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Conheça lugares para se reconectar com a natureza dentro da metrópole
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Conheça lugares para se reconectar com a natureza dentro da metrópole

Na contramão das buzinas de carro, trânsitos que duram horas, prédios acinzentados e ruas asfaltadas, a Cidade também oferece respiros com áreas verdes
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 17.08.2020: Ecossistemas da cidade de Fortaleza - Sabiaguaba (Foto: Thais Mesquita/O POVO) (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FORTALEZA, CE, BRASIL, 17.08.2020: Ecossistemas da cidade de Fortaleza - Sabiaguaba (Foto: Thais Mesquita/O POVO)

O brasileiro comum acorda de manhã junto com o nascer do sol. Ele precisa enfrentar um longo dia pela frente e, por isso mesmo, levanta-se da cama e prepara o café da família. Ao som dos passarinhos ao redor de sua casa, arruma-se para o trabalho e ajuda os filhos a irem para a escola. De carro, de ônibus ou a pé, deixa os meninos na porta do colégio e segue para o trabalho. Passa quatro horas ininterruptas de expediente dentro de uma sala de escritório acinzentada. Descansa por um curto período para almoçar a marmita que estava pronta na noite anterior e retorna à labuta. O sol já se pôs há horas quando sai do expediente e passa pelo trânsito, em meio ao caos dos sons de buzina e luzes fortes dos automóveis. Ao chegar no lar, tudo se repete: precisa fazer a comida do dia seguinte, arrumar os cômodos e cuidar das crianças.

O cotidiano não concede tanto espaço para que as pessoas se reconectem com seu estado mais natural. A apreciação da natureza e, portanto, o contato com a condição pura do humano sempre fica para depois, na esperança de um futuro que talvez não chegue. Alguns encontram alternativas em seu dia a dia: cultivam plantas dentro de seus prédios de concreto ou param para apreciar a paisagem entre um sinal vermelho e outro. A partir destas situações, o Vida&Arte separou uma lista de lugares para você visitar e reunir-se com as paisagens naturais que a região metropolitana proporciona - porque, sim, ainda há natureza nas grandes cidades.

Museu Brinquedim está localizado em Pindoretama, na região metropolitana de Fortaleza
Museu Brinquedim está localizado em Pindoretama, na região metropolitana de Fortaleza

Museu Brinquedim

Antonio Jader Pereira dos Santos, conhecido somente como Dim Brinquedim, cresceu em meio à natureza. Quando era criança, andava nas matas, brincava embaixo das sombras das árvores, coletava frutos silvestres nativos (puçá, guabiraba, murici e jatobá) e tinha contato direto com os animais. Ele virou adulto, tornou-se artista e fez uma turnê pelo Brasil. Retornou ao Ceará, porém, para morar em um sítio, onde tinha o objetivo de oferecer aos seus filhos o mesmo contato com os espaços naturais que teve durante sua própria infância. Ao mesmo tempo, as pessoas o procuravam com curiosidades acerca de seu trabalho. Surgia, assim, o "Museu Brinquedim".

Em sua casa em Pindoretama, criou um ambiente para que o público pudesse conhecer suas produções artísticas, além de se reconectar com as brincadeiras e a natureza. "Observar a natureza me deu uma grande liberdade de criar. Quando observo a natureza, percebo que nela não existe um padrão. Cada flor, cada ser é diferente um do outro, mas todos são perfeitos. Observar a natureza aguçou a minha percepção e alimentou a minha criatividade", explica.

Sua produção ainda tem conexão direta com a reciclagem. Esse processo aconteceu logo no início, quando não tinha dinheiro suficiente para comprar materiais, mas permaneceu por causa de sua consciência sustentável. "Hoje reciclo e mantenho uma pequena reserva florestal, mas meu cuidado com a natureza vem desde a infância. Sempre estive imerso em seu meio e não sou feliz vivendo de outra maneira. Uma coisa que se recicla é um objeto a menos que vai poluir, e, se reaproveitarmos o que temos de lixo, não vamos mais precisar tirar da natureza", diz.

Dim Brinquedim considera que a relação com o lúdico e com a natureza é essencial - tanto para crianças, quanto para adultos. É neste contato que as pessoas se apropriam da vida. "Quando a criança está em contato com a natureza, ela interage com as estações como novidade, brinca na chuva, se alegra com os bichos e se refestela com as flores e frutas da estação. E o lúdico traz a alegria e a vontade de ver o outro dia, de esperar o que vai ter de novidade. Se a criança desenvolve seus afetos para com o mundo em uma experiência lúdica, ela aprende a amar a vida", reflete.

