De acordo com o último boletim epidemiológico de HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) / Aids (Síndrome da imunodeficiência adquirida) da Secretaria da Saúde do Ceará, divulgado em janeiro de 2021, foram detectados 12.745 novos casos de HIV no Estado entre 2011 e 2020. Para o ator Rhamon Matarazzo, o convívio com o vírus é realidade desde maio de 2009. Nesta sexta-feira, 4, ele lança o livro "Rhamon com (H)" para compartilhar sua trajetória.
Segundo o artista, a iniciativa nasceu naturalmente em meio ao longo período de ativismo pela causa. Já no primeiro capítulo, ele retrata a infância e adolescência após o abandono paterno e conecta, logo em seguida, com a descoberta do HIV aos 22 anos. "A notícia atravessou como uma faca no meu peito. O primeiro pensamento que vem é o de morte, eu passei duas semanas de luto, não tinha vontade de fazer nada", relembra.
Rhamon iniciou prontamente o tratamento, visto que poderia entrar também nas estatísticas da Aids, o "estágio avançado do HIV". O físico foi afetado pelas consequências das medicações e o psicológico sofreu com o estigma social. "Eu tinha uma mentalidade muito fechada, o HIV se transformou em tomar as medicações no horário certo e, às vezes, chorar. Você se sente inferior às outras pessoas. Hoje, anos depois, eu ainda tenho essa dificuldade. É um amor próprio que você recria, eu sou um ser humano, não um vírus ambulante".
A mudança da abordagem em relação ao diagnóstico veio a partir do teatro. Na segunda parte da obra, o texto discorre sobre o percurso até a decisão de levar a temática aos palcos por meio de performances como "Lázaro", que estreou no Dia Mundial da Aids em 2017. "Eu já tinha passado oito anos calado. É como se fosse um cárcere"."Rhamon com (H)" ainda discorre sobre a sistemática de tratamento do sistema de saúde brasileiro e a relação entre afeto e prazer para os soropositivos. "O livro fala sobre o que significa estar indetectável, intransmissível, sobre prevenção combinada. Falta tanta política pública para informar", enfatiza.
A falta de representatividade, complementa o autor, também acontece nas pesquisas acadêmicas e nos produtos midiáticos. Por isso, ele trabalha diariamente para combater a desinformação através de cursos, palestras e criações artísticas. "Eu acho que eu falo sobre resistência. Eu aprendi uma coisa com o vírus: a replicar. Assim como ele replica, eu também replico a informação".
Lançamento "Rhamon com (H)"
Quando: Nesta sexta, 4, às 18 horas
Onde: No Youtube do Centro Cultural Bom Jardim
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