O gênero musical punk rock é, por definição, marcado pela dissidência. No Festival Rockarte, evento organizado pelo Theatro José de Alencar que acontece neste sábado, 4, duas bandas da cena hardcore underground da Capital se apresentarão na Praça Mestre Boca Rica. Os grupos Brinde à Revolta e Old Friends serão as atrações, em performances que marcam a volta dos eventos culturais após quase dois anos de pandemia.

Em entrevista ao O POVO, Lauro Caracas, baixista e backing vocal da banda Old Friends, falou sobre como nasceu a ideia de criar um grupo punk que cantasse músicas autorais, influenciadas pela situação global de crise, em meio ao período de isolamento social do ano de 2020.

“Somos três amigos de infância que pegamos muita onda juntos, ouvindo as mesmas bandas e curtindo o mesmo som. No período mais difícil da pandemia, com tanto medo e insegurança ao nosso redor, decidimos começar a Old Friends para canalizar essa situação em arte e em cultura, além de poder deixar nossa marca no cenário hardcore brasileiro.”

As origens da música punk não são claramente definidas, mas ao longo dos anos 70 e 80, foi se delineando como um som de rebeldia e de contradição. Adotando uma estética clara, sempre no sentido contrário do status quo, grupos de punk rock como Green Day e Ramones, e os nacionais Sugar Kane e Dead Fish, personificam a transgressão de ideias e a contestação das leis sociais implícitas - e explícitas.

Sobre o cerne das letras da banda, Caracas afirma: “Não temos como não protestar, não podemos nos calar diante do outro. Arte é isso, é implicância , é colocar o dedo na ferida da sociedade, fazer com que as pessoas pensem e reflitam sobre o ambiente em que se inserem. A alma do punk é isso, mostrar o que existe por trás do véu.”

Mesmo com tantas influências internacionais, os integrantes da Old Friends acreditam que seus papéis como artistas cearenses é carregar as marcas da cultura do Nordeste nas suas vozes. No estúdio, Lauro Caracas explicou que o sotaque dos músicos não é alterado ou suprimido digitalmente, pois é a partir dessa identidade sonora que se inicia o protesto político. “Nossa voz traz esse aspecto regional, e nós gostamos disso. Como nordestinos, somos a contracorrente desse governo, não elegemos nem apoiamos fascistas; isso é o punk.”

O primeiro single da banda, “Máscaras”, foi escrito e produzido pelos integrantes ainda no período de isolamento, por meio de conversas no aplicativo Whatsapp. Entre mensagens, os músicos elaboraram a letra e o instrumental, construindo uma música que fala sobre a experiência de não saber o que virá amanhã, a incerteza e o pavor sentidos ao redor do mundo, mas também sobre como a arte é capaz de canalizar o medo e transformá-lo em esperança.

O festival Rockarte, em sua primeira edição, é uma iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), responsável pelo Theatro José de Alencar, que funciona sob a administração do Instituto Dragão do Mar (IDM). a Secult apoia vários outros eventos de incentivo à música, como o longevo Festival ForCaos, de rock pesado, que chegou à sua 22ª edição em 2021.

A importância desse momento não escapa aos artistas. Em um país que passa por momentos de intensa turbulência social, econômica e política, a oportunidade de se posicionar por meio da música com o apoio do Theatro é especial. “A proposta do festival é essa, trazer bandas independentes e apostar na nossa arte. Queremos trazer bandas grandes que atraiam público e bandas locais menores que precisam desse apoio. Produzir cultura é uma aposta, e só nós sabemos o quanto custa.” conclui o músico.

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I Festival Rockarte

Quando: hoje, às 18h30min
Onde: Praça Mestre Boca Rica/ Anexo do TJA (entrada pela Rua 24 de Maio, 600 - Centro)
Capacidade: 200 pessoas
Gratuito (Obrigatório o uso de máscara de proteção e a apresentação de comprovante com as duas doses da vacina contra a Covid-19)

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