Em sua opinião, faz-se necessário que as pessoas respeitem mais a cidade. "As cidades têm que ter mais parques e áreas verdes, o direito ao verde é imperativo e urgente, pois cada dia está mais quente, já começamos a torrar", caracteriza. "Apesar da natureza se apresentar generosa e fantástica, tem gente que destrói. É uma irresponsabilidade gigante de quem não aprendeu a amar e a respeitar a natureza na infância. Eu acredito que todo mundo deve ter o direito de ter contato com a natureza. Todo mundo tem que ter oportunidade de sentir a natureza, de aprender amá-la e protegê-la".

Serviço

Quando: de terça-feira a domingo, das 9h às 17 horas

Onde: em Alto Alegre, Pindoretama

Quanto: meia-entrada por R$ 10 e inteira por R$ 20

Mais informações: pelo telefone (85) 99254.9637 ou pelo perfil do Instagram @museubrinquedim

FORTALEZA, CE, 06-12-2021: Vida&Arte desse domingo é sobre ambientes naturais e sobre a reconexão das pessoas com a natureza dentro da metrópole. A Floresta Urbana Sombra do Cajueiro, um lugar que se define como
FORTALEZA, CE, 06-12-2021: Vida&Arte desse domingo é sobre ambientes naturais e sobre a reconexão das pessoas com a natureza dentro da metrópole. A Floresta Urbana Sombra do Cajueiro, um lugar que se define como "refúgio agroflorestal integrado à permacultura urbana" e foi idealizado por Lucas de Mattos. As fotos destacam os espaços e a área verde do espaço, além de retraros de Lucas. Parque Iracema, Fortaleza. (BÁRBARA MOIRA/ O POVO) 

Sombra do Cajueiro

O ano era 1989 quando a família de Lucas de Mattos se mudou para o lugar que atualmente está localizado na rua Cônego Braveza, na Cidade dos Funcionários - mais especificamente no Parque Iracema. No final daquela década, a região ainda era muito rural. E, por isso, ele teve contato com a natureza de uma maneira cotidiana. "Quando foi mais tarde, eu entrei na faculdade e comecei a plantar algumas árvores avulsas. As pessoas que chegavam, meus amigos, sempre traziam relatos muito fortes do impacto que visitar esse ambiente causava. Um espaço que, para mim, era uma coisa natural, não era para os outros", recorda o hoje agricultor florestal e consultor agroflorestal.

Organicamente, abriu o espaço, que se tornou a floresta urbana "Sombra do Cajueiro", definida como um "refúgio agroflorestal integrado à permacultura urbana". Já foram catalogadas mais de 70 espécies de aves, além de invertebrados e outros animais que contribuem para a diversidade, como corujas e iguanas. Em relação à fauna, há plantações de graviola, sapoti, abacaxi, cacau, cupuaçu, romã e outras.

"A primeira importância (de preservar ambientes naturais no contexto urbano) é orgânica. Quando a gente vê qualquer documentário, eles martelam na questão do desmatamento no meio urbano. A gente está buscando manter esses espaços naturais. Também acho que auxilia a fazer uma recordação até que ancestral. De alguma maneira, esse contato leva a fazer decisões mais de dentro para fora", explana Lucas de Mattos. Para ele, reconectar-se com a natureza é voltar ao status mais natural do ser humano. "É vital. A gente é privado de algo, hoje, que é o status natural de ser. E isso vem nos adoecendo de alguma maneira. Talvez a importância daqui seja ter um ambiente onde as pessoas possam viver e retomar esse contato primordial com a natureza", pondera.

A floresta Sombra do Cajueiro oferece, como programação fixa, aulas de yoga para adultos e adolescentes de terça-feira a sexta-feira. Além disso, há atividades de agricultura urbana e aglofloresta às terças-feiras, denominadas "Pé no Chão", que são voltadas para o público infantil e promovem o contato direto com a natureza com o objetivo de, desde a infância, fomentar uma consciência ambiental.

Serviço

Quando: todos os dias, a partir das 6 horas

Onde: rua Cônego Braveza, 2013 - Parque Iracema, Fortaleza

Mais informações: pelo telefone (85) 99600.5980 ou pelo perfil do Instagram @sombradocajueiro

Parque Botânico do Ceará está aberto para visitações todos os dias
Parque Botânico do Ceará está aberto para visitações todos os dias

Parque Botânico do Ceará

Quem adentra o Parque Estadual Botânico do Ceará se depara com uma flora que faz referência a diferentes biomas, como a mata de tabuleiro, o cerrado, a caatinga e o manguezal. O lugar, que foi considerado uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, preserva o ecossistema natural e permite a realização de pesquisas, o desenvolvimento de atividades educativas, as ações de recreação e o turismo ecológico. Por isso, há trilhas guiadas que podem ser agendadas. Ainda há oficinas, cursos e outras campanhas que ocorrem eventualmente.

