Médica anestesista, bailarina profissional, comunicadora e influenciadora digital. Thelma Assis, 37, é múltipla. Com a vida marcada pelo enfrentamento ao racismo e ao machismo, ela resolveu contar sua trajetória em livro. Com relatos de sonhos, coragem e resistência, "Querer, poder, vencer" chega às livrarias do País pela editora Planeta, com prefácios da atriz Taís Araújo e de Manoel Soares, jornalista e co-fundador da Central Única das Favelas (Cufa). Ao ser consagrada campeã do 20º Big Brother Brasil, reality show da Globo, Thelma ganhou notoriedade nacional. Ao longo do programa, ela se posicionou a respeito de diversas questões sociais e identitárias. Com o alcance, segue repercutindo a luta das mulheres e do povo preto. Só no Instagram, são mais de 5,5 milhões de seguidores. Colaboradora médica fixa do programa Bem Estar, também da Globo, Thelma ainda apresenta o programa "Triangulando" em seu canal no YouTube.
Para Thelminha — como é carinhosamente chamada —, sua existência é sinônimo de resistência. A paulista cresceu no bairro Limão, na Zona Norte de São Paulo. Com o sonho da Medicina desde a infância, fez balé e cursou pré-vestibular com bolsa que cobria metade da mensalidade. Quando não estava estudando, dava aulas de dança e distribuía panfletos para custear o restante do valor. Após três anos, conseguiu bolsa integral para cursar Medicina na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Trabalhou na área, criou canal no YouTube e, apaixonada por Carnaval, virou passista da escola de samba Mocidade Alegre.
Essas experiências estão documentadas em "Querer, poder, vencer". Embora algumas pessoas utilizem sua trajetória para defender a meritocracia, Thelminha alerta que, numa sociedade racista, essa não é a regra. Na obra, ela também conta sobre a transição capilar aos 30 anos (quando parou de alisar o cabelo e assumiu os fios naturais) e a descoberta de ter sido adotada. Ela soube por uma ligação anônima no telefone público de sua rua. Ao O POVO, Thelma fala sobre processos do livro, autoconhecimento, representatividade e política.
O POVO - Como surgiu a ideia de publicar um livro?
Thelma Assis - Esse é um sonho que cultivava dentro de mim há um tempo. Sou apaixonada por leitura e escrever um livro já fazia parte dos meus desejos. Eu só não imaginava que iria realizá-lo neste momento, até o meu amigo Manoel Soares dizer que a minha história caberia num livro. Isso acendeu essa chama dentro de mim e decidi imortalizar a minha trajetória neste trabalho que eu tenho tanto carinho.
OP - O primeiro livro sempre é um marco. Como foi o processo de feitura?
Thelma - O conteúdo do livro em si surgiu de forma natural, porque tenho muita história para contar. Nesse processo tive o apoio fundamental da minha mãe, me ajudando a relembrar fatos emocionantes que não poderiam ficar de fora do livro. Mas toda a minha história não caberia em 300 páginas, então tive colaboração da jornalista Bianca Caballera na construção da estrutura narrativa. Juntas, durante um ano, selecionamos o que de fato entraria no projeto.
OP - Quais foram os principais desafios?
Thelma - O processo de seleção do conteúdo que entraria no livro foi um desafio. Me sinto uma vitoriosa. A minha trajetória é feita de lutas e conquistas. Existe muita história especial que nunca tinha falado antes e queria contar. Então foi um trabalho minucioso, feito com bastante cuidado e cautela.
OP - Falar sobre si é um processo de autoconhecimento. Gostaria que você comentasse sobre o assunto.
Thelma - O processo de elaboração desse livro foi praticamente uma terapia para mim. Revisitei meu passado, revivi marcas antigas, reavaliei a mim mesma. Isso tudo me fez entender melhor a minha força, a minha história e eu mesma. Foi uma completa imersão no meu passado, coisas que eu já vivi antes, mas que hoje vejo como parte de algo maior que formou o meu ser. Escrever esse livro foi uma experiência única para mim e espero que seja para quem o leia também.
OP - Qual o sentimento de ter Taís Araújo e Manoel Soares indicando sua história, unidos na mesma "trincheira"?
Thelma - Extremamente gratificante! São dois amigos que admiro, que são inspiração e representatividade para mim e tantos outros brasileiros. Tenho um carinho grande pela Taís e pelo Manoel, então me sinto prestigiada por ter eles comigo neste projeto.
OP - Temas como machismo e racismo sempre te marcaram. Agora, você segue repercutindo questões sociais e identitárias, após a participação no Big Brother Brasil. Como falar de resistência e representatividade te impactam?
Thelma - Essas são questões que sempre foram muito importantes na minha vida, desde criança. São temas que sempre fizeram parte do meu discurso e hoje, com a visibilidade que o programa me proporcionou, consigo falar sobre essas questões para um número maior de pessoas. Hoje minha voz tem mais alcance e eu uso dessa possibilidade para tocar as pessoas de forma positiva. Sei que posso ser inspiração para meninas e mulheres pretas e esse é um dos resultados que desejo obter com o meu livro. Se eu conseguir inspirar uma pessoa a acreditar na sua força, a não desistir do seu sonho, posso dizer que cumpri com o objetivo deste trabalho.
OP - O livro chega num momento de muitos debates políticos no País, que estão diretamente ligados às questões que você aborda. Qual a sua mensagem para o Brasil de 2022?
Thelma - Desejo discernimento, persistência e crença em nós como povo. Espero que não sejamos tomados por uma onda de discursos de ódio e que não nos falte empatia. Precisamos olhar para o próximo e reconhecer que os problemas dele também são importantes, mesmo que não façam parte da nossa realidade. Esse é um ano decisivo e precisamos pensar no coletivo para seguirmos em busca de dias melhores.
Querer, poder, vencer
De Thelma Assis
Ed. Planeta
248 pág.
Quanto: R$56.90
Mais info: www.planetadelivros.com.br
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