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Livro reúne mais de 40 anos de diários da escritora Virginia Woolf
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Livro reúne mais de 40 anos de diários da escritora Virginia Woolf

Durante mais de quarenta anos, Virginia Woolf (1882 - 1941) manteve um diário em que escrevia sobre seu trabalho e sua vida pessoal. Escritos são lançados pela primeira vez no Brasil
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Escritora Virginia Woolf escreveu em diários por mais de 40 anos. Textos estão reunidos em
Foto: Harvard Theater Collection Escritora Virginia Woolf escreveu em diários por mais de 40 anos. Textos estão reunidos em "Os Diários de Virginia Woolf"

"Creio que escrevo com muito mais facilidade do que falo, faça sentido ou não: a escrita seria de grande serventia para mim se por acaso eu ficasse muda, mas sendo dotada de uma fala razoavelmente fácil, o dom ou sua posse não é coisa a ser invejada". Quando Virginia Woolf (1882 - 1941) escreveu sobre sua relação com a escrita, ela não considerava os resultados dessa atividade - que, na época, era somente um passatempo - um motivo de grandes admirações. Tinha 17 anos no momento em que refletiu sobre o assunto. Pouco tempo depois, a literatura seria seu trabalho exclusivo, mas ainda questionava sua capacidade de viver das palavras. Mantinha um sentimento dúbio em relação à escrita: "Estranhamente, apesar de toda a minha vaidade, até agora não tive muita fé em meus romances nem pensei que fossem a minha própria expressão", discorreu em 1925, período em que já tinha publicado o terceiro livro, "O Quarto de Jacob".

Seus pensamentos sobre a carreira e também sobre a vida pessoal estão expostos na obra "Os Diários de Virginia Woolf", organizada pela pesquisadora brasileira Flora Sussekind e publicada pela primeira vez no Brasil por meio da editora Rocco. Ao reunir mais de 40 anos de reflexões em seu diário, o conteúdo traça um panorama íntimo da escritora a partir de seus próprios relatos. Além dessas perspectivas cotidianas, mostra as várias situações sociais, políticas e econômicas em que viveu na Inglaterra.

Consagrada na literatura mundial, a autora foi responsável por um dos grandes clássicos, "Mrs. Dalloway" (1925). A história explora um dia na vida de Clarissa Dalloway, uma mulher de classe alta que percorre as ruas de Londres, durante a década de 1920, para finalizar os preparativos para uma festa que ocorrerá de noite. Parece um enredo simples, mas Virginia Woolf costuma experimentar com estilos e formatos literários, ao perpassar as memórias do passado, do presente e do futuro da personagem.

Essas experimentações, que se tornam óbvias nas páginas de seu livro mais popular, também estão em seus diários. Ela, por exemplo, demonstra constantes preocupações com a maneira que escreve. Também se torna - por vezes - a maior crítica de si mesma: "Eu sou um fracasso enquanto escritora. Estou fora de moda; velha; não farei melhor; me falta o cérebro; a primavera se espalha por toda parte; meu livro pronto e encadernado, um rojão molhado", disse quando estava no processo de elaboração de "O Quarto de Jacob".

Mas essa relação com o trabalho não é a única questão que o leitor conhece. Há ainda seus conflitos internos, que estiveram presentes desde a infância até sua morte prematura aos 59 anos. Quando tinha somente 12 anos, teve sua primeira crise nervosa após a morte de seu pai, Leslie Stephen. Em 1913, passou um longo período em depressão, que culminou em sua primeira tentativa de suicídio. Na época, ficou sob os cuidados do marido e de algumas enfermeiras até o fim do ano. Em 1922, enfrentou outro quadro depressivo. Em 1940, bombardeiros relacionados à Segunda Guerra Mundial atingiram duas casas suas, em um período que houveram ataques aéreos diários na Inglaterra. No ano seguinte, entrou em depressão novamente até 28 de março, quando cometeu suicídio.

O conjunto de diários de Virginia Woolf tem vários meses - e até anos - sem textos. Essas pausas aconteciam quando ela estava passando por problemas psicológicos. Entre suas reflexões, revela as angústias que vivia com a mente. "Por que a vida é tão trágica, tão como uma passagem estreita em um abismo. Eu olho para baixo; eu sinto vertigem; eu me pergunto como caminhar algum dia até o fim. Mas por que eu sinto isso? Agora que eu digo; já não sinto".

Relaciona, por vezes, esses sentimentos à realidade trágica que sua geração vivia, em meio a guerras e crises econômicas e sociais. "A vida mesma, eu penso às vezes, é tão trágica para nós da nossa geração - nenhum cartaz de jornal sem o grito de agonia de alguém". Também expõe seu próprio engajamento político e seus pensamentos sobre a realidade que conhecia.

Virginia Woolf enveredou por vários estilos de escrita, como o jornalismo, os romances, os contos, as histórias infantis e os ensaios. Ela tinha uma preocupação com a estética e o valor literário de suas produções. No Brasil, possui alguns livros traduzidos para o português, como "Mrs. Dalloway", "Um Quarto Todo Seu", "As Ondas", "Ao Farol", "Orlando: Uma Biografia" e "Profissões para mulheres e outros artigos feministas".

Os Diários de Virginia Woolf

Editora Rocco
432 páginas
Preço médio: R$ 129,90 (e-book: R$ 61,60)

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