que fotografar é um processo bem lento, minucioso, sem pressa, porque é uma explosão de imagens. Você tem que absorver, para depois ir filtrando o que você vai ver com os seus olhos, qual a visualidade você quer dar da romaria", descreve Sérgio. Como selecionar, então, aspectos de uma manifestação tão massiva? O fotógrafo decidiu ir além do mito em torno do líder religioso Padre Cícero e focar nos romeiros, aqueles que viajam na intenção de cumprir promessas ou agradecer às bênçãos alcançadas. "Precisa dar uma segurada nas emoções, ficar impregnado daquela situação toda das romarias, da fé, para depois trilhar o seu trajeto. O romeiro e o caminho são os personagens", evidencia.

Com o propósito de expressar a realidade dos devotos por meio de retratos, Sérgio se comprometeu em criar uma relação íntima com quem buscava fotografar. Ele divide o livro em dois ensaios. O primeiro, "Sala dos Santos", retrata em cores saturadas as "paredes votivas" nas salas das casas da Ladeira do Horto, rua que dá acesso à estátua do Padre. Os devotos enfeitam altares domésticos com imagens dos santos e de entes vivos ou mortos, a pedido do "Santo do Sertão". "Vai recriando uma corte celestial particular. Para esse ensaio é preciso muita intimidade com o dono da casa. Permitir que você fotografe esse santuário envolve muita proximidade", comenta.

Já o segundo ensaio, "Caminho de Pedra e Areia", contrasta o universo da crença com imagens em preto e branco do percurso feito pelos romeiros, entre o alto do Horto e o Santo Sepulcro, local de refúgio da personalidade religiosa e eventual esconderijo dos cangaceiros. "É uma caminhada longa, de quilômetros, muitos carregam pedras, como uma representação da fé, da jornada terrena", detalha. As duas propostas, apesar de opostas, "formam um todo" da visão do profissional acerca da romaria, entre a intimidade da adoração e os sacrifícios da peregrinação.

Ensaio
Ensaio (Foto: Divulgação)

Ambos espelham a "devoção cega" da maioria dos fiéis, independente do teor polêmico vinculado à figura do Padre Cícero. O contato com o coronelismo, a relação com o cangaço e até mesmo o banimento temporário da Igreja Católica passam despercebidos aos olhos daqueles que dedicam suas rezas ao "Padim". "Ele criou um modo de falar com as pessoas mais simples muito direto, ele conseguiu se transformar no mito. Toda essa mística em torno dele se deve muito a forma que ele tratava a pessoa que tinha fé, até o sertanejo mais simples, ele tinha uma relação muito próxima", conecta Sérgio.

"Santo Sertão" é baseado na exposição homônima, realizada em 2020 na Imagem Brasil Galeria. A iniciativa foi interrompida após a pandemia, quando começou o processo de edição do livro a partir da vitória no VIII Edital das Artes da Secretaria da Cultura de Fortaleza - CE (Secultfor). Com curadoria de Carlos Carvalho e produção de Vanessa Ramos, o produto final resulta de uma ação coletiva entre fotógrafo, autor, editor, curador e designer. "É fundamental o trabalho em sintonia", aponta.

Em uma grata coincidência, "Santo Sertão" marca 25 anos da carreira fotográfica de Sérgio Carvalho. Piauiense radicado no Ceará desde os anos 1990, Sérgio explora a composição imagética das manifestações religiosas, culturais e sociais em sua trajetória. "É um projeto de volta ao sertão", define. O encerramento deste ciclo é de alegria, com resquícios de saudades das romarias. "O processo produtivo é mais rico do que o livro em si. Fotografia é conhecer, reconhecer e dar importância às pessoas que você fotografou. Elas são mais importantes que a fotografia".

Lançamento virtual do livro "Santo Sertão"

Quando: Amanhã, 30, às 19 horas

Onde: No canal da Imagem Brasil Galeria no YouTube

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