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Márcia Castro se inspira no axé dos anos 90 em novo trabalho
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Márcia Castro se inspira no axé dos anos 90 em novo trabalho

Márcia Castro celebra Carnaval, micaretas e a década de ouro da música baiana no disco "Axé", com a participação de estrelas como Ivete Sangalo
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Márcia Castro reaquece as memórias dos carnavais dos anos 1990 no disco 'Axé' (Foto: Pedrita Junckes/ Divulgação)
Foto: Pedrita Junckes/ Divulgação Márcia Castro reaquece as memórias dos carnavais dos anos 1990 no disco 'Axé'

Quem viveu a juventude nos anos 1990, muito provavelmente foi tomado por um som que misturava a linguagem pop com os ritmos baianos tradicionais. Sim, foi a era de ouro da axé music, que espalhou micaretas pelo Brasil. Milhares de pessoas se acumulavam em desfiles, usando abadás, bandanas e balançando seus mamães-sacode. Era o auge de artistas como Carla Visi, Bell Marques, Ricardo Chaves e Ivete Sangalo. E algo muito comum em casas como o Clube e o Parque do Vaqueiro eram festas que misturavam uma banda baiana com alguém do rock nacional.

Da batida que ganhou as rádios nacionais até essa passagem de bastão do rock para o axé, tudo foi absorvido por Márcia Castro, cantora e compositora natural de Salvador. Seu quinto álbum, "Axé", faz uma revisão dessa época rememorando o som, os amores, a linguagem e as misturas. "Eu sempre fui uma foliã de Carnaval. E existia um remorso por eu ser uma cantora de MPB em Salvador, e não cantar axé music. Agora, é como se fosse voltar a essas referências todas que são importantes na minha carreira musical", conta ela que fez uma grande pesquisa em discos que vão de Chiclete com Banana a Gerasamba.

A ideia de revisitar a música baiana que nasceu no meio dos 1980 e estourou na década seguinte vem desde antes de 2007, ano em que lançou seu disco de estreia. "Quando eu lancei o 'Pecadinho', comecei a conversar muito com o Ramiro Mussoto, que foi muito importante na percussão baiana. Ele foi muito importante pra formação do BaianaSystem. No meio das conversas, Ramiro faleceu e o projeto ficou estacionado. Eu mudei pra São Paulo, vieram outros projetos", conta Márcia, que seguiu com a ideia do axé ali guardada.

Vendo que o BaianaSystem já havia começado a explorar os sons que ela buscava, foi conversar com Rafa Dias, do Attooxxa. Dessas conversas nasceram o disco "Treta", que não foi bem recebido. "O disco reflete muito do momento. Comecei a ouvir funk, que não ouvia. Foi uma disco muito transgressor, mas o trabalho flopou. Faltou fazer uma ponte do que vinha fazendo com essa Bahia de hoje", avalia a cantora que voltou mais no tempo em busca de Tonho Matéria, Asa de Águia, É o Tchan e outros sons baianos.

Com 10 músicas inéditas e convidadas muito especiais, "Axé" traz muitas referências e quem viveu a época vai reconhecê-las. Uma delas é a religiosidade, tão presente na música baiana, e que aqui vem representada por "Ajuremar-se", de Emicida. "A gente pensou em quem faria isso, de uma forma não óbvia. Eu me emocionei muito na primeira vez que ouvi", comenta Márcia que também queria Carlinhos Brown no disco. É dele "As Paulinas dos Jardins", que conta com a voz de Daniela Mercury. "Quando ouvi a letra, achei linda. No pós-pandemia, trouxe um sentido tão especial pra essa música, uma coisa de superação, de afirmação, da gente querendo encontrar um mundo mais esperançoso".

Ivete Sangalo é a convidada em "Holograma", que tem arranjo de sopros assinado por Letieres Leite. "Eu quis trazer a Ivete de volta pro sambareggae. Hoje é muito forte o pop na música dela. Trazê-la de volta seria interessante", diz Márcia que recebeu uma terceira convidada muito especial. Pioneira entre as cantoras baianas dessa cena, Margareth Menezes divide os vocais de "Arco-íris do amor". "Tem o conteúdo de amor livre, diversidade, isso tudo foi muito ameaçado por esse governo cruel. Essa música faz mais sentido do que antes. E ainda com Margareth, que puxa o maior grupo de diversidade. Quando escuto, penso numa rua toda purpurinada", celebra.

Disponível nas plataformas digitais e previsto pra ser lançado em LP, "Axé" também faz referência às muitas vezes que a geração do rock 80 cruzou com o axé 90. Nando Reis é o autor de "Macapá", que também representa a importância das baladas nesse repertório. E ainda tem as histórias de amor à beira mar, na linha do Asa de Águia, aqui representadas por "Namorar do mar", de Rafa Dias, Pedro Pondé e Márcia. Além, deles "Axé" conta com composições de Marcela Bellas ("Que povo é esse"), Teago Oliveira ("Ver a maravilha"), Russo Passapusso ("Bolero lero") e outros compositores, todos em sintonia com a proposta do disco.

Com direção artística de Marcus Preto, "Axé" foi concebido para momentos de festa, mas acabou atravessado pela pandemia. Em seguida, Márcia Castro teve que se dedicar a outro projeto especial: Maria Flor, sua filha com Fernanda Santana. "Deu um novo gás, mesmo com todo o medo. É um projeto que já vinha há muito tempo", celebra a filha de menos de 6 meses. Em seguida, serão os shows que ainda seguem sem planos.

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Capa do disco 'Axé', quinto trabalho de Márcia Castro
Capa do disco 'Axé', quinto trabalho de Márcia Castro

Márcia Castro - Axé

10 faixas
Produção de Letieres Leite e Lucas Santtana
Direção de Marcus Pretto
Disponível nas plataformas digitais

Discografia comentada

Pecadinho (2007)

Álbum de alma tropicalista, com boas versões de "Em nome de Deus" (Sérgio Sampaio) e Jorge Mautner ("Rainha do Egito"). Zélia Duncan canta em "Barulho" (Roque Ferreira) e a faixa título (Tom Zé) é incrível.

De pés no chão (2012)

Seguindo a linha do anterior, traz um arranjo ótimo de Letieres Leite em "Preta pretinha", assim como na faixa-título, de Rita Lee. "29 beijos", raridade dos Novos Baianos, surge em dueto com Hélio Flanders (Vanguart).

Das coisas que surgem (2014)

O terceiro disco mostra o lado compositora de Márcia Castro, além de aproximá-la da cena paulistana. Além de parcerias dela com o poeta arrudA, tem composições de Gui Amabis e Arnaldo Antunes.

Treta (2017)

Aproximação com a cena eletrônica baiana e letras cheias de sensualidade. Mal recebido por público e crítica, "Treta" traz composições próprias, de Ava Rocha, Rafa Dias, César Lacerda e outros.

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