Reconhecido como cineasta e comentarista político, Arnaldo Jabor morreu ontem, 15, aos 81 anos, após complicações de um acidente vascular cerebral sofrido em dezembro do ano passado. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, há quase dois meses, desde o dia 16 de dezembro de 2021. Da carreira cinematográfica à jornalística, o diretor ficou marcado por posições controversas.
A estreia de Jabor no cinema foi com os curtas "Rio Capital Mundial do Cinema" e "O Circo", ambos de 1965 e influenciados pelo movimento do Cinema Novo, que se instaurava no País naquela década. O primeiro longa do diretor foi o documentário "A Opinião Pública", de 1967, que traz entrevistas com membros da classe média do Rio de Janeiro abordando temas como política e alienação.
As produções já esboçavam temas que seriam, a partir dali, comuns à obra cinematográfica do artista. O primeiro filme de ficção de Jabor foi "Pindorama" (1970), que disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1971. Com inspiração barroca, o longa traça alegorias entre o século 16 no Brasil e o período da ditadura.
Foi a partir do terceiro longa, porém, que Jabor encontrou maior sucesso comercial. "Toda Nudez Será Castigada" (1973), baseado em texto teatral de Nelson Rodrigues, conta a história de um homem rico que se envolve com uma prostituta, debatendo temas como moralismo. Na época, a nudez e a abordagem polêmica sobre sexo foram controversas.
A produção chegou a ser censurada, tendo sofrido cortes de cenas consideradas "imorais". Mesmo após a estreia, o longa chegou a ter todos os rolos de película apreendidos pela Polícia Federal. Ele foi, ainda, exibido na competição no Festival de Berlim, de onde saiu vencedor do Urso de Prata. Em termos de público, ele teve mais de 1,7 milhão de espectadores, sendo o quarto filme mais assistido do ano.
O longa seguinte foi "O Casamento" (1975), mais uma vez adaptando um texto de Nelson Rodrigues, que seguiu traçando um retrato sexual e moral das classes abastadas. Na trama, um homem passa a desconfiar que o noivo da filha é gay, o que desencadeia uma série de revelações e tragédias.
Em 1978, Jabor dirigiu "Tudo Bem", com Fernanda Montenegro, um olhar ácido novamente para a classe média. A abordagem frontal sobre sexualidade, porém, seguiu forte a partir dos anos 1980.
Em "Eu Te Amo" (1981), Sônia Braga e Paulo César Peréio interpretam um casal em crise existencial e amorosa. Dando sequência, "Eu Sei Que Vou Te Amar" (1986) fala de um jovem casal recém-separado que se reencontra para discutir a relação e os desejos. Fernanda Torres, protagonista do longa, recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes daquele ano.
A maioria dos longas dos anos 1970 e 1980 de Jabor tiveram êxito nas bilheterias, mesmo que tratassem de temas espinhosos. A carreira cinematográfica dele, porém, acabou arrefecendo por conta dos impactos do Governo Collor na cultura e, nos anos 1990, ele se voltou para o jornalismo.
Na TV Globo, ele foi comentarista político em diversos jornalístico da emissora, como o Jornal Nacional e o Jornal da Globo. Apesar de ter construído carreira criticando moralismos, os comentários de Jabor eram reconhecidos pelo viés mais conservador. Crítico dos governos do PT, ele foi um expoente do antipetismo no País, mas também foi crítico do presidente Jair Bolsonaro.
O mais recente longa de Jabor foi "A Suprema Felicidade", lançado em 2010 e com forte caráter nostálgico. Segundo a Folha de São Paulo, assessores do diretor afirmam que ele deixa, ainda, um último longa inédito.
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