Uma biblioteca pública é formada pela memória do lugar em que reside. O conjunto de livros neste espaço não permanece somente no âmbito da literatura. Ele expande seus próprios limites e alcança todas as linguagens artísticas. As obras que estão dispostas em estantes, mesas, ambientes fechados e até nas casas de pessoas comuns têm um objetivo principal: preservar a(s) história(s) de sua população. Alguém que entra na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), reaberta presencialmente em agosto após sete anos fechada para reformas, entende isso logo depois de passar pela recepção.
Na entrada, palavras cruzadas dispostas na parede mostram ao visitante o que ele está prestes a conhecer: cordéis, quadrinhos, ficção, pesquisa e mais. Mesmo com tudo isso, é quando adentra qualquer um dos setores que a pessoa percebe o real significado daquele ambiente de cultura. A instituição centenária, fundada em 1867, é - por si só - uma referência arquitetônica do modernismo cearense. O endereço, que foi ocupado pelo equipamento em 1975, passou por renovações que trouxeram um adicional: a conexão direta com a Cidade.
Sentado em poltronas ou em mesas de estudo, o leitor olha para o lado e reconhece o lugar em que mora. Do térreo, é possível usufruir de um ambiente rodeado de árvores. Do primeiro andar, alguém pode ler e apreciar a visão da Cúpula do Planetário Rubens de Azevedo, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, ao redor do verde da natureza. Entretanto, o segundo piso é aquele que mais chama atenção. O lugar, reservado para a pesquisa de obras raras e periódicos, mostra a paisagem de tudo já citado junto com o mar da Praia de Iracema. Lá no fim do campo de visão, encontra-se o navio petroleiro Mara Hope, que encalhou há três décadas próximo ao Marina Park Hotel e se tornou um ponto turístico de Fortaleza.
"Se você vir à biblioteca e começar a passear, nota que ela está muito conectada à cidade. Você olha para o lado e vê Fortaleza. Isso sozinho já é um atrativo para vir para a biblioteca. Nos outros andares, essa ideia de olhar para fora está mais forte. No segundo andar, você olha e vê o mar, a cidade", detalha a gestora executiva Suzete Nunes. Para aqueles que passam os dias em ambientes fechados fazendo pesquisa acadêmica, o segundo piso destinado a pesquisadores se torna um novo respiro.
O equipamento cultural, gerido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), cumpre o papel de biblioteca tradicional. Há um acervo de mais de 100 mil exemplares, com possibilidade de estudar e alugar as obras. Porém, o lugar não se contenta apenas com o convencional. Diferente das memórias de muitos cearenses que frequentavam o espaço antes das reformas, há poucos balcões com bibliotecários. Os profissionais ainda estão lá para auxiliar na busca por livros e nas dúvidas dos visitantes, mas eles não são mais a ponte única entre a população e os conteúdos. As pessoas podem livremente encontrar seus títulos preferidos, folhear as páginas e manter uma conexão direta com a literatura.
"A biblioteca, antes da modernização, tinha muitos balcões. Era mais cinza e sóbria. Era um espaço muito querido na cidade, mas, arquitetonicamente, era mais convencional. Então, toda vez que você ia em um setor, você se deparava com um balcão e um atendente. Agora isso está mais livre. O balcão e o bibliotecário existem, mas você não precisa necessariamente dele para ter acesso ao livro. Você pode livremente pegar o livro para fazer sua leitura e seu percurso", comenta Suzete.
Os setores são divididos em 12: atualidades; artes e iconografia; leitura acessível; espaço multiuso; laboratório de conservação e restauro; processamento técnico; obras gerais; coleção Ceará; microfilmagem; obras raras; e periódicos. Um dos principais destaques são os livros que preservam a história e a cultura cearense, que também estão disponíveis on-line para consulta de disponibilidade. Não só: o ambiente destinado exclusivamente a crianças cria uma ligação entre literatura e afeto a partir de objetos interativos, lugares para desenhos e contações de histórias.
Agora com vínculo com os equipamentos do Dragão do Mar, a biblioteca estadual ganha novas possibilidades de atuação. Com atividades virtuais e presenciais, o equipamento cultural já planeja projetos que possam conectar as linguagens artísticas voltadas, principalmente, para o Estado. "O conceito da biblioteca vai para além da função tradicional da biblioteca, que é o acesso ao livro, a pesquisa, o estudo… Ela também se coloca em um lugar de centro cultural. É um equipamento de fruição e formação, tendo o livro e a leitura como centralidades. Mas também se conecta com outros campos do conhecimento e das artes", indica a gestora executiva.
Segundo ela, há sempre a reafirmação de que é uma biblioteca pública, pertencente ao Estado. "Para nós, o mais importante é que a biblioteca abrace a população na sua diversidade, que ela seja realmente um ambiente de referência do ponto de vista da produção. Entendemos que é um espaço de acesso ao livro, mas, sobretudo, é um espaço de produção de conhecimento. Ela está inserida em um contexto muito importante para a cidade", conclui.
Exposição sobre leitura e liberdade
A ideia inicial para a exposição "Leitura e Liberdade" era lançá-la em 25 de março deste ano, quando marcava duas situações históricas importantes: o dia de inauguração da Bece e a Data Magna do Ceará. Com o segundo isolamento social rígido, a estreia da mostra não foi possível, tendo sido adiada até a reabertura presencial em agosto.
A curadoria de peças do acervo do Museu do Ceará (Musce), do Museu da Cultura Cearense (MCC) e do Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC) foi feita por Rosely Nakagawa com o objetivo de ampliar as possibilidades de acesso ao livro. A partir da relação das artes visuais com a literatura, a exposição explora o conceito da leitura como ato libertador. "Ela faz um percurso, que começa no térreo da biblioteca e está em três andares. Propõe um olhar mais múltiplo e mais diverso sobre o livro enquanto conceito, objeto e suporte", pontua Suzete Nunes.
