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Dia Nacional do Forró celebra gênero eleito patrimônio nacional
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Dia Nacional do Forró celebra gênero eleito patrimônio nacional

Dia Nacional do Forró é celebrado nesta segunda, 13. Gênero foi declarado patrimônio imaterial brasileiro pelo Iphan
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Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, publicou no Diário Oficial da União, na última sexta-feira (05/11), o Aviso de Tramitação da proposta de registro das Matrizes Tradicionais do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil.   (Foto: Luiz Santos/ Iphan)
Foto: Luiz Santos/ Iphan Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, publicou no Diário Oficial da União, na última sexta-feira (05/11), o Aviso de Tramitação da proposta de registro das Matrizes Tradicionais do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil.

"Quando toca o forró/ Todo mundo quer dançar/ Todo mundo se sacode/ O mundo a sacolejar". Ao som da sanfona sentida e do fole fungado, o forró castiga devagarinho: a poeira sobe, o suor desce, o corpo dança nos braços do xodó. Nesta segunda-feira, 13 de dezembro, celebra-se o Dia Nacional do Forró — data do aniversário de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião. Ritmo que cresceu 65% em números de streaming nos últimos seis meses de 2020 no aplicativo Deezer e liderou as plataformas neste ano em suas batidas eletrônicas, o forró que conquistou o Brasil de Norte a Sul consagrou-se também como patrimônio imaterial do País.

Supergênero que agrupa ritmos e expressões como baião, xote, xaxado, chamego, miudinho, quadrilha e arrasta-pé, o forró é reverenciado nas mais diversas gerações da música nacional. A cantora Iara Pamella, que foi vocalista da banda Noda de Caju, cresceu ao som de sanfonas, triângulos e zabumbas: "Esse ritmo faz parte da minha vida, faz parte da minha história. Eu cresci escutando Luiz Gonzaga e cheguei a conhecê-lo quando eu tinha 12 anos e cantava no coral na Rádio Difusora em Pernambuco… O coral fez uma homenagem ao Luiz Gonzaga e ele foi. Fico extasiada com tudo isso", relembra.

Conhecida por sucessos como "Pétalas Neon", "Meu Vício" e "Lindos Momentos", Noda de Caju vendeu mais de oito milhões de discos e hoje é referência no movimento “Forró das Antigas”, que reúne bandas da década de 1990. "Quando o Noda de Caju chegou ao Ceará foi como um furacão invadindo todos os corações, invadindo os ouvidos e a mente das pessoas com a música 'Meu Vício'. Nós tocávamos em grandes casas de show que eu tenho até saudade, como Clube do Vaqueiro, Parque do Vaqueiro, Pau de Arara, Cajueiro Drinks, Sítio Siqueira, Brisa do Lago… Nossa, meu Deus, eram tantos shows aqui em Fortaleza! Encontrávamos muito com grupos como Forró Real, Brasas do Forró, Forró Chicote (Recife), Limão com Mel", destaca ainda Iara Pamella.

Na nova geração do forró, caracterizada pelo uso de teclados e sintetizadores eletrônicos, a referência ao ritmo se atualiza. Nascido em Sobral e criado em Tianguá, o cantor Nattan se interessou pela música ainda na escola. "A música foi algo que entrou na minha vida desde pequeno, com incentivo dos familiares e dos amigos desde muito novo. Ganhei o primeiro violão de presente de minha mãe, estudo música e busco ter referência de grandes artistas. Com o forró não é diferente, já que esse gênero que impacta a vida de tantos brasileiros conta com uma história tão rica e com tantos mestres incríveis como é o caso de Luiz Gonzaga, que sem dúvida se torna uma inspiração não só pra mim, mas para diversos artistas que dão continuidade ao seu legado", pontua o jovem de 21 anos. Um dos principais nomes da nova onda forrozeira, Nattan estourou com hits como "Morena" e parcerias com Raí Saia Rodada ("Storiezin"), Zé Vaqueiro ("Não te quero") e Elias Monkbel ("O carpinteiro").

Na última quinta-feira, 9, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou o forró como patrimônio imaterial brasileiro por unanimidade. "Me deixa extremamente realizado saber que esse ritmo que é um verdadeiro ícone cultural de nossa região ganhou um reconhecimento nacional tão relevante como esse", comemora Nattan. "Para mim, é uma honra poder ter a minha parcela de contribuição para a história desse gênero construída por artistas sensacionais e que se empoderam dia a dia para dar continuidade a essa trajetória", complementa.

A organização responsável pela formalização do registro do forró como patrimônio cultural imaterial brasileiro foi a Associação Balaio Nordeste por meio da presidenta Joana Alves. Neste ano, o 1º Fórum Estadual de Forró de Raiz do Ceará foi realizado com o intuito de preservar e divulgar o gênero e seus elementos constituintes, como ritmos, danças, instrumentos e formação de grupos musicais. "O que mobilizou a criação do Fórum foi salvaguardar o forró de raiz como um bem imaterial, esse ritmo que é tão brasileiro e que estava sendo desvalorizado. Nos grandes eventos, principalmente os de São João, outros ritmos estavam sendo tocados e os artistas que tocavam e cantavam forró de raiz estavam sendo, muitas vezes, substituídos e menos valorizados", alerta a jornalista Alessandra Lontra.

Uma das assessoras da Associação Balaio Nordeste, Alessandra ressalta a importância do constante e crescente debate sobre o forró. "Em 2020, acompanhei as discussões durante a realização do Fórum Forró de Raiz, que aconteceu em vários estados e municípios, e pude perceber o quão importante essa discussão é para a produção cultural, para a música, para os ritmos e para a dança; como o forró é inclusivo; e como esse ritmo precisa estar dentro das escolas, com os jovens, como forma de não deixar 'morrer' esse ritmo tão importante para a música brasileira. Percebi a importância também de, enquanto cidadãos, compreendermos melhor o nosso papel nessa trajetória e na história do forró, para que possamos cobrar do poder público essa salvaguarda do forró de raiz como forma de perpetuar a nossa cultura", finaliza.

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