"No meio do caminho encontrei Cida, uma menina esquecida / Na conturbação do dia a dia eu nem lembrei de viver a vida / Cida tão feliz em choro se sentia desaparecida". Falar de Cida é trazer à tona temas que não cabem apenas na personagem, pois se encontram em tantas outras pessoas. É enxergar um processo de construção do entendimento sobre a própria existência e sobre como ela afeta outros ao seu redor. Acima de tudo, é entrar em um caminho que atravessa sensações como medo, saudade, solidão, amor, amadurecimento e autoconhecimento.
Com essa proposta, Cida terá seus oceanos de sentimentos - tão profundos e vastos - retratados pela última vez no livro "Eu Não Quero Falar Mais Sobre Você", de André Solidão, escritor cearense natural de Acopiara. Ele realiza o lançamento da obra no próximo sábado, 12, a partir das 16 horas na livraria Coração Selvagem, com direito a autógrafos do autor.
O trabalho de Solidão conta com ilustrações de Samia Moraes e coroa o encerramento de uma trajetória que começou em 2016, com "O Silêncio Que Ficou Entre Nós". Nessa obra, as discussões são voltadas para o processo de descobrir e entender dores. A estrada continuou em 2019 com "Melancólico", que representa o "trânsito entre os dois livros" e mostra para a personagem a importância do amor próprio e da solidão.
Nesta última fase da caminhada de Cida, poesias, crônicas e contos mostram o que a protagonista aprendeu em seu processo de dor, cura, amor e "desamor". "Ela traz esse encerramento encontrando o amor próprio. O livro fala bastante disso, dessa construção de seus sentimentos dela consigo e dela para com os outros", comenta André Solidão.
O livro é dividido em três capítulos e segue uma ordem cronológica para apresentar a jornada de Cida, reunir a evolução de seus sentimentos e direcionar a potência de suas palavras. Em "Eu Quero Falar Sobre Você", o discurso se volta para o outro; em "Eu Quero Falar Sobre Nós", há uma visão coletiva; em "Eu Quero Falar Sobre Mim Mesma", a protagonista enfrenta a fase final de seu amadurecimento.
Encarada como "Cida Esquecida" - pelos outros e, de certa forma, por si mesma -, a personagem é uma personificação do modo como o autor absorve demandas da sociedade, de familiares e de momentos que viveu. Nos textos, o leitor encontra também "saudade, tristeza e felicidade". Assim, os diálogos para sentimentos que atingem tantas pessoas se abrem em um processo de identificação e compreensão.
As aflições e angústias sentidas por Cida ao longo de sua caminhada não são exclusivas, e André acredita que são pouco discutidas as tensões que marcam, por exemplo, a juventude. Intensidade, desilusões amorosas, responsabilidade afetiva… Todos são tópicos que falam de Cida e extrapolam a personagem criada pelo cearense.
"O 'sentir' ainda é muito julgado. Eu falo muito sobre isso: muitas pessoas são intensas, mas às vezes nos fazemos 'pequenos' para que os outros não nos julguem, e isso inclui a juventude. Eu tinha esse sentimento de me colocar dentro de um aspecto para a sociedade me aceitar daquela forma, porque ela não me aceitava como uma pessoa intensa, grande demais", revela André.
Aliás, o nome que segue a trajetória do autor casa bem com suas discussões. Afinal, André busca apresentar outros pontos de vista sobre as consequências da solidão. Nesse sentido, o que para muitos pode ser algo ruim, para o autor representa outras possibilidades de se encontrar consigo mesmo.
"A solidão é um espaço em que nos conhecemos, e enquanto não nos conhecermos como seres humanos dentro dessa solidão, não vamos conseguir entender o outro nem transmitir o que sentimos", aponta.
O grito de amadurecimento de Cida ecoa pelas mais de 240 páginas que preenchem o livro, auxiliado por ilustrações que adicionam ainda mais sentidos às suas angústias. Crescendo e convivendo com outras pessoas, ela compreende cada vez mais a importância de olhar para si para conseguir entender o outro - mas não apenas isso.
"Da mesma forma que é vista como 'Cida Esquecida', ela entende que também pode ser a pessoa que esquece, que deixa o outro de lado e o trata mal. Com isso, ela percebe que precisa ter cuidado com a responsabilidade afetiva em relação a quem está ao seu redor e que o seu autoconhecimento refletirá em todas as suas relações", destaca André Solidão.
O encerramento da trajetória de Cida não atinge apenas a personagem: seu criador também sente o fim desse ciclo. Para André, a busca percorrida ao longo dos dois primeiros livros é concluída na obra que será lançada no próximo sábado, 12. As mensagens, porém, seguirão reverberando.
"Existirão pessoas que sentirão amor por nós e outras que sentirão 'desamor' - todo o mundo tem um tipo de sentimento diferente. Nós, como seres humanos, e a Cida, enquanto personagem, precisamos entender o próximo como a nós mesmos", finaliza o escritor.
Eu Não Quero Mais Falar Sobre Você
De André Solidão
Editora PenDragon
248 páginas
Quanto: R$30
Onde comprar: pelo site da editora, em contato com o autor e por plataformas digitais, como Shopee, Submarino e Amazon;
Lançamento: sábado, 12, a partir das 16 horas, na livraria Coração Selvagem (Rua dos Tabajaras, 450 - Praia de Iracema)
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