Os artistas contemplados por esse itinerário são: Sérgio Carvalho, João Roberto Ripper, Marcelina Acácio, Fernando Banzi, Eustáqui Neves, Rosely Nakagawa, José Leonilson, Rodrigo Costa Lima, Rosana Paulino, Daniel Lima, Fabio Sapede, George Gutlich e Francisco de Almeida.
Agendamentos
Com a pandemia do coronavírus, é necessário realizar agendamentos para evitar aglomerações. Para visitar a nova biblioteca, a pessoa deve acessar o site oficial do equipamento de cultura, selecionar os espaços que deseja conhecer e indicar a data para reserva. Os horários funcionam por turnos, pela manhã e pela tarde. Além disso, há a opção de "visita guiada", que pode ser marcada com grupos de 5 a 10 visitantes durante duas horas.
Para quem deseja ter acesso aos setores de obras raras, periódicos e microfilmagem com o objetivo de consultas e pesquisas, o processo para agendar também é virtual. Esses conteúdos podem ser consultados somente no local, a partir do preenchimento de formulário. O uso de equipamentos de proteção, como luvas e máscaras, é obrigatório durante todo o trabalho.
"Por enquanto, por conta do contexto pandêmico, tem que agendar antes, porque conseguimos controlar o público. Às vezes, a gente acolhe, quando a pessoa veio, não agendou e está com uma criança... Mas nunca vamos permitir que extrapole o limite diário", afirma Suzete Nunes.
Carteirinha e empréstimos
Uma opção disponível na biblioteca é o empréstimo de livros dos catálogos de atualidades, leitura acessível, obras gerais, coleção Ceará e setor infantil. Para isso, a pessoa deve fazer um cadastro para conseguir uma carteira.
O registro gratuito pode ser realizado presencialmente com os atendentes dos balcões, por meio da apresentação de um documento de identidade e comprovante de endereço. Jovens com menos de 18 anos precisam levar a cópia da identificação dos responsáveis. A inscrição é válida por um ano.
Com isso, cada usuário tem acesso a dois empréstimos com duração de 15 dias corridos depois da data de retirada. A renovação pode ser realizada uma vez de maneira virtual e outra de forma presencial. As obras em Braille têm prazo de devolução de 30 dias, podendo haver renovação por mais um mês. Também é possível fazer reservas on-line para posteriormente buscar na biblioteca.
Setores da Bece
Térreo
Atualidades
Artes e iconografia
Leitura acessível
Subsolo 1
Espaço multiuso
Infantil
Subsolo 2
Laboratório de conservação e restauro
Processamento técnico
Andar superior 1
Obras gerais
Coleção Ceará
Andar superior 2
Microfilmagem
Obras raras
Periódicos
Programação do mês
11 a 15 de outubro
13h às 17h - Curso virtual "Escreve e Borda", com Layze Barbosa
Onde: Google Meet
13 de outubro
18 horas - "Histórias de Quem Lê" convida crianças das bibliotecas comunitárias
19 horas - Masterclass "Marias na Comunidade", com o Grupo Somos Todas Marias na comunidade das Goiabeiras e Barra do Ceará, Dhanny Marinho e Brenda Martins
Onde: no YouTube da Bece
14 de outubro
15 horas - Descobertas da Pesquisa Acadêmica: "A Pesquisa em Literatura: a poesia e suas particularidades", com Socorro Pinheiro
Onde: no YouTube da Bece
16 e 17 de outubro
10h30min e 14h30min - Contação de Histórias: Espetáculo "O barquinho e o seu pescador", com Evan Teixeira
Onde: no Setor Infantil da Bece, mediante agendamento
19 de outubro
18 horas - "Histórias de Quem Lê" convida Luci Sacoleira
Onde: no YouTube da Bece
20 de outubro
9h30min, 10h30min, 14 horas e 15 horas - Oficina "Dobre e Desdobre: Oficina de Origami", com Uirá Oliveira
Onde: na Sala Multiuso da Bece, mediante agendamento
23 e 24 de outubro
10h30min e 14h30min - Contação de Histórias: Espetáculo "Ybyrá", com o Coletivo Zanzulim
Onde: no Setor Infantil da Bece, mediante agendamento
26 de outubro
10 horas - Webinário "Leituras da Diversidade: as bibliotecas e a mediação cultural"
Onde: no YouTube da Bece
14 horas - Lançamento do Livro "Phenix Caixeiral", de Adelaide Gonçalves
Onde: no Espaço Multiuso da Bece, mediante agendamento
18 horas - "Histórias de Quem Lê" convida as bibliotecárias Zuila e Madalena
Onde: no YouTube da Bece
27 de outubro
10 horas - Webinário "Leituras da Diversidade: as bibliotecas e a mediação cultural"
Onde: no YouTube da Bece
29 de outubro
9 horas e 14 horas - Lançamento dos livros "Um dia diferente na floresta" e "Cinderela Sanfoneira", de Francine Maria
Onde: no Setor Infantil da Bece, mediante agendamento
30 e 31 de outubro
10h30min e 14h30min - Contação de Histórias: "Espetáculo Duas Catitas", com Coletivo Duas Catitas
Onde: no Setor Infantil da Bece, mediante agendamento
Biblioteca Pública Estadual do Ceará
Quando: de segunda-feira a domingo, das 9h às 16 horas
Onde: na avenida Presidente Castelo Branco, 255 - Centro
Mais informações e agendamento: no site da Bece
Podcast Vida&Arte
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