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Intervenção urbana em Fortaleza homenageia 90 anos do arquiteto Lelé
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Intervenção urbana em Fortaleza homenageia 90 anos do arquiteto Lelé

Artista plástico fortalezense espalha lambes pela Cidade em homenagem aos 90 anos de nascimento do revolucionário arquiteto João Filgueiras (1932-2014), conhecido como Lelé
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Nos 90 anos de nascimento de João Filgueiras, conhecido como Lelé, o artista fortalezense Raony Bernardo mergulha no legado de um dos ícones da arquitetura brasileira (Foto: Acervo pessoal/Raony Bernardo)
Foto: Acervo pessoal/Raony Bernardo Nos 90 anos de nascimento de João Filgueiras, conhecido como Lelé, o artista fortalezense Raony Bernardo mergulha no legado de um dos ícones da arquitetura brasileira

Quem passou pelo bairro Benfica, em Fortaleza, nas últimas duas semanas, pôde observar uma série de lambes com dizeres como "Seja mais Lelé da Cuca!"; "Já pensou em ser como Lelé foi?"; "Precisa-se de mais Lelés"; "Oxi! Mas quem foi Lelé?". Criada pelo artista plástico fortalezense Raony Bernardo, 22, a intervenção urbana homenageia os 90 anos de nascimento do arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé.

Quando Lelé completaria suas nove décadas de vida, no último dia 10 de janeiro, Raony espalhou cerca de 50 lambes pelo entorno da avenida 13 de maio — uma das principais vias da Cidade — na companhia dos amigos João Vitor Matos e Bruna Higino. Por meio do diálogo entre a técnica do lambe-lambe e o espaço público, o grupo quis chamar atenção para um dos ícones da arquitetura brasileira.

As artes dos lambes foram produzidas por Raony. Além dos escritos, cada folha era ilustrada com desenhos da figura de Lelé. Mas, quem, de fato, foi João Filgueiras? Também estudante de arquitetura, Raony explica: "Foi um importante arquiteto brasileiro, que revolucionou o cenário construtivo nacional ao desenvolver as tecnologias da argamassa armada e do aço de forma extremamente inovadoras. Lelé foi inovador em diversos sentidos, principalmente quando refletimos sobre qual o seu objetivo em relação à profissão… Ele tinha total consciência social e política do que poderia realizar como arquiteto. Toda sua vida foi dedicada ao serviço público e nunca conseguiu se adequar ao rumo mercadológico, simplório e superficial que a profissão de arquitetura estava tomando".

Nascido em 10 de janeiro de 1932, no Rio de Janeiro, Lelé dedicou sua vida à arquitetura, numa fusão constante com a arte e a tecnologia. Morreu na Bahia, aos 82 anos, em 21 de maio de 2014. Raony acrescenta: "Lelé era um homem simples, modesto, tinha humanidade, humildade e era extremamente dedicado ao que acreditava e aos seus objetivos. Toda essa tecnologia desenvolvida por ele sempre teve o intuito de contribuir socialmente para uma causa maior que a sua arquitetura até, seja no uso da argamassa armada na construção de uma escolinha no interior de Abadiânia (Goiás), ou na fabricação das peças para os hospitais da Rede Sarah, hoje tão conhecidos por sua arquitetura única e área de atuação primordial para a sociedade brasileira. A realidade é que o Brasil precisa de mais Lelés".

Segundo Raony, Lelé está "na mesma ala" de intelectuais como o educador Paulo Freire e o músico Heitor Villa-Lobos. Graduando em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), o artista também integra o grupo de pesquisa "Faber: arquitetura, construção, tecnologia e patrimônio", da Universidade Federal da Bahia (Ufba), orientado pelos professores Ceila Cardoso, José Fernando Minho e Rosana Muñoz . "A gente está fazendo um estudo sobre um prédio do Lelé, que ele construiu dentro da Ufba, o edifício Iansã. Ele foi se deteriorando ao longo do tempo, estamos tentando recuperar esse edifício com o nosso estudo", conta.

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As conversas com o grupo de pesquisa e os professores instigaram Raony a produzir os lambes em homenagem a Lelé e colá-los por Fortaleza. "Para tentar aproximá-lo, de alguma forma, de quem não o conhece ou quem só conhece, por exemplo, Oscar Niemeyer, os mais famosos". Por isso, os lambes tinham a conotação da curiosidade, com frases imperativas ou questionadoras. "Indagações que a pessoa olha, lê, e pensa 'Tá, mas quem é esse João Filgueiras Lima?'". De acordo com Raony, se uma pessoa tiver pesquisado quem foi Lelé, ele "já atingiu seu objetivo" com a intervenção.

Para Raony, "Lelé tinha um projeto de Brasil", que ia além de uma visão mercadológica da arquitetura e integrava questões sociais, ambientais, inovadoras e humanitárias.

 

Bruna Higino, Raony Bernardo e João Vitor Matos se juntaram para criar um coletivo de arte urbana a partir da intervenção criada para homenagear o arquiteto João Filgueiras, o Lelé
Bruna Higino, Raony Bernardo e João Vitor Matos se juntaram para criar um coletivo de arte urbana a partir da intervenção criada para homenagear o arquiteto João Filgueiras, o Lelé

Coletivo

Após produzir e imprimir as artes, Raony partiu para a etapa seguinte: as colagens. Para a intervenção, o artista ensinou a técnica do lambe-lambe aos amigos. João Vitor Matos é estudante de Design da Universidade Federal do Ceará (UFC). Já Bruna Higino estuda Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Fortaleza (Unifor). A partir da homenagem a Lelé, o grupo decidiu criar um coletivo e pretende circular pela Cidade com outros projetos de lambes e mais artes.

 

Olhar o mundo

Raony Bernardo costuma compartilhar seus trabalhos pelo Instagram. Suas obras mesclam abstrações com observação do mundo e da vida, da cidade e das pessoas. Num dos projetos recentes, produziu coleções em aquarela com paisagens de Fortaleza e Salvador.

O artista compartilha sua visão sobre a fusão entre artes plásticas, arquitetura e arte urbana: "Eu não consigo mais ver uma coisa separada da outra. Isso apura o meu olhar como estudante e futuro profissional de arquitetura. Apura meu olhar como artista plástico e como artista de rua. A arte te coloca fora de caixas, apura um lado mais sensível. E isso, pra mim, é crucial".

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Instagram: @bernardoatelie

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