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Artistas opinam sobre indefinição do Festival de Teatro de Fortaleza
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Artistas opinam sobre indefinição do Festival de Teatro de Fortaleza

Realização do Festival de Teatro de Fortaleza em 2022 está indefinida e situação, na avaliação de artistas, ecoa "paralisia" na gestão cultural da Capital
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Foto: Jennife Lima/Divulgação "Olha o Olho dos Meninos", realizado pelo Grupo Bricoleiros, compôs a programação do festival em 2019

Realizado pela última vez no final de 2019, o Festival de Teatro de Fortaleza — principal evento do calendário da linguagem na Cidade — segue com retomada indefinida. Após não ter acontecido em 2020 e 2021 por conta da pandemia, o evento teve indicação de realização da 14ª edição em março de 2022 dada verbalmente pelo titular da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), Elpídio Nogueira, em reuniões com artistas. No entanto, passos básicos para a construção do festival ainda não foram dados, como lançamento de convocatórias públicas e divulgação oficial de datas. A partir da indefinição, o Fórum Cearense de Teatro começou campanha nas redes sociais demandando a concretização da promessa. Ao Vida&Arte, a Secultfor informa estar "em processo de instrução processual e ajustes" do edital de seleção.

"O secretário da cultura prometeu que o evento de calendário mais importante para o teatro na cidade iria acontecer em março. Mas já entrou fevereiro e ninguém da equipe sabe dizer concretamente nada... Dá pra confiar?", afirma o texto do manifesto virtual do Fórum. A indicação de realização do Festival no mês que vem foi dada por Elpídio, conforme artistas explicam ao V&A, em mais de uma reunião de grupos com a secretaria.

A sugestão do mês de março, inclusive, surgiu desde o final de 2021 a partir de representantes da classe teatral e acolhida, verbalmente, pelo gestor. "A gente teve uma conversa com o secretário no final do ano passado para apresentar demandas da categoria e uma delas foi o festival, como um dos eixos estruturantes da política pública do teatro na Cidade", afirma Ari Areia, ator e Conselheiro Suplente do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) na linguagem "Teatro".

Após a reunião do ano passado, a indicação de retomada do evento em março de 2022 foi reiterada pelo gestor na primeira reunião do ano do CMPC, em janeiro. Conforme Raimundo Moreira, membro da Cia. Prisma de Artes e do Fórum, os artistas deixaram demarcado no encontro o "pouco tempo até março" e a necessidade de uma "força-tarefa" para concretizar o evento em tempo hábil.

Apesar dos diálogos e indicações, a "materialidade" ainda não foi dada. De acordo com artistas, a secretaria se comprometeu a compartilhar a minuta do edital a ser lançado com detalhes sobre o festival ainda em janeiro, mas isso não aconteceu.

Procurada pelo Vida&Arte, que demandou entrevista para detalhar quais ações já foram realizadas para concretização do festival e datas previstas, a Secultfor afirmou em nota que está preparando o edital para artistas e grupos para posterior lançamento e reforçou estar "em constante diálogo" com o Fórum. "Atualmente, está em processo de instrução processual e ajustes do edital para envio à Central de Licitações da Prefeitura de Fortaleza (CLFOR)", informou ainda a pasta.

"O tempo está passando e eu não vejo a evolução do que foi prometido", afirma Luana Lopes, atriz e produtora cultural do grupo Populart, do José Walter, e Conselheira Suplente do Conselho Estadual de Política Cultural do Ceará (CEPC) no segmento "Teatro". "A gente vai pra reunião, repassa aos colegas (a informação), gera expectativa, mas acabamos não tendo certeza se o que a gente compartilha será atendido", aponta a artista.

"A pandemia foi cruel, tivemos colegas que se obrigaram a ir atrás de empregos formais porque tivemos poucos auxílios voltados aos artistas, editais fragmentados, valores reduzidos, tudo ficou mais caro. Como querer que o artista continue sua trajetória de estudos e pesquisas se ele não tem apoio? O festival é muito importante porque a gente pode dar continuidade aos nossos trabalhos", defende Luana.

"Ele acaba tendo uma função de política pública porque dá conta de mais do que somente agenda. Tem as mostras, mas também formação de plateia nas escolas, ações em sedes de grupos, formação. A categoria trata o festival como uma política quase que estruturante justamente porque a gente não tem outras ações onde se agarrar", avalia Ari.

As indefinições acerca do Festival, para os artistas, refletem a falta de concretude de ações da atual gestão para o setor. Raimundo lembra de teatros da Cidade que não estão funcionando plenamente. "O São José continua sem ação concreta, o Antonieta Noronha está sem programação, os Cucas suspenderam a programação presencial e não têm nada on-line. Não tem uma ação concreta desde o início dessa gestão para o teatro, por isso nossa impaciência", explica.

A avaliação se estende para a atuação geral da pasta. "Se a gente reclama, eles nos ouvem, mas o problema é o que se faz concretamente a partir da escuta. A sensação que dá é que há uma falta de compreensão de como os processos devem ser gerenciados e isso é sintoma da forma como a gestão tem tocado a política cultural para a Cidade", aponta Ari.

"Ele (Elpídio) é irmão do prefeito, uma pessoa que tem força política, que se mostra sensível à cultura, mas o que acontece na prática é que a Secultfor está há um ano sem um eixo concreto, só com coisas fragmentadas", dialoga Raimundo.

A atual situação deixa a classe receosa acerca de promessas futuras. "A gente precisa que o evento aconteça e que os prazos dados sejam reais. Se a gestão diz que vai acontecer o festival e ele não acontece, como confiar quando falarem que o Edital das Artes será pago em determinado mês?", questiona Ari.

"A gente quer fazer dar certo, tem demandas e entende, como membros da sociedade civil, que só conseguimos fazer dar certo se fiscalizarmos e exigirmos A gente não quer nada impossível, só o que está dentro das políticas culturais", finaliza Luana.

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