Diante do cenário político atual, a literatura se sustenta como uma ferramenta de conhecimento e transformação do mundo ao redor. Nesse sentido, a Festa Literária do Ceará (FLAC) abraça o tema "Ler para resistir" e mergulha nesse contexto complexo do Brasil de 2021 em programação que reúne virtualmente autores de diferentes estados.
Após hiato de três anos, o evento retorna para celebrar as publicações dos anos de 2020 e 2021, além de ter o cenário político atual como foco dos debates. A programação se inicia no dia 4 de novembro e vai até 9 de dezembro, com encontros às terças e quintas, sempre às 19h30, transmitidos gratuitamente por meio do YouTube e Instagram.
A FLAC surgiu em Aquiraz no ano de 2013 a partir de um sonho de Aurea Figueira, que trouxe o evento para o Ceará. A partir de 2017, a festa passou a acontecer em Fortaleza, devido ao aumento do interesse do público da Capital. Em 2019 e 2020, o evento não aconteceu, mas em 2021 aderiu ao formato on-line para garantir a programação. "Resistir, no fundo, é tema recorrente de projetos culturais, e nesse sentido a Festa Literária do Ceará, em sua sexta edição, é uma sobrevivente", afirma a idealizadora do projeto.
A edição de 2021 tem curadoria do jornalista Jáder Santana, que, em entrevista ao O POVO, deu mais detalhes sobre a abordagem do evento. "Não tem como falar de outra coisa no Brasil que estamos vivendo hoje. Nós estamos vivendo um período de crise política, sanitária, econômica, social, cultural, simbólica, estamos tendo que revisitar nossos símbolos para assegurar que eles tenham o lugar que merecem na história, então é uma crise generalizada", reflete o curador.
"Não teria como não fazer uma FLAC política em 2021. O 'Ler para resistir' é um chamamento para essa resistência política e cultural. Nós vivemos ameaçados o tempo todo, nossos direitos, do mais básico aos que ainda estamos tentando conquistar, seria fechar os olhos para tudo que está acontecendo se nós não fizéssemos deste um evento político", complementa.
Jáder ressalta que em todas as mesas literárias haverá discussões que reverberam o momento do País. "É a mais política de todas as edições da FLAC", sustenta. "Nós queremos nos manter como resistência nesse tempo caótico e vemos a leitura como um espaço fundamental de formação de resistência", pontua.
O evento conta com a presença de autores relevantes no cenário nacional, a exemplo de Ana Paula Maia, Antônio Xerxenesky, Jeferson Tenório, Giovana Madalosso, Angélica Freitas e os cearenses Socorro Acioli, Tércia Montenegro, Lorena Portela e Marco Severo, que compõem o Ciclo Ceará Protagonista, que será exibido exclusivamente às terças, com entrevistas de autores do Estado. Já às quintas, acontecerão as mesas literárias, trazendo sempre dois autores e um mediador.
Todos os autores publicaram livros em 2020 ou 2021, um requisito que foi determinado por Jáder. "Temos um perfil muito variado de autores, do norte ao sul do Brasil. A ideia é traçar esse panorama a partir de diferentes vozes, sotaques e vivências", detalha. "São autores muito antenados. Quem decidir conhecer os livros indicados pela FLAC vai ter um panorama muito completo das discussões que estão em voga no Brasil de agora", convida.
Questões raciais e negritude, relações de trabalho e classe, aspectos históricos da "maldade na política" e cotidiano são alguns dos assuntos que serão abordados. "A ideia foi separar alguns temas que estão aparecendo nos noticiários, nas redes sociais, que estão pautando as discussões, e resgatar quais autores estão trabalhando esses temas em seus projetos literários", explica.
Jáder destaca que o evento é essencial para ensinar as pessoas a compreender política, entre outros temas, por meio da leitura. "Para você se tornar um leitor, o que você precisa é saber ler, não precisa entender de história, economia, política, você precisa saber ler. Esse é o convite, de que por meio da literatura, nós possamos acessar esses temas mais espinhosos", realça.
Programação
Quinta-feira (04/11):
- Mesa "Com o suor do trabalho": com Giovana Madalosso ("Suíte Tóquio"), José Falero ("Os supridores") e mediação de Nelson Lourenço
Terça-feira (09/11):
- Ceará Protagonista: Entrevista aberta com Socorro Acioli
Quinta-feira (11/11):
- Mesa "A pele que habito": com Jeferson Tenório ("O avesso da pele") e mediação de Regina Ribeiro
Terça-feira (16/11):
- Ceará Protagonista: Entrevista aberta com Talles Azigon
Quinta-feira (18/11):
- Mesa “Arde sem se ver”: com Stênio Gardel ("A palavra que resta"), Flavio Cafiero ("Diga que não me conhece") e mediação de Marina Solon
Terça-feira (23/11):
- Ceará Protagonista: Entrevista aberta com Tércia Montenegro
Quinta-feira (25/11):
- Mesa “Animalidade moral”: com Antônio Xerxenesky ("Uma tristeza infinita"), Ana Paula Maia ("De cada quinhentos uma alma") e mediação de Humberto Pinheiro
Terça-feira (30/11):
- Ceará Protagonista: Entrevista aberta com Marco Severo
Quinta-feira (02/12):
- Mesa “O fabuloso Brasil”: com Marcelo Vicintin ("As sobras de ontem"), Angélica Freitas ("Canções de atormentar") e mediação de Juliana Diniz
Terça-feira (07/12):
- Ceará Protagonista: Entrevistas abertas com Lorena Portela e Natércia Pontes
FLAC 2021
Quando: 04/11 a 09/12, às terças e quintas, 19h30
Onde: YouTube
Mais informações: Instagram @flacceara
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