Nos idos de 1929, Emílio Hinko sentava-se às mesas de cafés em Fortaleza e desenhava residências elegantes para atrair os olhares curiosos de médicos, engenheiros e empresários que frequentavam ambientes abastados. Desejava demonstrar aos futuros clientes as habilidades de projetar e construir edificações. Húngaro nascido em abril de 1901 e radicado no Ceará, Hinko desenvolveu importantes obras que narram a historiografia da Capital: Hospital de Messejana, Base Aérea de Fortaleza, Igreja das Irmãs Missionárias, sede do clube Náutico Atlético Cearense, entre outras. No livro "Emílio Hinko, arquiteto - o último eclético: arquitetura e poder em Fortaleza", o arquiteto e urbanista Romeu Duarte resgata a plural trajetória do europeu na Cidade.
Ilustrado pelo também arquiteto e professor Domingos Linheiro e prefaciado por Lúcio Alcântara, ex-governador do Ceará e atual presidente da Academia Cearense de Letras, a publicação é acompanhada de um documentário elaborado pelo cineasta Roberto Bonfim. A obra de Romeu Duarte biografa a intensa participação de Hinko na arquitetura e na construção civil fortalezense durante mais de 50 anos. Formado em maquete e montagem na Europa, Hinko viveu a infância e a adolescência em Budapeste, trabalhou em Milão e estabeleceu-se em Fortaleza em 1929 até o ano de sua morte, em 2002.
"Este trabalho está na contramão do que se faz em Fortaleza com relação ao estudo da arquitetura e do urbanismo porque a gente tem valorizado exatamente os profissionais formados. A nossa escola sempre foi muito dura, muito rigorosa com relação a esse destaque de profissionais que eram no mínimo engenheiros, arquitetos, pessoas que faziam parte de um certo círculo da afetividade da Cidade. Eu acho que esse trabalho inaugura uma outra perspectiva ao lançar luz sobre a obra de alguém que sempre foi colocado numa situação de desvalorização — primeiro, por não ser brasileiro; segundo, por não ser arquiteto", destaca Romeu.
"Hinko era uma pessoa que sabia construir muito bem. Ele era não só versado em diversas linguagens, como também um arquiteto eclético — usava esse conhecimento para atender a demanda de uma clientela que tinha dinheiro, que queria destaque na Cidade. Por outro lado, ele sabia até produzir materiais de construção", completa.
Hinko utilizava linguagens como Art Déco, Art Nouveau e mission style de acordo com o que os clientes solicitavam. "Mas isso não quer dizer que ele não se preocupava com a salubridade do edifício, já que Hinko atentou-se à ventilação e iluminação, valores que trouxe da Europa. Ele sempre atendeu demandas de uma clientela que queria exatamente esse tipo de valorização na Cidade, essas residências mais ostensivas, e também fez trabalhos ligados à política", pontua o autor.
Para Romeu, conhecer a obra de Hinko é observar a arquitetura de Fortaleza de uma maneira mais aberta e mais inclusiva. Nas pesquisas arquitetônicas, a influência das construções modernas no Ceará se destacam: introduzidas principalmente pelos primeiros profissionais formados na Universidade Federal do Rio de Janeiro, como Neudson Braga e Liberal de Castro, esses prédios públicos e domicílios foram erguidos nas décadas de 1960 e 1970. "Mas falar de Hinko é importante porque a gente vive numa Cidade que prima pela informalidade: 90% do que é construído na Capital é a partir do trabalho de gente que não é arquiteto e nem engenheiro. Fortaleza tem uma cultura de arquitetura que é popular e que precisa ser estudada também, já que está espalhada na Cidade inteira. O caso de Hinko é diferente porque ele era um profissional culto, formado numa escola europeia, mas ele chegou na Cidade no momento em que não tínhamos muitos arquitetos para trabalhar e ocupava esse espaço múltiplo", acredita.
Com dois lançamentos previstos para os dias 27 de novembro e 3 de dezembro, o livro de Romeu pretende enaltecer personagens relevantes, mas esquecidos, desconhecidos ou desvalorizados da arquitetura cearense. "Emílio Hinko é aquele que foi sem ter sido", finaliza.
"Emílio Hinko, arquiteto - o último eclético: arquitetura e poder em Fortaleza",
Quando: sábado, 27, das 17h às 21 horas
Onde: CasaCor Ceará 2021 (Av. Rui Barbosa, 901, Meireles)
Quando: sexta, 3, das 17h às 21 horas
Onde: Cantinho do Frango (Rua Torres Câmara, 71, Aldeota)
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