No ritmo dançante do pagodão baiano, a cantora e compositora Claudia Leitte, 41, fala sobre a libertação de joguinhos psicológicos nas relações. Em "Eu Dou Tchau" (2021), seu mais novo single, ela canta: "Oi, pode falar?/ Ah, tu ligou?/ Não entendi você me chamando de amor/ Me diz aí/ O que aconteceu?/ Você rodou, rodou e já se arrependeu/ Agora vem brotando, assim, do nada/ Toma esse tchauzinho na sua cara". Aposta da artista para o verão, a canção está disponível nas plataformas digitais de áudio, acompanhada de vídeo coreográfico no YouTube.
Num momento em que as famosas dancinhas do aplicativo TikTok alavancam hits, Claudia aposta na coreografia. O videoclipe, inclusive, conta com as participações das "tiktokers" Beca Barreto e Mirella Janis. Na própria composição, a cantora adianta: "Eu vou fazer uma dancinha que vai estourar agora/ Fazer uma dancinha pra contar a nossa história". Mas, antes mesmo que as mídias sociais pudessem ditar dessa forma as direções da indústria fonográfica, a artista já unia o movimento do corpo ao ritmo e à letra dos seus singles. Não à toa, todos sabem o que fazer quando começa a tocar "Segura na corda do caranguejo/ Pra lá e pra cá" em alguma caixinha de som por aí.
Na nova canção, produzida em parceria com Luciano Pinto e Rafinha RSQ, Claudia mistura a percussão eletrônica a elementos clássicos do pagodão baiano. O ritmo (também chamado de swingueira ou quebradeira) foi forjado na mescla de samba-reggae e pagode. Para a artista, "fusão é a palavra de ordem". Assim ela define ao O POVO. É a partir da junção de sonoridades que Claudia constrói sua obra. "Gosto da pluralidade. A gente tem a necessidade de delimitar espaços e colocar rótulos, a música não", divide.
"Eu Dou Tchau" sucede "Samba Lento", parceria da artista com o cantor panamenho Joey Montana. O músico incorpora à canção o ritmo do reggaeton (estilo com várias vertentes da música latina, especialmente a caribenha). Claudia contar ter sido sempre "muito atenta ao cenário musical latino". "Conheço o trabalho de Joey há um bom tempo. Sou fã e já fomentava o desejo de fazer um feat. com ele", conta.
Claudinha — como carinhosamente é chamada pelo público — analisa: "O reggaeton e a música brasileira é uma mistura que dá super certo, porque é um ritmo que tem nossa energia, apesar de fazermos uma dissociação entre o latino que fala espanhol e o que fala português. E, com toda certeza, isso será cada vez mais presente em meu trabalho, não só reggaeton, mas diversos outros ritmos".
Assim como "Eu Dou Tchau", "Samba Lento" reverbera a mensagem de independência e emancipação. Segundo Claudia, é "uma canção leve, gostosa, e fala sobre autoconhecimento, auto aceitação, empoderamento e amor à vida". No videoclipe, lançado em julho deste ano no YouTube, a artista está numa gaiola, como um passarinho preso que quer se libertar.
Trata-se não só de um novo momento musical de Claudia, mas também pessoal. "Sinto que estou cada vez mais dona de mim, mais forte, corajosa e consciente do meu papel na sociedade, fazendo valer minha importância como mulher e artista. Acho que é um processo natural e belo. Isso é contado através do mito da águia, que diz que, em determinado momento da vida, o animal se recolhe no alto de um penhasco, raspa seu bico e suas garras até cair, tira suas penas e aguarda tudo nascer de novo para seguir seu voo, se renovando sempre. A música é isso, renovação!".
The Voice Brasil
Claudia Leitte está no ar na televisão, como técnica do reality show musical "The Voice Brasil", da Rede Globo. No programa, grandes nomes da música brasileira lideram seus times, formados por cantores que competem entre si. A edição é exibida às terças e quintas-feiras, às 22h30min, após a novela "Um Lugar ao Sol". O apresentador André Marques comanda a atração, que estreou em outubro deste ano.
Na primeira fase do programa, os participantes cantam enquanto os técnicos escutam sentados em cadeiras viradas de costas. O técnico que aperta o botão para girar a cadeira está disposto a "capturar" o artista para o seu time. Nesta 10ª temporada, além de Claudia, Carlinhos Brown, Iza e Lulu Santos formaram no palco suas equipes. Ao mesmo tempo, Michel Teló, o quinto técnico, agia às escondidas.
Em 2022, Claudia comemora 10 anos como parte do elenco de técnicos. O reality teve sua primeira edição exibida em 2012. A cantora retorna à competição principal do The Voice após passagens pelas versões Kids (infantil) e The Voice (voltado a talentos com mais de 60 anos de idade). Em entrevista, a artista repercutiu a volta, preparação e aprendizados neste percurso.
O POVO - Claudia, como você se preparou para este retorno à competição principal do programa The Voice Brasil? Tem uma atmosfera diferente?
