O jornalista Ivonilo Praciano é um homem de muitas facetas. Entende as propriedades da arquitetura, moda, gastronomia e arte. E tem outro tópico no qual é especialista: o Carnaval. Ivonilo foi brincante nas ruas do Rio de Janeiro, nas avenidas de Fortaleza e nas praias de Canoa Quebrada. Tocou frevo, axé, forró. Transitou entre as periferias, os clubes e os maracatus. "O carnavalesco não abandona o Carnaval, pode até passar um tempo sem, mas está nele", afirma.
A festividade já era "de casa" quando ele, ainda criança, morava com a avó na Rua 24 de Maio e via os carnavalescos pela porta. Anos depois, situado no Benfica, traçava os percursos da época. "Foi quando a gente começou a trabalhar mais o Carnaval no Benfica e me animou muito. Mas eu sabia que eu queria entrar, fazer parte de verdade". A "sorte" foi o bloco "Bandalheira", criado em 1991 por Ivonilo ao lado dos jornalistas Emília Augusta e Fernando Ribeiro, com apoio da Prefeitura e empresas locais.
Atuante na Praia de Iracema, o "Bandalheira" tinha como proposta potencializar o fluxo de pré-carnaval na cidade. "Era uma coisa animadíssima, a gente ria muito. Foi um tempo muito bonito da Praia de Iracema. O Bandalheira entrava no frevo, partia pro samba, entrava no coco, tocava de tudo, até forró, e o povo dançava agarrado. Era uma multidão", recorda. Ivonilo também migrava para a praia de Canoa Quebrada a fim de aproveitar as articulações do município. "Vou para lá, fico vendo as bandinhas passando e eu acho lindo, aprendo muito. Eu assisto todos os blocos que passam, são todos muito interessantes. A gente sente aquela coisa de querer fazer bem feito, de quem entende e é muito simples. As bandas pequenas são a maior universidade do carnavalesco".
Outro ponto fixo nos ciclos do folião é a Avenida Domingos Olímpio, onde desfilou nos maracatus por anos seguidos. "Eu acho o nosso maracatu de uma beleza sem tamanho. Eu desfilo em homenagem, porque eu achava um absurdo as pessoas não entenderem que era fundamental uma coisa tão linda, tão tradicional. Eles lutam para manter a tradição. Todo ano querem mudar, acelerar o maracatu, faz isso, aquilo. Eles seguem o mesmo ritual. Então, viva o maracatu que mantém e consegue botar na rua uma tradição negra". É a pluralidade de manifestações, destaca Ivonilo, que torna possível a verdadeira festa. "Eu sempre acompanhei o Carnaval de rua, entrava nos blocos, me divertia. Ou você só assiste e acha muito pesado, ou você entra e vê que não era o que você pensa. As pessoas botam na rua um desfile imenso, durante três dias, financiado pelo trabalho. Se não fosse pelas periferias, não ia ter mais Carnaval de rua. Porque o cearense é muito elitista, não gosta de se meter no meio do povo. No Rio e São Paulo se metem, mas aqui não", ressalta.
Para o comunicador, a festa tem que ser no asfalto, ao lado de pessoas, fazendo trocas. Aqueles envolvidos são interessantes, humanos, "gente sem nenhuma maquiagem". Desde a aposentadoria, o jornalista está passando por uma fase mais reclusa, em casa, na companhia de familiares, amigos e bichos de estimação. Diz estar conhecendo este ambiente familiar e aproveita o tempo para ler, descansar, cozinhar. Mas já deixa avisado: "No próximo Carnaval eu vou dançar pelos dois que não aconteceram". Não há, de qualquer forma, como fugir desse espírito jovial e "em ebulição". "Quem é do Carnaval, não sai. Tem um amigo que quando chegava a época do Carnaval dizia que chegava noiva. Chega meia-noite e é exatamente a sensação que a gente tem, a gente se entrega. Sempre estou na rua, trocando ideias, experiências. A gente não pode perder esse elo. O ser humano é um dos livros, com todas as correções, mais complexos que tem no mundo. Ave Maria sair de perto deles, de todos nós, de mim também".
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