Sábado, 20 de novembro, foi ao ar o episódio 1.000 do anime "One Piece". Monkey D. Luffy e sua gangue amistosa de marinheiros sonhadores já navegam os mares há mais de 22 anos e a cada novo marco, como este, muitos se perguntam o que faz de "One Piece" um anime tão cultuado e perene. Vamos aqui em busca de tais respostas.
A animação japonesa "One Piece" coleciona qualidades ao longo dos anos e são elas as principais responsáveis pela longevidade de sua produção. Desde seu lançamento, em outubro de 1999, até hoje, vários outros animes de qualidade surgiram, se desenvolveram e acabaram. Muitos com qualidade similar à de "One Piece", porém, pouquíssimos chegaram perto da marca de mil episódios. O plano perfeito para fazer desta série um sucesso longevo envolve personagens carismáticos, uma boa narrativa e uma construção de mundo magistral, apoiada em uma premissa simples, porém repleta de interpretações: Encontrar o One Piece, o tesouro perdido do Rei dos Piratas, Gol D. Roger. Outro aspecto fundamental se encontra na dedicação do criador do mangá original, Eiichiro Oda, que passou décadas escrevendo e desenhando as histórias em quadrinhos que servem de base para a animação.
Voltando a tratar da construção do mundo de "One Piece", é nada além de primoroso o trabalho de Oda na invenção e desenvolvimento de um universo de histórias e personagens fantástico e repleto de conteúdo. Da geografia ao governo, cultura e religião, o cuidado do criador com cada detalhe da ficção é incrível e reverenciado pelos fãs desde o início. A cada nova ilha explorada uma nova configuração de relacionamentos, personagens e forças surge e apresenta aos protagonistas - piratas do bem conhecidos como "Chapéus de Palha" - e aos espectadores um ambiente ficcional cada vez maior e mais "real". Cada novo arco narrativo também introduz novos conflitos e conjunturas que revelam uma história que vai além da busca pelo tesouro perdido. São esses detalhes sobre o mundo de "One Piece" que deram vida à obra.
Apesar de um universo esplendoroso, sem Monkey D. Luffy, seus companheiros e demais personagens, a obra não seria tão grandiosa quanto é. O anime é lar de uma imensa gama de personalidades e personagens excêntricos e que se relacionam uns com os outros de maneira divertida, inusitada e interessante, especialmente quando tratamos da tripulação dos chapéus de palha. O elenco principal da animação mudou bastante do primeiro ao milésimo episódio, mas a qualidade dos laços criados entre cada personagem e sua química como um grupo só cresceu com o passar do tempo. Mesmo sem o paradeiro do One Piece ter sido revelado, a aventura épica vivida por estes personagens e a família construída entre eles é um dos maiores tesouros para os fãs e faz com que essa longa viagem seja, desde o começo, cativante e divertida.
Seus personagens distintos e coloridos também ajudaram "One Piece" a adotar um caráter íntimo e pessoal na mente de seus espectadores. Tais personagens, tão bem definidos e de fácil identificação, produziram com os anos um engajamento emocional do público com a série. Seja alegria, tristeza ou raiva, o que os chapéus de palha sentem é transportado ao seu público que o sente também. O resultado disso são histórias mais longas e embasadas, mas com apostas narrativas impactantes e momentos inesquecíveis. Com esse forte apelo emocional e muita criatividade, mesmo após 22 anos, a história aqui contada se mantém gratificante de formas cada vez mais diferentes.
Em meio a este emaranhado de relações e conflitos entre os personagens, é certo dizer que "One Piece" transborda de diversão, fazendo cada episódio ser, no mínimo, divertido e agradável a quem o assiste. Um traço que merece destaque é o do viés positivista da animação. Não importa o que aconteça, os chapéus de palha são sempre seres engraçados, emocionantes e comoventes.
Um desafio importante superado por "One Piece" foi o de se manter relevante e acessível a novas gerações de espectadores ano após ano. A solução encontrada pelo anime foi manter uma história gigantesca por meio de diversas tramas e subtramas. Em quase todo novo arco da animação, um novo local é introduzido. Os chapéus de palha chegam a passar anos no mundo real em um só lugar. Enquanto estão lá, se entregam à cultura, aos habitantes e aos mistérios lá presentes. Lutam contra forças opressoras da região, comemoram e finalmente parte para fazer tudo de novo em uma nova locação fantástica. A constância desse ciclo mantém o enredo fresco e convida pessoas a o explorarem independente de qualquer contato prévio com a franquia. Cada estágio parece tão relevante que funciona sozinho como uma série à parte. Ao mesmo tempo, pequenos detalhes da trama principal são revelados e aumentam a antecipação dos fãs com o futuro da animação.
Por mais incrível que pareça, "One Piece" ainda está longe de terminar. Todos os pontos narrativos até agora são meras etapas na busca do objetivo final de Luffy e seus comparsas. Boa parte dos personagens relevantes atualmente no anime se tornarão lembranças distantes em pouco tempo, já que os chapéus de palha ainda têm muitos lugares a explorar, pessoas a conhecer e obstáculos a superar antes que a trama se conclua de maneira satisfatória.
Independentemente de fãs ou desconhecidos da série, o marco de 1.000 episódios é uma realização digna de celebração. A simples quantidade de esforço necessário para construir um enredo tão longo, mantendo sua qualidade é enorme e a manutenção da relevância e do sucesso da série faz tudo se tornar ainda mais grandioso. Não é de se admirar que Oda ainda não sabe o que fará depois que One Piece acabar, ele está claramente investido por completo na criação de uma história singular e os fãs o agradecem por isso.
Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico
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