"Parte o guerreiro do Cariri, voa o menino do Crato". As primeiras linhas da reportagem do O POVO, publicada no dia 1º de fevereiro de 2017, anunciavam a morte do multiartista Sérvulo Esmeraldo, ocasionada por complicações de um acidente vascular cerebral (AVC). Após anos de contribuição para o cenário artístico nacional e internacional, o cearense deixou um vasto legado para familiares, amigos e admiradores.
No mês que marca cinco anos desde a partida de Sérvulo, a Central de Jornalismo de Dados do O POVO - DATADOC levantou os dados sobre os países e estados brasileiros onde o artista fez exposições individuais e coletivas. Além disso, também foi responsável pelo resgate histórico das principais esculturas na cidade e cobertura do O POVO ao longo dos anos sobre o artista.
Escultor, gravador, ilustrador e pintor são alguns descritivos que tentaram captar a potência artística executada por Sérvulo Esmeraldo ao longo de uma vivência de experimentações e transformações. O ponto de partida da trajetória é no Crato, município cearense, em 1929. O conhecimento do universo da arte aconteceu por meio das brincadeiras de criança na Fazenda Bebida Nova, propriedade da família.
Sérvulo chegou a Fortaleza anos depois, onde veio estudar no Liceu do Ceará - após ser expulso de dois colégios. A partir de 1947, ele integra a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) e dedica o trabalho à xilogravura. Com o desejo de cursar Arquitetura, decide ir a São Paulo, onde trabalha no jornal Correio Paulistano. Dentro da redação, exerce as funções de ilustrador, repórter e crítico de arte. Em 1951, o artista trabalhou na montagem da I Bienal Internacional de São Paulo.
O gravador fundou o Museu de Gravura no Crato, no ano de 1956, para, então, alçar voo com destino a outros continentes. Uma exposição individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) resultou na bolsa de estudos da Escola Nacional Superior de Belas Artes em Paris, na França. O país estrangeiro foi casa por 25 anos e possibilitou múltiplas experimentações criativas. O artista ganhou projeção internacional na década de 1960, a partir da série de obras "Excitáveis", parte do movimento de arte cinética, corrente que explora as possibilidades de efeitos visuais.
Sérvulo retorna de vez para Fortaleza em 1980, quando começa a se dedicar à arte pública, de acesso livre. Ele produziu esculturas com planos dobrados, com chapas de aço e ferro, investigou e explorou técnicas que trouxessem movimento às obras. Atualmente, a capital cearense conta com 40 peças de seu acervo. Uma delas é "La Femme Bateau", famosa escultura instalada próxima à Ponte dos Ingleses, na Praia de Iracema. Outra pode ser vista nos jardins do O POVO. Desde 1978, o "Jornal de Aço" simboliza a homenagem de Sérvulo aos cinquentenário do jornal.
O artista foi eleito como melhor escultor pela Associação dos Críticos de Arte em 1982. Ao longo dos 88 anos, Sérvulo fez 57 exposições individuais e 145 coletivas. Segundo levantamento realizado pelo DATADOC, baseado em dados disponíveis no site Escritório de Arte, São Paulo foi a cidade que mais recebeu exposições do artista. Destas, 40 foram realizadas em conjunto e 10 foram organizadas individualmente. A capital do Ceará ficou em segundo lugar, somando 25 mostras. Suas coleções passaram por países como Brasil, França, Chile e Itália. Em parceria com a Fundação Demócrito Rocha, o cearense foi idealizador e curador da Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras nos anos de 1986 e 1991.
Como parte do legado, o artista deixou mais de dez mil documentos gráficos, maquetes de esculturas, entre outros materiais. O Instituto Sérvulo Esmeraldo (ISE) desenvolveu o Projeto de Implantação do Acervo Documental de Sérvulo Esmeraldo, idealizado para organizar, preservar e divulgar as criações do cearense. Tantos foram os feitos que torna difícil constatar a dimensão e importância das obras de Sérvulo. Quem sintetiza, de maneira justa, é o artista Estrigas (1919 - 2014) em depoimento concedido ao O POVO em 2008: "Sérvulo Esmeraldo é um artista que tem um lugar garantido na história da nossa arte, do Brasil e do Ceará".
Com contribuição de Sérgio Falcão
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