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Expoente da cena emo, Fresno critica governo Bolsonaro em novo disco
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Expoente da cena emo, Fresno critica governo Bolsonaro em novo disco

Música com Lulu Santos, questões políticas e resgate da sonoridade emocore marcam "Vou ter que me virar", nono disco da banda Fresno
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Lucas Silveira, Thiago Guerra e Gustavo Mantovani integram a banda Fresno (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Lucas Silveira, Thiago Guerra e Gustavo Mantovani integram a banda Fresno

Do alto do sexto andar do prédio onde morava, Lucas Silveira, vocalista da banda Fresno, compôs sobre a beleza do pôr do sol, amores perdidos e crises existenciais. Da sua varanda, porém, o compositor também viu a transformação do País. "Eu morava na Avenida Paulista, vi toda aquela coisa das manifestações do Movimento Passe Livre, em 2013. Depois vi tudo aquilo ser cooptado pelo Movimento Brasil Livre (MBL)", relembra, em entrevista ao O POVO. Esse e outros momentos políticos do País foram sendo incorporados nas letras do grupo ao longo dos anos e desaguam agora no recém-lançado “Vou ter que me virar", nono álbum da banda.

"Depois de tanto investigar nossos dramas adolescentes, nós fomos percebendo os dramas adultos. Os dramas pai de família. Mas uma tônica da Fresno é que a gente está sempre falando dos dramas. A gente fala sobre o que, de fato, nos incomoda", completa o músico. Expoente do movimento emocore no País, a Fresno despontou nacionalmente em 2006 com suas franjas, looks pretos e muita dor de cotovelo. De lá para cá, o grupo seguiu fiel ao emo, mas experimentou novas sonoridades, amadureceu junto com o público e, assim, acabou furando bolhas.

Ao lado de Gustavo Mantovani e Thiago Guerra, Lucas segue cantando os relacionamentos amorosos, marca da banda em mais de 20 anos de existência. Logo no início do novo disco, entretanto, Fresno já olha para o momento histórico na faixa “Fudeu”, uma crítica direta ao governo Bolsonaro. “O presidente basicamente quer te exterminar e o ideal fascista já conquistou teu núcleo familiar”, confrontam.

Para Thiago Guerra, é inevitável fugir das dores do Brasil de 2021. O baterista reforça que a busca do trio é por se comunicar com o público do agora. “O rock ficou tanto tempo intocável no mainstream que se acostumou com aquilo. O rock ficou pedante e parou de se comunicar e vieram as outras coisas (gêneros musicais) fervendo muito mais. A dor foi grande quando o rock sumiu das prateleiras”, analisa, traçando paralelo também com os movimentos políticos. “Você tem que buscar falar com as pessoas. Esquecer isso é o que ferrou a esquerda no Brasil”, completa.

Depois de parcerias com Caetano Veloso, Lenine e Emicida, a banda inclui, em novo disco, um encontro com Lulu Santos em “Já faz tanto tempo”. “A gente fez uma música em que todos os timbres tinham uma vibe ‘oitenteira’ e pensamos que só faltava ter o Lulu”, conta Lucas, destacando que as parcerias da banda costumam acontecer quando a música “se impõe”. Na letra, uma autocrítica sobre responsabilidade afetiva. “Muitos homens escondem o que sentem, põem para baixo do tapete e dizem que é frescura”, aponta Lucas. Já Gustavo reforça a importância de se conectar com o público a partir das fragilidades: “Imagina alguém que tenha uma vida perfeita escrevendo uma música”, brinca. O disco tem ainda as participações especiais dos músicos californianos Alejandro Aranda, do Scarypoolparty, e Yvette Young na faixa “Tell Me Lover”.



O lançamento do novo projeto da banda coincide com os novos singles de Di Ferrero, ex-vocalista do NX Zero, e da banda Simple Plan, destaque internacional da cena emo. Paralelamente, outros nomes mundo afora têm colocado as guitarras de volta ao topo das paradas. A banda italiana Maneskin e a cantora norte-americana Olivia Rodrigo são exemplos. “O que é popular no momento define muita coisa. Teve momentos em que o som que a gente fazia era completamente diferente do que estava no top 200. Hoje você vai no top 100 e vê guitarra e bateria”, celebra Lucas.

Depois de tantas fases (do sucesso na trilha sonora da novela teen Malhação aos perrengues de ser underground), Fresno segue mantendo a essência emo de pé e se prepara para o retorno aos palcos — estará no Lollapalooza Brasil 2022. “No álbum anterior, ‘Sua alegria foi cancelada’ (2019), a gente teve uma tristeza meio sem solução. Com este álbum, já existe o pensamento de que vamos ter de nos virar de alguma maneira e, apesar de tudo, estamos vivos, estamos representando nosso sonho, nossa história”, completa Lucas.

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