"O Parque Botânico tem auditórios climatizados, museu do meio ambiente, o orquidário. Tem o meliponário, que é um espaço de cultivo das abelhas nativas para visitação e conhecimento. Tem o horto medicinal, que é só para cultivo de plantas nativas ou medicinais. Temos o viveiro de mudas, que é o maior viveiro de plantas nativas do Estado, onde são produzidas mais de 120 mil mudas para distribuição para todo o Estado do Ceará", cita George Feijão, gestor do Parque Estadual Botânico do Ceará.

A ideia para fundação do espaço surgiu em 1995, como iniciativa do ambientalista Renato Aragão. Durante o governo de Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, ele pensou em retomar essa área que tinha sido primeiro cedida à Marinha do Brasil, mas que depois retornou ao poder estadual. "Neste ano, ele completa 25 anos e, por isso, planejamos um festival em janeiro", explica. De acordo com o responsável, haverá a entrega de obra de requalificação, além da inauguração de novos espaços.

Serviço

Quando: de segunda-feira a sábado, das 8h às 12 horas e das 13h às 17 horas; domingo, das 8h às 12 horas

Onde: rodovia CE 090, Km 03 - Caucaia

Telefone: (85) 3368.9452 ou (85) 98726.0141

A Floresta do Curió conta com trilhas e outras atividades para públicos diversos
A Floresta do Curió conta com trilhas e outras atividades para públicos diversos

Floresta do Curió

Entre a Lagoa Redonda e o Curió, encontra-se a Área de Relevante Interesse Ecológico do Sítio do Curió, mais conhecida como "Floresta do Curió". O espaço, que é uma unidade de conservação ambiental, abrange 57 hectares de uma vegetação de mata de tabuleiro. Por manter um bioma de transição, há árvores da caatinga, assim como há plantas típicas da Mata Atlântica. "Podemos encontrar o visgueiro, as pacaviras, além de uma vegetação pioneira, como o torém. Há angelins, cajueiros, buritis", ressalta a gestora Izaura Lila Ribeiro. Em relação à fauna, indica: "há uma riqueza muito grande de aves. Tem vários passarinhos diferentes, como o beija-flor, o jacu, o pica-pau… Além disso, existe uma diversidade de répteis, de cobras, de lagartos e até de raposas".

No local, é possível agendar para realizar trilhas guiadas em grupos, como também as pessoas podem optar por conhecer o espaço sozinhas. "A floresta é bem sinalizada, as trilhas são de fácil acesso, simples e sombreadas. Então é muito tranquilo fazer esse passeio sozinho. Inclusive, é uma opção muito bacana de lazer", afirma.

Serviço

Quando: terça a domingo, das 6h às 15 horas

Onde: avenida Professor José Arthur de Carvalho, s/n - Lagoa Redonda

Telefone: 3101.5550

 

Gastronomia e natureza

Quem mora em Fortaleza já deve conhecer - pelo menos de nome - o Tempero do Mangue. Para aqueles que gostam de sair para comer e permanecer em lugares privados, o restaurante e bar permite uma reconexão com a natureza ao mesmo tempo que oferta um cardápio de comidas regionais. O lugar, que é aberto somente nos sábados, nos domingos e nos feriados, tem os típicos pratos do Nordeste: feijão verde, isca de peixe, moqueca de arraia, tilápia, carne de sol, macaxeira frita e outros.

Mas as opções para alimentação não são o único ponto principal. O estabelecimento tem poltronas para quem quer assistir ao sol se pôr na Sabiaguaba. Em frente ao local, há a paisagem do mangue, repleta de árvores, dunas e o rio Cocó.

Para entrar, é necessário apresentar o cartão de vacina contra o coronavírus e o documento de identificação, de acordo com o decreto do Governo do Estado do Ceará. O restaurante está disponível para reservas de eventos privados, como casamentos, aniversários e outras festividades. Também já foi iniciada a programação de pré-carnaval, assim como houve a divulgação do Ano Novo do estabelecimento comercial.

Serviço

Quando: sexta-feira, das 16h às 22 horas; e sábado e domingo, das 11h às 21 horas

Onde: rua Valdir Bezerra, 100 - Sabiaguaba, Fortaleza

Mais informações: pelo perfil do Instagram @temperodomangue

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