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Exposição "Janelas da Pandemia" é inaugurada na estação BRT Jornal O POVO
Vida & Arte

Exposição "Janelas da Pandemia" é inaugurada na estação BRT Jornal O POVO

Exposição virtual e presencial "Janelas da Pandemia" ganha inauguração em plataforma on-line e na estação BRT Jornal O POVO, em Fortaleza
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'Janelas da Pandemia' está disponível na Estação BRT Jornal O POVO (Foto: Fernanda Barros Especial Para O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS 'Janelas da Pandemia' está disponível na Estação BRT Jornal O POVO (Foto: Fernanda Barros Especial Para O Povo)

Uma menina fantasiada de borboleta olha a rua pela sua janela. Ela pode observar o ambiente exterior somente dentro de sua casa, porque não há a possibilidade de sair mundo afora. Suas asas estão presas entre as grades impostas por seu lar. O momento, registrado pelos olhos de Guilherme Bergamini Mascarenhas, é semelhante a uma outra imagem de Sueley Cesidio da Rocha. Nesta, uma mulher e seu cachorro contemplam o movimento da rua e de moradores de outro prédio - um cotidiano que já parecia tão distante para pessoas que passaram meses em isolamento social rígido. As duas fotografias estão na exposição presencial "Janelas da Pandemia", uma iniciativa da Fundação Demócrito Rocha, que está aberta para visitações na Estação BRT Jornal O POVO (av. Aguanambi), em Fortaleza.

O projeto traz 16 fotos produzidas por profissionais e amadores durante o distanciamento social provocado pelo coronavírus. Na parte presencial, além dos citados, estão Jhoe Alecrim, Luiz Teixeira Mendes, Paula Matthews, Rômulo Santana, Matine, Italo Leite, Luan de Castro Tremembé, Fabrizzo, Apolo Sales, Tanda Melo, Sabrina Rocco, Roberta MM, Léo Ferreira e Tom Araújo. Eles mostram as várias experiências de estar distante da sociabilização, expondo suas fragilidades íntimas, suas inseguranças e suas vivências em um dia a dia que mudou de repente. A mostra é a primeira em uma estação da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor). De acordo com Antônio Ferreira, vice-presidente da Etufor, essa exposição também é pioneira em uma estação de ônibus no Brasil.

Ainda há uma versão on-line, que reúne 50 imagens no site da FDR. Os conteúdos foram escolhidos a partir de uma inscrição em novembro. No total, mais de 1.700 fotografias foram submetidas pelo formulário virtual. "Tem muita introspecção, muita reflexão, muitas dúvidas, muita dor e muita solidão, mas também tem esperança. Então a gente trouxe tudo, sem esconder os sentimentos. Chegamos aqui para podermos celebrar a vida, mas também para refletirmos sobre tudo o que aconteceu", explica Cliff Villar, diretor corporativo do O POVO.

A exposição "Janelas da Pandemia" integra a programação do Corredor Cultural Vida&Arte, que aconteceu com uma série de atividades culturais no último sábado, 4 de dezembro. "É um evento muito voltado para esse momento que estamos vivendo, de reabertura e renascença da vida, mas também de reflexão. Eu sempre costumo falar que é um momento feliz, porque nós estamos vivos e contando essa história, mas também é um momento para lembrarmos pelo que passamos. Não é um sentimento de esquecimento. Isso foi refletido, por exemplo, no concurso fotográfico, que é um soco no estômago e é a realidade. Você vai fazer um concurso fotográfico com o tema 'Janelas da Pandemia', e o que você espera?", comenta Cliff sobre o processo de produção da programação do evento e sobre a relação com a mostra.

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Poesia e juventude

Entre as atrações do corredor cultural, houve a apresentação do Coletivo Poesie-se, um grupo de jovens da rede pública de ensino que se uniu para entrelaçar a música e a literatura com o objetivo de discutir temas relevantes para suas realidades. No sábado, 4, eles declamaram poemas, cantaram músicas de Cazuza e citaram vários símbolos da resistência no Brasil, como Maria da Penha. Abordaram ainda as experiências de ser uma juventude que atravessa as vivências das minorias: ser mulher, ser negro e ser da periferia. "Muitas das poesias e das músicas são atemporais. O passado se repete no presente. Os questionamentos do Cazuza são os mesmos dos nossos, de hoje. Compositores e artistas da nossa atualidade, que têm experiências semelhantes às nossas, conseguem mostrar essas experiências que estamos vivendo", afirma Marcos Vinicius Santos da Silva, de 18 anos, um dos integrantes do grupo.

O movimento estudantil surgiu dentro da escola pública de ensino médio Dr. Cesar Cals. No começo, os encontros aconteciam no colégio e propunham questionamentos sobre a juventude atual. Agora, o propósito continua o mesmo, mas houve a reformulação das atividades para o virtual para respeitar as medidas de isolamento social e para possibilitar uma maior acessibilidade entre os membros. "Durante a pandemia, a gente teve esse déficit no sentido de não conseguirmos nos reunir. Normalmente, a gente se reunia no turno contrário às aulas. Agora a gente está se reunindo on-line por causa da logística, porque muitos trabalham. Então é meio complicado a reunião presencial. Sempre estamos nos reunindo e nos comunicando, principalmente, pelo Whatsapp", pontua Marcos Vinicius.

Ele afirma que as apresentações sempre buscam gerar reflexões. "A gente trata da questão do jovem, no sentido de questionar sobre a sexualidade ou sobre a identidade racial. A gente reflete sobre isso e traz à tona também questionamentos políticos. A gente está sempre em constante movimento. É sempre interessante a gente estar gerando essas indagações e plantando essa sementinha da dúvida, do sempre estar em movimento, do novo", ressalta.

Humor para o mundo real

Outra parte da programação do Corredor Cultural Vida&Arte foi a oficina de palhaçaria com Márcio Acserald, professor de psicologia, coordenador do Cineclube da Universidade de Fortaleza (Unifor) e do Labgraça: Laboratório de Estudos do Humor e do Riso. No sábado, o profissional abordou a importância de "libertar o palhaço interior" em uma sociedade que exige a seriedade. "É um convite para as pessoas conhecerem um personagem muito conhecido, mas também muito pouco conhecido, que é o palhaço. Geralmente, você pensa no palhaço no circo, no picadeiro, na televisão. O objetivo da experiência é mostrar que o palhaço mora dentro da gente. Só que a gente recalca, esquece e finge que não vê. A gente vive em uma sociedade que precisa ser muito séria, eficiente, competente… Então o objetivo é tentar liberar esse lado criança que a gente tem, mas que geralmente a gente deixa guardado, bem escondido para ninguém ver", discorre Márcio Acserald.

Segundo ele, o humor é importante neste período, mas pouco considerado. "Temos que sempre fazer uma cara séria, ter uma postura... Mas acho que isso pode ser muito prejudicial, porque você vai enrijecendo, vai ficando duro. E o humor é o contrário disso: é uma coisa livre, solta e contagiante. Nesse momento que a gente vive, não precisa nem dizer a importância disso. Acho que o humor é cada vez mais terapêutico e fundamental. A gente vai precisar muito disso para sair dessa enrascada", indica. A oficina está disponível no canal do Youtube do O POVO Online.

Coletivo Poesie-se

Mais informações: Instagram @coletivo.poesie.se

Janelas da Pandemia

Onde: estação BRT Jornal O POVO (av. Aguanambi) e no site da Fundação Demócrito Rocha
Mais inf.: Instagram @fundacaodemocritorocha

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