Era 2015 quando a cantora Roberta Campos divulgou "Todo Caminho É Sorte", último álbum completo autoral. Neste meio tempo, ela lançou singles, EPs e projetos colaborativos até retornar com o disco "O Amor Liberta", em 2021. Na circunstância de uma pandemia, as 11 faixas do novo trabalho repassam mensagens necessárias: resiliência, coragem e amor. Com uma proposta de fusão entre ritmos e artistas, o álbum emplacou canções como "Miragem", colaboração com a banda de reggae Natiruts. Em entrevista exclusiva ao O POVO CBN, a artista falou sobre música, carreira e autoconhecimento.
O POVO: Em julho de 2021, você lançou "O Amor Liberta". O que você trouxe nesse álbum? O quanto esse período de pandemia pode ter influenciado nessas composições, nas novidades e nos ritmos que você traz nele?
Roberta Campos: Fiquei desde 2015 sem lançar um álbum cheio, de lá para cá estive sempre compondo. A gente vive um monte de coisa, um monte de experiência, aprende bastante com tudo o que vive. Foram várias viagens, livros, pessoas que conheci e coisas que eu superei nesse tempo. Tudo veio para esse álbum. Ele traz uma mensagem de resiliência, de força, coragem, amor, amor próprio, começa tudo por aí. Eu achei um momento muito propício para lançar esse disco, mas, por coincidência, já era uma mensagem que eu já vinha trazendo desde o final de 2019. São 11 faixas inéditas e autorais, quatro parcerias. Tenho parceria com o De Maria, um compositor do Pará, também com Luiz Caldas, Humberto Gessinger e com Hyldon. É um disco que traz uma influência de jazz, blues, bossa nova, essa coisa do reggae que eu já tinha misturado com pop. Usei instrumentos que eu não tinha usado ainda, como alguns de sopro. O jeito que o disco foi arranjado tem uma forma um pouco diferente, é um disco mais preenchido, para cima, pulsante. Eu vinha mais de uma linha mais folk, um pouco mais intimista.
OP: É um álbum diversificado, você trouxe mais misturas e também muita poesia e leveza. Conta mais sobre essa questão do que vem por trás do disco.
RC: Eu tenho até uma música chamada "Aquário", de 2011, ela é uma faixa que acho que abriu tudo assim, eu quase gravei ela no meu disco "Diário de Um Dia" (2012). Eu fui entendendo, como é um disco que fala muito de mim, como eu falo partindo desse amor próprio que reverbera na nossa vida, do que eu me libertei. Desde 2011 para cá, foi até uma época que tem essa curiosidade, eu fui percebendo durante as entrevistas mesmo, o sentido de ter essa canção. Eu comecei a fazer terapia naquela época e agora, eu me encontro em 2021, livre dessa terapia. Então cada canção deste disco conta uma história desse período de 2011 até aqui, ele traz essa mensagem e cada uma parte desse momento da minha vida.
OP: Interessante você falar sobre a terapia, sobre o autoconhecimento. É o seu quinto álbum, uma estrada importantíssima que você percorreu. Esse processo, de você com você mesma, tem muita importância na composição...
RC: Sim, com certeza. É bom a gente entender que, em algum momento, a gente precisa se encontrar. Quando você percebe que está se encontrando, acho que tudo floresce. Eu me sinto muito feliz, que sempre tive e tenho uma busca muito grande, acho que é uma busca infinita, de perceber e entender seu lugar no mundo, entender o outro também, acho muito importante. É todo um complemento, nessa coisa de relacionamento no geral mesmo, com o mundo, é sempre um aprendizado. E isso é uma coisa que acaba florescendo muito e trazendo muita inspiração para a vida da gente, pra arte. Eu tenho seguido uma linha de composição, dentro da essência do que eu faço. Cada vez com uma bagagem de vida.
OP: Esse trabalho está sendo muito reconhecido, conta um pouco sobre esse processo.
RC: Sim, eu tenho recebido esse feedback das pessoas. É bom quando a sua mensagem está fazendo que você se conecte com as pessoas, a galera tem trazido muitas mensagens de positividade e aceitação deste álbum. Até mesmo desses feats que fiz, desses convidados que eu tive, eu sempre digo que é muito bom estar acompanhada e dessa vez eu venho mais que acompanhada. Inclusive nessa faixa com o Humberto Gessinger cantando comigo foi um grande presente. Primeiro por fazer a música juntos, depois por aceitar o convite de cantar comigo em "Começa Tudo Outra Vez".
OP: Você falou que passeava pelo reggae, agora se aproximando um pouco mais. Você pretende investir em mais canções desses novos ritmos?
RC: Eu sempre estou pensando na frente, criando projetos. Sobre novos ritmos, é tudo muito fluido, eu não fico presa a nada. Eu acho que na música a pessoa tem que ser autêntica. Eu tenho minha autenticidade, minha essência, o que me diferencia dos outros trabalhos e eu me permito criar em cima disso. Eu comecei a estudar espanhol na pandemia e comecei a compor em espanhol, inclusive com outras pessoas de outros países, da Republica Dominicana, da Espanha, do México... Abriu um leque de contatos, de influências. Tenho a ideia um dia de gravar um disco em espanhol, não sei muito a sequência. Agora o foco é realmente "O Amor Liberta", quero muito que volte tudo e eu possa fazer shows.
OP: Estamos esperando sua chegada com ele em Fortaleza, em breve.
RC: Eu quero demais, eu amo Fortaleza. Não fico falando para não deixar os outros lugares enciumados, mas é um dos lugares que eu mais gosto de fazer show, me sinto muito feliz na cidade. E foi a primeira cidade que me acolheu quando eu fui fazer o show de lançamento do meu disco de estreia, o "Varrendo a Lua" (2010).
Expansão musical
Desde a última segunda-feira, 29, a cantora está com projeto disponível na série "Encontros Nova Orquestra" com a canção "Minha Felicidade". A performance é acompanhada por estudantes do projeto Vale Música, o baterista André Dea e a baixista Carol Navarro, da banda Supercombo.
A série faz parte da Nova Orquestra, idealizada para promover e democratizar a música de concerto. "Eu gosto de ter essas experiências, me abre o mundo, me renovam! Principalmente com orquestra, que é uma forma tão diferente de fazer música, de executá-las. Sempre temos coisas novas a aprender, e é a curiosidade aliada à coragem de se arriscar em novas experiências que nos move e nos permite evoluir", discorre Roberta.