Claudia Leitte - Vocês não sabem o prazer que é estar de volta! (risos) Amo o programa e é uma honra enorme fazer parte dele. Acho que, no The Voice, temos um comportamento mais maduro, embora em todos eles seja preciso ter doçura nas palavras para que sejam palavras de incentivo e motivação. Afinal, estamos lidando sonhos. E eu, que já enfrentei diversos desafios no início da carreira e vou à luta todos os dias pelo meu, sei o quanto isso é importante.
OP - Esta temporada tem mais dinâmicas. O que público e competidores têm visto de você enquanto técnica?
Claudia - É impressionante a capacidade desse programa de se tornar cada vez melhor e mais emocionante a cada edição! É sempre muito bom trocar experiências e eu acho que o The Voice é ótimo para isso. Eu sempre aprendo muito com os candidatos! Durante toda a temporada, vocês encontram uma Claudia, na maior parte do tempo, sendo guiada pelo coração. Música exige afinação, harmonia, mas, principalmente, emoção. Então, como técnica e também telespectadora, não poderia ser diferente. Posso garantir, estou cheia de estratégias. (risos)
OP - Há alguma diferença, para você como jurada, em como lidar com os diferentes tipos de competidores (crianças, adultos, idosos)?
Claudia - Eu prefiro pensar que sou técnica e não jurada. Estou ali para passar conhecimento, potencializar talentos, trocar experiências e aprender. Como disse, no The Voice e no The Voice há uma relação mais madura com as palavras. Talvez, no The Voice isso seja ainda mais forte. Mas, no geral, é isso. Acredito que, em todo tipo de relação humana, é preciso haver respeito, afeto e educação, independente se o interlocutor é uma criança, adulto ou idoso. Lido com muito carinho e orgulho, sempre!
OP - Você ensinou muito aos músicos dos seus times, mas também deve ter aprendido bastante mesmo. Pode citar algum aprendizado ao longo desses quase dez anos de programa?
Claudia - O que eu mais faço naquele programa é aprender (risos). Os candidatos têm um nível altíssimo e eu absorvo muitos dos conhecimentos que eles trazem. Eu acho que eles maximizam coisas boas que já habitam em mim, como o foco, a determinação, a paciência e a solidariedade. Porque, mesmo na fase das Batalhas, em que eles precisam se enfrentar diretamente, eles demonstram preocupação e cuidado com o próximo. É um programa que, de fato, faz diferença em minha vida. Amo, amo, amo!
The Voice Brasil
Quando: às terças e quintas, a partir das 22h30min
Onde: Globo
Mais info: globoplay.globo.com
"Equívocos fazem parte da história"
"Um artista tem um papel social que precisa ficar muito claro. Eu subo no palco para cantar e eu sirvo o outro. Através da minha música, eu movimento pessoas e sirvo com alegria. Faço entretenimento, mas faço com uma missão, com um propósito", disse Claudia Leitte em vídeo publicado em maio deste ano na mídia social Instagram. No registro, a cantora pedia desculpas aos fãs por ter dado uma "resposta evasiva" sobre suas indignações durante participação no programa Altas Horas, apresentado por Serginho Groisman na Globo.
Na atração, quando questionada sobre algo que despertava sua ira no contexto da pandemia da Covid-19, ela comentou: "Eu tenho um coração pacificador. Eu me indigno, sou capaz de virar tudo pelo avesso, mas todo mundo tem um lugar onde pode brilhar uma luz para desfazer o que está acontecendo. Se essa luz acende, obviamente, não vai ter escuridão". Enquanto isso, Deborah Secco e Ana Maria Braga citaram a falta de vacinas no Brasil e a conjuntura sociopolítica do País.
Após a participação da cantora no programa, o público criticou a fala. Em vídeo publicado no Instagram, Claudia reconheceu a forma genérica com que tratou o assunto. "Esse era um momento em que eu precisava ter muita consciência do meu papel social. E eu não tive. Não sei porque cargas d'água eu dei uma resposta evasiva naquele momento e, desde que saí do programa, eu tô reflexiva". A cantora afirmou que precisava ter falado sobre a negligência das máscaras de proteção contra a Covid-19, promoção de aglomerações, mulheres sofrendo de violência doméstica, número de mortos e de pessoas com fome no País.
Quando se procura o nome de Claudia Leitte nos buscadores on-line, invariavelmente aparecem vídeos e publicações enfatizando seus "micos" em vários programas, incluindo o The Voice Brasil. Muitas vezes, os conteúdos passam do âmbito divertido para o da ofensa. Sobre isso, a artista compartilha ao O POVO: "Eu não tenho medo de errar. Aprendi, nesses 20 anos de carreira, a discernir aquilo que merece minha atenção e preocupação, ou não. Considerando que estou na mídia. por causa do meu ofício, desde meus 20 e poucos anos, é óbvio que equívocos fazem parte dessa história… Afinal, aqui tem carne e osso também (risos)".
