Nos idos da década de 1980, o então jornalista e crítico de cinema do O POVO, Frederico Fontenele, idealizou o Troféu Samburá. Um prêmio para exaltar o audiovisual cearense e brasileiro. O objeto de reconhecimento se tornou um dos primeiros prêmios paralelos do Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema. Darcy Costa, primeiro presidente do Clube de Cinema de Fortaleza, quem teve a ideia do nome "samburá": um cesto, feito com entrançados de cipó, utilizado por pescadores para guardar acessórios e mantimentos. O artista Descartes Gadelha assina o design. Ao lado de Wilson Baltazar e Nirton Venâncio, Frederico coordenou a premiação por 23 anos. Após um período de hiato, por iniciativa do Vida&Arte, do O POVO, e da Fundação Demócrito Rocha (FDR), o troféu voltou ao Cine Ceará em 2017.
Esta 31ª edição do festival — que acontece em formato híbrido (on-line e presencial) de sábado, 27, a 3 de dezembro — marca os cinco anos de retorno da premiação. Na cerimônia de encerramento, prevista para ocorrer a partir das 19h30min, no Cineteatro São Luiz, o Vida&Arte e a FDR concedem o Troféu Samburá ao Melhor Filme e à Melhor Direção da Competitiva Brasileira de Curta-metragem do Cine Ceará. A mostra conta com 12 filmes selecionados. A programação presencial deve seguir os protocolos sanitários de distanciamento social e uso de máscaras, devido à pandemia da Covid-19.
O Troféu Samburá carrega o prestígio de ser um dos mais antigos prêmios de cinema no Estado. Quem lembra é o cineasta Wolney Oliveira, diretor do Cine Ceará. "O Troféu Samburá é um prêmio especial", atribui, ao passo que brinca: "É um troféu de peso, não só no conteúdo... Porque ele pesa muito! Mas também tem um peso simbólico, pelo fato de ser um troféu tradicional e com mais tempo do cinema cearense". Wolney ainda enfatiza: "Para os realizadores, é um prêmio importante. São cinco anos consecutivos de Samburá e a gente espera, com alegria, que essa parceria perdure".
A comissão julgadora do Troféu Samburá é presidida por João Gabriel Tréz, repórter e crítico de cinema do O POVO e membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). Além dos também jornalistas do O POVO André Bloc, Regina Ribeiro e Cinthia Medeiros, o júri de 2021 conta com a participação especial da artista e professora de fotografia Tamara Lopes.
João Gabriel Tréz pontua: "O júri do Samburá costuma variar a cada edição. Tenho a alegria de ser presidente das últimas três e, para marcar esse quinto ano de outorga do prêmio, nós juntamos algumas características importantes que nortearam as escolhas dos anos passados. Temos tanto um nome convidado muito especial, que é a fotógrafa Tamara Lopes, quanto nomes do O POVO que são importantes na história do Samburá. A Cinthia (Medeiros) era editora do Vida&Arte quando o troféu foi resgatado, o André foi o primeiro presidente do júri e a Regina é uma presença assídua e sempre enriquecedora".
O jornalista ainda destaca essa característica múltipla do Vida&Arte, para além de um caderno de cultura e entretenimento. A plataforma se desdobra em vários suportes e eventos pela Cidade. "Podermos nos somar, a partir do Samburá, ao Cine Ceará pelo quinto ano é uma alegria e uma responsabilidade enormes, ainda mais sabendo que as pessoas envolvidas estão juntas na defesa e na visibilidade da produção audiovisual não só do Ceará, mas do Brasil. Além da entrega do prêmio, toda a preparação anterior, as matérias produzidas pela equipe do V&A, a composição do júri, a própria deliberação que irá resultar na escolha das obras vencedoras... Enfim, são momentos de construção 'em tempo real' do cinema brasileiro e da memória dele".
A decisão de retorno do Samburá ao Cine Ceará, inclusive, partiu do entendimento sobre a proximidade entre o mais tradicional e longevo caderno de cultura do Estado e o principal evento de cinema do Ceará. Cinthia Medeiros explica: "O V&A e o Cine Ceará têm praticamente a mesma idade. Eles caminharam de forma paralela durante muito tempo. Esse reconhecimento é muito relevante, não só para os premiados, mas para nós... Por entender que o acompanhamento da produção cinematográfica local, nacional e até ibero-americana já acontece na nossa rotina, mas, além disso, darmos o nosso credenciamento para o prêmio. O Samburá leva o nome do Vida&Arte, resguardado por toda a relevância que a plataforma tem na cena cultural do Ceará. Enquanto co-participantes desse momento, estamos chancelando aqueles realizadores com o nosso olhar crítico, para além do caráter de espectador ou da cobertura jornalística".
Referência
Ao ser convidada para participar do júri do Troféu Samburá, a artista Tamara Lopes "topou na hora". Assim ela conta. "Reconheço a importância de participar de uma premiação como essa, porque ela está vinculada a um dos maiores veículos de comunicação do Nordeste e ao maior festival de cinema do nosso estado, o Cine Ceará". O sentimento foi de reconhecimento pelo seu trabalho. "Atuo desde 2012 na fotografia e é ótimo perceber que posso ser referência para outras pessoas negras de periferia que sonham com essa profissão", compartilha.
Tamara ainda comenta sobre responsabilidade e perspectivas do prêmio: "Estamos lidando com os sonhos de realizadores audiovisuais. Quem se inscreve acredita bastante no seu trabalho e essa escolha deve ser feita com muita criticidade e transparência. Tenho grandes expectativas, porque as pessoas que se propõem a realizar filmes no Ceará, bem como no país, fazem isso por paixão ao cinema. Infelizmente, não possuímos muitos incentivos e uma premiação como essa é a confirmação de que todo esforço e dedicação para a realização do curta deram certo".
Competidores
- "Ato", de Bárbara Paz (MG)
- "Ausências", de Antônio Fargoni (SP)
- "Chão de Fábrica", de Nina Kopko (SP)
- "Como respirar fora d'água", de Júlia Fávero e Victoria Negreiros (SP)
- "Encarnado", de Otávio Almeida e Ana Clara Ribeiro (PI)
- "Foi um tempo de poesia", de Petrus Cariry (CE)
- "Hawalari", de Cássio Domingos (GO)
- "Mar Concreto", de Julia Naidin (RJ)
- "O amigo do meu tio", de Renato Turnes (SC)
- "O Durião Proibido", de Txai Ferraz (PE)
- "O Resto", de Pedro Gonçalves Ribeiro (MG)
- "Sideral", de Carlos Segundo (RN)
Vencedores Samburá
2020
- Filme: "O Barco e o Rio", de Bernardo Ale Abinader
Direção: "A Beleza de Rose", de Natal Portela
2019
- Filme: "Ilhas de Calor", de Ulisses Arthur
Direção: "Rua Augusta, 1029", de Mirrah Iañez
2018
- Filme: "O Vestido de Myriam", de Lucas H. Rossi
Direção: "Plantae", de Guilherme Gehr
2017
- Filme: "Valentina", de Estevão Meneguzzo e André Félix
Direção: "Vando Vulgo Vedita", Andreia Pires e Leonardo Mouramateus
31º Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema
Quando: deste sábado, 27, a 3 de dezembro
Onde: presencial, no Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro) e Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema); virtual, no Canal Brasil, Canais Globo e Globoplay e no canal "31º Cine Ceará - Oficial" no YouTube
Mais info: www.cineceara.com
Gratuito
Colunistas sempre disponíveis e acessos ilimitados. Assine O POVO+ clicando aqui