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Filme 'Iracema', adaptação do livro de José de Alencar, revela protagonista
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Filme 'Iracema', adaptação do livro de José de Alencar, revela protagonista

Filme "Iracema", nova versão do romance homônimo de José de Alencar, divulga a atriz selecionada para o papel da protagonista com exclusividade ao O POVO
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A atriz Sara Borges, natural do município cearense de Ipu, é escolhida para protagonizar o filme
Foto: Davi Sá/Divulgação A atriz Sara Borges, natural do município cearense de Ipu, é escolhida para protagonizar o filme "Iracema", nova versão do romance homônimo de José de Alencar

No romance "Iracema: lenda do Ceará" (1865), o escritor cearense José de Alencar descreve: "A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu". Na nova adaptação da ficção alencarina para o cinema, com direção do cineasta Daniell Abrew, a atriz Sara Borges, 21, dará vida à protagonista — mulher indígena que virou símbolo cultural do Estado.

Assim como a Iracema da literatura, Sara é natural do município cearense de Ipu, localizado na Serra da Ibiapaba (também conhecida como Serra Grande), a cerca de 295,4 km da Capital Fortaleza. A integrante do grupo teatral Luís Gerardo Cordeiro de Sousa Filho, dirigido pela professora Gorete Corrêa, foi selecionada entre nove atrizes que concorriam ao papel. A produção do filme anuncia o resultado com exclusividade ao O POVO.

O longa-metragem está em fase de pré-produção, com a realização de estudos de roteiro e testes de elenco. Na trama do livro, Iracema pertence ao povo tabajara, no Brasil do século XVII. Filha do pajé Araquém e irmã de Cauby. Na lenda sobre a formação do Ceará, a protagonista é a virgem responsável por preservar o segredo da Jurema, dádiva da divindade Tupã. Do sertão ao mar, passando pela serra, ela percorre as paisagens do Estado. A história ainda aborda a relação entre a protagonista e o colonizador europeu Martim, em meio a guerras e abandonos.

Iracema, de acordo com Alencar, significa "lábios de mel" em guarani. Na adaptação para o cinema, "Iracema" não será o nome da mulher indígena, mas, sim, sua condição de ser portadora do segredo da Jurema. Assim revela o diretor, Daniell Abrew. As gravações do filme devem acontecer em julho de 2022, justamente na Serra da Ibiapaba. Os diálogos serão em tupi-guarani, tronco linguístico de idiomas dos povos originários do País. O lançamento da adaptação está previsto para 2024.

"Essa é uma obra desenvolvida para os Ibiapabanos", afirma Daniell Abrew. As inscrições para o cadastro do elenco ficaram abertas de 27 de maio a 31 de julho deste ano. Podiam participar da seleção apenas atores ou atrizes nascidos na Serra da Ibiapaba ou residentes nos municípios da região (Carnaubal, Croatá, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, Ipu, São Benedito, Tianguá, Ubajara e Viçosa do Ceará).

Segundo o diretor, "o movimento foi tão grande que tiveram inscrições não só dos nove municípios da Serra Grande, mas também de Fortaleza e de outros estados do Brasil". Mas Iracema deveria ser da Ibiapaba. "Nós não temos nada feito por cearenses, principalmente na Serra", opina Daniell. Em 2 de outubro, nove candidatas ao papel de Iracema foram convocadas para o Centro Cultural de Ibiapina (CCI). Sob a coordenação da atriz e preparadora de elenco Karine Ogunté, as atrizes passaram por uma série de entrevistas e sessões fotográficas.

Após a triagem para chegar às três finalistas, Sara Borges foi escolhida. Para Daniell, a atriz ganhou o papel não somente por ter "feições indígenas", mas também pela presença e por ser natural de Ipu. "Ela vive em Ipu. É uma cidade que respira Iracema. Tem a Praça de Iracema, tem a Bica do Ipu (também conhecida como Bica de Iracema, por ser onde a protagonista tomava banho na ficção)", explica o diretor.

A produção do filme está trabalhando na escolha de Martim. De acordo com Daniell, não há como saber exatamente a diferença de idade entre Iracema e o colonizador português. Realizando um parâmetro com a época da obra, eles seriam bem jovens. O diretor afirma que Sara consegue "fazer essa mulher Iracema, ao mesmo tempo que consegue fazer algo mais juvenil". Daniell Abrew adianta: "Vamos ver muito Iracema, mas o filme também terá outras abordagens".

Adaptações

"Iracema" (1865) é considerado um clássico da literatura brasileira. Para o produtor e roteirista do filme, Felipe Negreiros, o livro une os municípios da Serra Grande numa das histórias mais emblemáticas da literatura escrita por um cearense. Ao mesmo tempo, o romance tem sido a obra de José de Alencar mais discutida. Segundo Daniell Abrew, no livro, há certos elementos em que a figura do colonizador pode ser vista de uma forma romantizada. Além disso, algumas abordagens da época vão de encontro ao que se entende sobre a valorização das mulheres, dos povos indígenas, do povo preto e LGBTQIA na sociedade contemporânea.

A adaptação para o cinema não será necessariamente fiel à ficção alencarina. Ao invés da figura do pai e do irmão, por exemplo, o filme retratará a mãe e a irmã de Iracema. Trata-se, de acordo com o diretor, de respeitar as transformações ao longo do tempo, sem desvincular do clássico. Daniell, inclusive, nutre encantamento de longa data pela obra de José de Alencar. O projeto do longa-metragem surgiu em 2016, quando o cineasta Jonas Luis da Silva, de Icapuí (amigo do diretor) pediu para transcrever o livro num formato para o cinema.

Após a morte de Jonas Luis, em 2018, Daniell decidiu começar tudo "do zero". Com o roteirista Felipe Negreiros, algumas intervenções foram realizadas. "É uma obra de 1865, os valores mudaram", diz o diretor. Durante o período de reclusão, devido à pandemia da Covid-19, em 2020, os profissionais amadureceram o projeto.

Homenagem póstuma ao cineasta Jonas Luis da Silva, de Icapuí, o filme conta com o apoio das nove prefeituras da Serra da Ibiapaba. Segundo o diretor, a parceria se mantém nas fases de pré, produção e pós do longa. As gravações iniciam em Ibiapina e seguem para os demais municípios da serra. Conforme a passagem pela região, o núcleo principal se mantém, mas o elenco ganha artistas de cada lugar. Ao final, Daniell estima que cerca de 400 atores estarão envolvidos na produção. Em 2024, os nove municípios devem receber uma pré-estreia simultânea.

No livro, há passagens da protagonista pelo que seria a Lagoa da Parangaba, a Lagoa da Messejana e a Praia do Mucuripe, na Capital. De acordo com Daniell, "é impossível não ter locação em Fortaleza". Por isso, a equipe estuda a questão da espacialidade e a utilização de efeitos especiais para simular a época colonial. Uma das estratégias será filmar no litoral de Camocim, como representação da costa fortalezense. Segundo o diretor, "o filme pode agregar valores e ressignificar algo de outra época".

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