Claudia acrescenta: "Foco no que tenho como propósito, no carinho que recebo dos meus fãs, no suporte da minha família e guio as coisas do jeito mais leve possível. Também dou risada de algumas coisas, inclusive, pois tenho bem claro em minha mente que é problema dessa outra pessoa se ela criou na mente dela, baseado em opiniões alheias, um problema com você e agora te odeia e faz questão de mostrar. O problema é dessa pessoa, não seu. E esse tipo de gente é minoria perto do que há de bom. Eu foco no que é importante pra mim, que é fazer meu trabalho com verdade".
O primeiro show com trio elétrico de Claudia no Brasil — após quase dois anos de paralisação do setor de eventos, devido à pandemia — aconteceu no último dia 27, no Espaço das Américas, localizado na capital paulista. Desde 1º de novembro, o Governo do Estado de São Paulo autorizou a realização de shows e a abertura de baladas, bares e eventos esportivos com capacidade do público completa. Uso de máscaras e comprovante de vacinação são obrigatórios.
Após a apresentação, a artista também foi criticada nas mídias sociais, principalmente entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Algumas das publicações afirmavam que Claudia manifesta aversão ao atual governo, ao passo que promovia aglomerações. Em nota divulgada à imprensa, a assessoria da cantora reforçou que o evento seguia os protocolos sanitários exigidos. "É válido mencionar que, assim como o show de Claudia, outros tantos vêm acontecendo no Brasil e não foram criticados ou colocados em xeque em relação aos cuidados com a saúde do público. E não só shows, como também rodeios e estádios de futebol", dizia a nota.
Carnaval
Com o Bloco Largadinho, sua tradicional atração carnavalesca, Claudinha apresentou repertório autoral e clássicos do axé no 30º Carnatal, na sexta-feira, 10, no Rio Grande do Norte. O evento, considerado um dos maiores carnavais fora de época do País, aconteceu no Centro de Convenções de Natal, com exigência do ciclo vacinal com duas doses na entrada
Para a artista, a sensação de voltar a realizar shows presenciais, após tanto tempo de restrição, é emblemática. "O coração até erra as batidas (risos). Eu amo o palco. Amo estar perto dos meus fãs e sentir a energia emanada por eles".
Quando se trata da festa mais alegre do Brasil, o sentimento deve ser ainda mais reforçado. A cantora instiga a população a tomar as doses de vacina contra a Covid-19 e adianta: "Voltar aos palcos do Brasil, no Carnaval, é motivo de muita alegria e gratidão, mas precisamos fazer isso de forma segura. Primeiro, vamos pensar em nossa saúde e em combater essa pandemia. Tenho tudo programado, para todos os cenários possíveis, mas desejo muito que a gente consiga se ver! Para isso acontecer, precisamos continuar nos vacinando. Vacinem-se! Mas agora já estou com a cabeça no verão e no pagodão baiano!".
Mais info: claudialeitte.com/carnaval2022/
Duas décadas de carreira
Entre as ruas de calçamento do Largo da Saúde, em Salvador, na Bahia, Claudia Cristina Leite Inácio Pedreira cresceu. Foi por ali mesmo que surgiu o encantamento pela música e pela efervescência multicultural brasileira. Ela nasceu em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro. Com poucos dias de vida, mudou-se com a família para a Primeira Capital do Brasil e ancorou seu coração naquela terra. Tamanha identificação, Claudia se considera baiana.
Claudia aprendeu seus primeiros acordes de violão sozinha, aos 12 anos, comprando revistas de partituras. Já aos 13, torna-se backing vocal de Nando Borges, músico baiano. Mais tarde, decide cursar a graduação em Música, mas interrompe o processo para dedicar-se à banda de forró Violeta. Tudo muda em 2001, quando inicia a carreira nacional com a banda Babado Novo. Com o grupo, a artista emplacou hits como "Bola de Sabão" e "Safado, Cachorro, Sem Vergonha".
Desde o lançamento da carreira solo, em 2008, Claudia Leitte já lançou álbuns (entre discos e Ep's), recebeu discos de ouro e platina triplo, além de ter sido indicada ao Grammy Latino. Em "We Are One", canção oficial da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, a artista canta ao lado de Pitbull e Jennifer Lopez.
O POVO perguntou à artista: "São mais de dez álbuns, sendo símbolo de alegria e orgulho de sua brasilidade. Como você vê esses 20 anos de carreira? O que mudou e o que vem por aí?". Segundo Claudia, é só o início. "Isso que você falou de brasilidade é fantástico! E é isso. Vejo uma evolução quanto a minha essência artística. Quando olho pra trás eu atesto que sou, de fato, uma cantora do ao vivo, da vida real, do contato com o público e no ano que vem, que comemoro durante todo o ano o marco de 20 anos de carreira, eu vou mostrar isso. Tenho projetos durante todo o ano que exaltam justamente a minha essência, a minha ousadia e essa conexão com o meu país e o público que acompanha. Não só saudosista, também deixarei claro a minha projeção de futuro. Já estou falando de mais! (risos) Mas é isso! Celebração é a palavra! Do que vivemos juntos até agora e de tudo o que ainda ainda vamos viver. Tô só começando!".
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