Novo game do estúdio independente da Sloclap, "Sifu" é desafiador e difícil. Traz uma curva de aprendizado íngreme, mas que, se superada, coloca o jogador de frente a um título rápido, dinâmico e às vezes impiedoso. Com destaque para seus sistema de combate que oferece uma variedade surpreendente de golpes, simples e complexos, que o jogador desbloqueia e usa em dava investida contra seus vilões.
"Sifu" começa e termina com foco máximo nos embates entre o protagonista em busca de vingança e os diversos oponentes controlados pelo computador que aparecerão pela frente. Apesar do jeitão de filme independente, a história previsível acaba tirando um pouco o brilho de um dos melhores jogos lançados neste ano.
Em suma, "Sifu" é uma história de vingança que reúne os tropos e referências do cinema de artes marciais e um pouco do cinema de fantasia também. O jogador deve perseguir os assassinos de sua família, que os deixaram orfão aos oito anos de idade. Após cerca de dez anos treinando, ele deverá percorrer cinco zonas diferentes até o fim e enfrentar cada chefão responsável. Apesar da linearidade da história, uma vez completadas, as áreas anteriores podem ser revisitadas livremente para a busca de artefatos e áreas escondidas.
Além de seu combate, outro destaque do jogo é seu sistema de evolução do personagem. Apesar de ser um pouco difícil de entender no começo, o sistema é simples. Basta dizer que à medida que o jogador morre em uma investida, sua idade e força aumentam. Porém, mais frágil a cada ano adicionado e, ao final, morre, tendo que repetir todo o ato novamente. Enquanto vivo, o jogador pode desbloquear golpes e vantagens e mantê-las permanentemente ao gastar altos valores da moeda do jogo. Com este incentivo à repetição, ao repetir capítulos e lutas, o jogador se tornará mais forte e aumentará seu conhecimento sobre o caminho sendo desbloqueado na narrativa principal de "Sifu".
O combate minuto-a-minuto de "Sifu" é um convite a momentos de muita diversão. Ele é muito centrado nas esquivas e nos contra-ataques. As comparações com "Sekiro: Shadows Die Twice" nesse quesito são inegáveis. Para tornar maior a semelhança, há também um sistema de "estrutura" que define a abertura ou não do oponente e do jogador a ataques que rompam as defesas e causem maiores danos. Além disso, móveis podem ser usados como ferramentas ou como pistas de aterrissagem das cabeças e membros que o personagem principal arremessará em cada luta. Alguns momentos de tensão imitam uma partida de xadrez onde, além de rápido, é preciso de muita estratégia para achar o caminho certo em meio a um mar de punhos e pontapés.
Para um jogo linear, é surpreendente saber que até os oponentes mais humildes encontrados em "Sifu" podem acabar com seu personagem se não forem controlados. Eles também são diferenciados e apresentam características únicas, e que tem relação direta com as áreas do game onde cada facção diferente habita. Apesar de tamanha variedade, os cinco chefes principais trazem embates previsíveis, porém brutais. São às vezes mais exercício de paciência do que de fato desafios relevantes. Ademais, seja isso bom ou ruim, cada encontro em "Sifu" é roteirizado, garantindo sempre muita qualidade nas falas e animações, mas também tornando tudo um pouco engessado. Independente de quantas vezes o jogador repetir o mesmo ciclo, o comportamento e as falas de todos os personagens do jogo se repetem.
Cada um dos cinco capítulos do jogo traz uma paleta de cores e estilos visuais bem diferentes, além de arranjos e temas musicais únicos. O museu, palco de boa parte do capítulo três, é deslumbrante visualmente; as cavernosas instalações do espaço de arte moderna são o cenário de momentos fantásticos do enredo do jogo. Já de cara, "Sifu" é forte candidato a jogo mais bonito de 2022.
A trilha sonora do título é também incrível e cuidadosamente pensado em torno de cada sequência de jogo, com momentos de pura tensão, e outros mais dramáticos e tensos. O design de som como um todo é presente e muito forte. Além dos sons normais do jogo, o controle DualSense também reproduz sons peculiares dependendo do posicionamento e das ações do personagem no jogo. Ele ressoa na chuva, reproduz sons de pancada, pode servir até como forma de antecipar os movimentos de alguns inimigos.
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Lamentavelmente, o ponto fraco do jogo reside em seu enredo fraco e também na brevidade geral da experiência de "Sifu". Após finalizar o jogo, há poucos incentivos para jogá-lo novamente e a falta de um elemento multiplayer (até o momento) diminuem a expectativa de diversão extraída do game.Não há modos alternativos, opções para variar a dificuldade cada fase e nem um modo focado apenas no enfrentamento dos chefes. É um jogo objetivo e direto, mas que, também, oferece pouco. Por fim, o jogo ainda é penalizado por conta de problemas de câmera que trazem alguns ângulos de visão que atrapalham a visualização do jogo.
Para fãs de jogos de pancadaria, ou "beat'em ups", "Sifu" é muito fácil de recomendar. As cerca de 10 horas de jogo passarão rápido dada a dinâmica ativa e constante do jogo. Mesmo com um enredo que deixa a desejar, cada minuto gasto no mundo de "Sifu" será repleto de ação e muitas homenagens ao cinema de artes marciais. É o primeiro jogo que mete o pé na porta e abre a corrida para os melhores do ano de 2022.
"Sifu" está disponível para o PC na Epic Games Store e nas plataformas Playstation 4 e 5.
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