“Reinvenção”: uma palavra que se tornou cada vez mais presente no dicionário de diversos profissionais durante a pandemia. Eles precisaram encontrar alternativas para resistir aos desafios desse período, e isso não foi diferente com trabalhadores da Cultura e, mais especificamente, com o Festival Jazz & Blues. Diante das restrições de eventos devido à pandemia, o evento ocorrerá em formato especial a partir desta quarta-feira, 16, em equipamentos culturais de Fortaleza e Juazeiro do Norte.
Shows, bate-papos e até oficinas compõem a programação do festival, cuja trilha sonora será preenchida por atrações locais e nacionais. Entre os destaques, estão o compositor e guitarrista mineiro Toninho Horta, o gaitista carioca Flávio Guimarães, além de cearenses como o guitarrista Mimi Rocha e a cantora Camila Marieta.
Em Fortaleza, as apresentações começam nesta quarta-feira, 16, no Cineteatro São Luiz, a partir das 17 horas. Os ingressos para as duas sessões previstas foram esgotados. Em Juazeiro do Norte, na sexta-feira, 18, haverá show às 17h30min do Duo Yaô, projeto de música instrumental formado por Diego Sousa e Wesley Santana. Os ingressos poderão ser retirados no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte, no próprio dia. A programação completa e mais detalhes estão disponíveis no próprio site do festival.
A edição especial do evento vem em meio ao decreto estadual que suspendeu apresentações de carnaval como forma de reduzir casos de síndromes gripais no Ceará. O festival, que tem em seu conceito ser “uma alternativa às tradicionais festas de Carnaval”, surge para também marcar o mês em que costuma ocorrer.
Assim, para não deixar passar fevereiro “em branco”, a programação carrega destaques já conhecidos do festival - como apresentações de jazz, blues e música instrumental - e também novidades, com atrações locais e nacionais marcando presença em equipamentos de Fortaleza e de Juazeiro do Norte. Segundo a diretora do evento, Maria Amélia Mamede, os shows serão gravados para que quem não consiga comparecer presencialmente possa assistir aos espetáculos posteriormente.
Para Maria Amélia, enfrentar esse período de desafios impostos pela pandemia requer dos organizadores reinvenção e, ao mesmo tempo, o olhar atento para preservar a essência do Jazz & Blues: “Estamos precisando nos reinventar para atravessarmos de forma criativa esse período que não voltou à normalidade. Uma forma com a qual nosso público se surpreenda positivamente”.
Ela comenta quão gratificante é realizar o festival para além da questão da “empregabilidade” de profissionais diante de um cenário adverso que se acentuou com a pandemia. É a oportunidade também de garantir aos espectadores um evento com o qual se “identificam”: “Há também a questão afetiva e emocional do festival. As pessoas têm identificação com o evento, memórias e muitas alegrias. Quem já foi para o Jazz & Blues sabe como é legal vivenciar essa experiência. Isso enche o nosso coração de alegria”.
A diretora aponta para “a diversidade que o festival propicia” a partir da qualidade do repertório musical e da expansão de possibilidades “para além dos formatos repetitivos”. “O festival tem essa amplitude de mostrar às pessoas como podemos construir musicalmente e experiências muito interessantes”, afirma.
Maria Amélia ressalta o “intercâmbio de gerações e estilos” presente nessa edição, com apresentações de artistas de diferentes épocas, como Camila Marieta e Toninho Horta. Ela acrescenta: “Nós saímos do lugar comum e possibilitamos às pessoas conhecerem o tanto de músicos maravilhosos que nosso País tem”, defende a organizadora.
Nesse sentido, entram em cena também tributos como destaques desta edição. Como exemplos, a cantora Bel Girão prestará nesta sexta-feira, 18, uma homenagem à intérprete Leila Pinheiro no mesmo dia em que o flautista Heriberto Porto (Marimbanda) fará tributo ao maestro cearense Liduino Pitombeira. As apresentações serão no BNB Clube. Para Porto, que conhece o compositor “desde os tempos do Syntagma”, realizar essa apresentação é uma grande alegria.
“É muito gostoso como ele escreve. É difícil, mas é bonito. Soa ‘orgânico’. Fazer um tributo, uma homenagem, parece coisa para gente que já morreu, mas não: Ele está ‘vivace’ e trabalhando como nunca. Fazer este concerto é tê-lo um pouco mais perto, já que agora ele vive só no Rio de Janeiro”, revela Heriberto.
No tributo, haverá interpretações de músicas não só de Liduino, mas também de compositores como Guerra-Peixe, Clóvis Pereira e Cussy de Almeida, em uma forma de realizar um “diálogo” entre grandes nomes da música brasileira. Heriberto também homenageará a flautista e compositora Léa Freire e estreará até uma peça feita para ele e para sua filha, violonista. Noel Rosa e Pixinguinha estão no repertório.
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Para o flautista, participar do festival é “fazer parte da cultura que resiste, sofre e apanha, mas que não morre”. Esse pensamento, aliás, coincide com o do guitarrista Felipe Cazaux, uma das atrações confirmadas no Jazz & Blues e que se apresentará com Roberto Lessa. Felipe aponta como a cultura no País tem “respirado por aparelhos” e que, por isso, realizar o festival “é um ato de coragem e resistência”.
No palco do Cineteatro São Luiz, a dupla passeará pela “representação do Blues” em um repertório curto, mas clássico. “É sempre um prazer enorme encontrar amigos e tocar para quem está disposto a apreciar a música que oferecemos”, acrescenta.
No palco do Cineteatro São Luiz, a dupla passeará pela “representação do Blues” em um repertório curto, mas clássico. “É sempre um prazer enorme encontrar amigos e tocar para quem está disposto a apreciar a música que oferecemos”, acrescenta. Quem também participará da “conexão de artistas” proporcionadas pelo evento é a cantora cearense Lorena Nunes, que defende a importância “de ocupar espaços de festivais” para “expandir e fortalecer” plateias.
Em seu pocket show, Lorena levará ao palco músicas do seu repertório autoral, incluindo “Corpo Solto”. Além da apresentação, a cearense também promoverá dentro da programação a oficina “Temos Dindin – Autogestão para carreira musical”, em que abordará temas relacionados à gestão de carreira. “É fundamental para o trabalho do artista hoje em dia. Cada vez mais ele é convidado a não atuar só artisticamente, mas também fazendo sua gestão”, destaca Lorena.
Na atividade, a cantora falará sobre as etapas necessárias para produção, gravação, pós-produção e até promoção do trabalho musical, de forma a auxiliar artistas a alcançarem patamares mais altos na carreira. A oficina ocorrerá na sexta-feira, 18, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) de Fortaleza. Em Juazeiro do Norte, outra oficina também será realizada no CCBNB, mas dessa vez será sobre teclado com o instrumentista Diego Sousa, do Duo Yaô. As inscrições para as oficinas podem ser feitas nos respectivos centros culturais.
Festival Jazz & Blues
Quando: a partir desta quarta-feira, 16, às 17 horas
Onde: Cineteatro São Luiz, BNB Clube e Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri
Mais informações: www.jazzeblues.com.br
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