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V&A Convida: Alexandre Carlo revisita 25 anos de Natiruts em entrevista
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V&A Convida: Alexandre Carlo revisita 25 anos de Natiruts em entrevista

|cartola|A banda de reggae Natiruts lançou neste ano álbum com mensagens de positividade e esperança. Ao V&A Convida, o vocalista Alexandre Carlos fala sobre o disco e analisa a carreira do grupo
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Foto: Divulgação/Thais Mallon Com Luís Maurício (esquerda), Alexandre Carlo (direita) e parcerias com outros artistas, o Natiruts lançou em maio o "Good Vibration Vol. 1";

Uma saída no carro rumo à praia, com as janelas abaixadas e o vento soprando nos cabelos dos ocupantes do veículo: é provável sentir leveza nessa situação. Para ajudar nesse sentimento, uma música também pode ser um bom caminho: "Quero tudo good vibration / Onde a alegria é dom / Quero tudo good vibration / Energia e som". Os versos, entoados pela cantora Iza, são da música que intitula o oitavo álbum de estúdio da banda de reggae brasiliense Natiruts.

A composição é apenas uma das peças de uma produção que busca transmitir vibrações de alegria, saúde e leveza. Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, o vocalista Alexandre Carlo fala sobre o processo de construção da obra, a positividade que o trabalho reforça mesmo na pandemia e relembra os 25 anos de carreira do grupo.

Com milhões de seguidores nas redes sociais e milhares de cópias vendidas com seus álbuns, o Natiruts é responsável por sucessos como as músicas "Quero Ser Feliz Também" e "Me Namora". O álbum "Good Vibration Vol. 1" reúne nove faixas e colaborações com diferentes artistas. A primeira parte foi lançada em maio e, além disso, marca o retorno em turnê do grupo, começando por Fortaleza.

O trabalho aponta para uma característica que nunca deixou de acompanhar o Natiruts: a busca por transmitir mensagens positivas e de esperança. Entretanto, com o triste número de vítimas e pessoas afetadas pela Covid-19 no Brasil durante a pandemia, como seria agir da mesma maneira? O vocalista aponta para a "sensibilidade" artística de entender o que estava ocorrendo no País e permitir que a banda pudesse servir como uma ponte para a esperança de dias melhores:

"A saúde mental já era bem presente no universo do Natiruts por conta das nossas letras, mas não era tão comentada como é hoje na pandemia. Apesar do pessimismo desse período, nós sabemos, enquanto banda, da nossa função para a sociedade brasileira: escrever canções que elevem a energia, o pensamento e tragam esperança em momentos que talvez as pessoas não vejam uma luz no fim do túnel".

Alexandre acrescenta: "Nós sabíamos que as pessoas que já ouviam Natiruts iriam procurar no nosso disco uma mensagem de suavidade, de alento e de esperança, e não uma mensagem de tragédia e de que nada daria certo".

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Se os fãs do Natiruts já esperavam um trabalho que reforçasse, mais uma vez, as mensagens transmitidas pela banda, talvez tenham se surpreendido com a quantidade de parcerias existentes no "Good Vibration Vol. 1". Afinal, esse é o álbum mais colaborativo do Natiruts, com Iza, Carlinhos Brown, Melim, Planta & Raiz e outros artistas marcando presença na obra.

A "coragem" do grupo de "inserir dentro do seu reggae outros estilos" vem desde os anos 2000, um ato que, na visão de Alexandre, contribuiu para bandas mais recentes "não terem vergonha" de colocarem sua "brasilidade" no reggae, auxiliando o ritmo a buscar um caminho "mais original e não uma mera imitação da música jamaicana".

Música típica nacional da Colômbia, cúmbia, por exemplo, também está no disco. É possível perceber, então, o caráter eclético da mais recente produção: "É um disco bem variado, bem eclético e que aponta o reggae brasileiro para uma construção própria, sem necessariamente ser o reggae jamaicano - e isso com reconhecimento de nomes relevantes da Jamaica", comenta Alexandre.

Uma outra parceria marcante no "Good Vibration Vol. 1" ocorreu na música "América Vibra". Alexandre Carlo, Ziggy Marley (filho do Bob Marley) e a atriz mexicana Yalitza Aparício (Roma) costuram com seus vocais clamores por sociedades mais justas e por menos divisões entre as pessoas. Não à toa são entoados os versos "Não queremos paredes, somos pontes / Não queremos fome, somos vida / Não queremos armas, somos a paz / Não queremos ódio, somos amor". Tons de reivindicações e mensagens de paz que, novamente, marcam o Natiruts.

A música foi composta durante as eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos. Na disputa entre Donald Trump e Joe Biden, um "processo bastante acirrado" e preocupações com ideias extremistas surgiram como inspirações para a canção. Com as participações de Ziggy, que tem vivência nos Estados Unidos, e da mexicana Yalitza, os muros entre os dois países são quebrados durante a composição. Iniciada por um violão andino, a obra une diferentes vozes em um mesmo apelo.

"Nós lançamos o 'América Vibra', que, nesse caso, não tem nada a ver com a América como o estadunidense vê. É a 'América' como continente. Quanto ao 'Vibra', essa é uma marca da banda que vem desde antes da pandemia. Quando o Ziggy Marley aceitou a parceria e gostou da canção, ficamos muito felizes, porque foi a maior confirmação que uma banda de reggae pode ter. Confirma que o legado do Natiruts é importante e que o caminho foi correto", relata Alexandre.

Olhando para trás e analisando esses 25 anos de estrada do Natiruts, Alexandre Carlo é enfático ao dizer que toda a trajetória e as conquistas do grupo vieram a partir de "muito trabalho". O foco da banda, como o próprio vocalista afirma, não deixou de ser a "mensagem" entregue pelas composições e a qualidade de suas produções.

"Sempre levamos muito a sério o nosso trabalho, principalmente as mensagens que iríamos passar para as pessoas e a entrega que fazemos a elas. Quando as pessoas compram nossos discos nós temos a ideia em nossas cabeças de que não podemos fazer algo de qualquer jeito só porque a pessoa é fã", enfatiza Alexandre.

Assim, para a banda, o movimento foi sempre claro: oferecer as melhores produções e os melhores serviços a quem a acompanha. Diante disso, o Natiruts foi construindo, ao longo de sua carreira, características marcantes que o destacavam em qualquer circunstância. Difícil não lembrar, por exemplo, de shows do grupo em Fortaleza no final do ano, como em 2014 e em 2016.

"Começamos a querer entregar também um evento bacana para quem fosse assistir ao Natiruts, e assim fomos construindo uma relação muito bonita de as pessoas saberem que no fim do ano terá um evento em que se sentirão bem, com canções que falam de amor, amizade e energia boa", acrescenta.

No próximo dia 18, as "boas vibrações" promovidas pela banda retornarão à Fortaleza na turnê homônima do disco de 2021. Quanto a 2022, o primeiro projeto está definido para o Natiruts: lançar o segundo volume do "Good Vibration" ainda no primeiro semestre. Apesar de admitir o pensamento sobre outras iniciativas pela banda, Alexandre acredita ser necessário ainda "esperar amadurecer mais" as novas ideias. Um anúncio, então, de que as mensagens de positividade do grupo de reggae ainda ecoarão em outros trabalhos.

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