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Festival Atos de Fala celebra dez anos com programação virtual
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Festival Atos de Fala celebra dez anos com programação virtual

Performances vão estar disponíveis de forma gratuita até o dia 6 de fevereiro
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Artista cearense Wellington Gadelha participa com
Foto: PRISCILLA SOUSA Artista cearense Wellington Gadelha participa com "Manifesto do Sonho"

Como transformar o improvável em realidade? Com o tema "Materializando os Impossíveis", o Festival Atos de Fala celebra dez anos por meio de programação virtual que continua até o dia 6 de fevereiro. Idealizada por Cristina Becker e Felipe Ribeiro, a plataforma busca fortalecer o trânsito artístico e discutir assuntos de relevância global com foco na performance. "Graças ao coletivo, a gente chegou aqui. Sempre foi um trabalho em equipe", informa a idealizadora.

A iniciativa surgiu em 2011 como um experimento. "Eu sou mais da dança, o Felipe, na época, era mais ligado ao cinema. A gente tinha vontade de agregar na discussão da performance, da dança, do teatro, considerando que os festivais desse campo no Brasil sempre foram muito claros. A gente não queria repetir mais do mesmo, mas sim trazer uma novidade", explica Cristina. O Atos de Fala propõe, então, uma intersecção entre a performance e o texto através de palestras-performances. "Quando a gente criou foi um pioneirismo nesse formato, para concentrar esse modelo. Acho que nos últimos dez anos a gente criou uma comunidade muito forte".

Desta vez, a programação conta com colaboradores de países ibero-americanos, como México, Chile e Portugal. "Sempre foi uma proposta, junto com os artistas, provocá-los, investigá-los", desenvolve Cristina. De acordo com a curadora, a equipe trabalha buscando entender como as tecnologias humanas e cotidianas, como os sonhos e as especulações, podem ser performadas dentro da temática. "Apesar de todos os contextos violentos, a gente realiza, ou tenta possibilitar, que o impossível se materialize", pontua.

Mais de 100 trabalhos passaram por chamada de um edital convocatório. Destes, oito integram a seleção final. Cada criação estará disponível na plataforma a partir das 18 horas, na respectiva data de estreia, e permanecerá online por quatro dias com acesso gratuito em qualquer horário. A abertura do evento virtual aconteceu ontem, 19, com a palestra-performance "Manifesto do Sonho", do cearense Wellington Gadelha, que segue disponível para o público até domingo, 23. Esta é a segunda participação dele no festival e o projeto é definido como uma "animação-vídeo/sonora-performática que propõe um instante poético de um mensageiro negro-favelado e nordestino, de um Ceará profundo".

De acordo com o artista, "Manifesto do Sonho" iniciou em um momento de insegurança devido à pandemia. "Lembro como se fosse ontem eu dizendo: o assombro está tomando de conta!", relata Wellington. Este foi, portanto, o ponto de partida do trabalho, que utiliza tecnologias para construir reflexões sobre a atual conjuntura social e política. "Por perceber que a dimensão do assombro estava e ainda está tomando de conta das nossas relações, da vida, seja a partir de um aumento desenfreado de conservadorismos, uma governamentalidade facista e um racismo tão arquitetado, fui pensando que o assombro que eu queria tratar neste trabalho ele tem cor, ocasião e alvo", define.

Desta forma, o projeto une diferentes linguagens para refletir os instantes do agora. "Manifesto do Sonho", como reitera o idealizador, foi realizado com o auxílio de vários colaboradores, entre eles Fluxo Marginal, Eric Barbosa e Emiciomar. A experimentação é um dos desdobramentos de uma série de trabalhos que Wellignton está desenvolvendo para uma pesquisa que se chama "À Disposição do Assombro", com previsão de estreia para o segundo semestre de 2022. "Temos de deixar de ter medo e olhar de fato para esse assombro e se debruçar sobre seus aspectos e como ele vem espelhando a situação de muitas existências aqui no Brasil. O proceder tem que ser ligeiro, pois parte das pessoas estão paralisadas e esgotadas e, o mais louco é que é nos corpos que o assombro se expande. É nessa encruzilhada que percebo essa conexão com o festival. Acredito que materializar os impossíveis tem de ser uma afirmação, uma ação", evidencia o artista.

Outros integrantes também atuam em congruência com a temática. As colombianas Yenny Paola Agudelo e Any Corre refletem sobre o que é ser mulher na América Latina ao apresentar a performance "(...) E foi assim que os cavaleiros resgataram as princesas sem vender-lhes preservativos", que pode ser acessada entre os dias 21 e 25 de janeiro. Já o português Rogério Nuno Costa explora um discurso especulativo e "pós-ficcional" em "Multiversidade", disponível entre os dias 25 e 29 deste mesmo mês.

Para Cristina, comemorar os dez anos de atuação no campo da performance é uma maneira de seguir resistindo. "Por mais que a gente tente ser independente e descolar dos recursos através das leis de incentivo, fica muito difícil, não existe uma política. O Brasil estacionou na performance, mas há uma resistência revolucionária nas edições digitais. Como pensar ao largo do possível? Sem só especular ou falar de utopia, mas fazer da performance, mesmo nas dificuldades, algo que pode acontecer, como já está acontecendo".

"Festival Atos de Fala"

Quando: até 6 de fevereiro

Onde: www.atosdefala.com.br

Quanto: gratuito

Programação completa disponível no site do projeto

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