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Scalene volta a rock mais pesado e discute autoconhecimento em novo álbum
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Scalene volta a rock mais pesado e discute autoconhecimento em novo álbum

Em novo álbum, banda brasiliense de rock Scalene reúne diferentes influências musicais e propõe reflexões sobre ciclos, autoconhecimento e solidão
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Formada por Tomás Bertoni, Gustavo Bertoni e Lucas Furtado, a banda Scalene lançou em 2022 o álbum
Foto: Wilmore Oliveira/Divulgação Formada por Tomás Bertoni, Gustavo Bertoni e Lucas Furtado, a banda Scalene lançou em 2022 o álbum "Labirinto", que discute temas como solidão e autoconhecimento

Na última sexta-feira, 11, o decreto oficial de pandemia emitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) completou dois anos. Desde então, passaram a ser dominantes os teores de preocupação, lamento, dúvidas e solidão diante desse cenário. Em meio às reflexões provocadas, diversos trabalhos musicais surgiram como forma de abarcar e compreender as angústias neste período, em um processo de autoconhecimento.

Isso não foi diferente para a banda brasiliense de rock Scalene, que lançou no mesmo dia o seu quinto álbum de estúdio. Com 13 faixas desenvolvidas entre 2019 e 2021, “Labirinto” chega às plataformas digitais reverberando discussões que transitam entre dores, ciclos, tecnologia, autoconhecimento e solidão. A obra marca o retorno da sonoridade roqueira do grupo após “Respiro”, disco lançado em 2019.

Além das temáticas abordadas, o contraste de sonoridades se destaca no trabalho da banda formada por Gustavo Bertoni (vocal), Tomás Bertoni (guitarra) e Lucas Furtado (baixo). Os dois instrumentistas concederam entrevista exclusiva para o Vida&Arte e repercutiram as inspirações em “Labirinto”, os debates propostos pelas canções e visões sobre o atual cenário do rock.

O público já havia conhecido um pouco de “Labirinto” com os singles “Névoa” e “Discórdia”. Os títulos em caixa alta, por sinal, são capazes de reforçar o peso das composições, visto logo no início com a faixa “Ouroboros”, com parceria do rapper Edgar. Os versos “Eu não aguento / Toda essa angústia mais / Não me aguento / Eu não aguento mais” anunciam a capilaridade de sentimentos presentes. A primeira música, por sinal, introduz o conceito de ciclos e a busca “pelo centro do labirinto” em meio a dilemas sobre paz e revoltas trabalhados pelo grupo.

A volta da banda reforça mensagens que já eram desenvolvidas pelo Scalene em suas músicas, mas também expande as possibilidades sonoras e temáticas do grupo. O trip hop em “Sincopado” e o pop punk em “Revés” são exemplos da musicalidade. “Labirinto” ainda guarda a bateria de Philipe Nogueira, que saiu do conjunto brasiliense em 2021.

Quanto aos temas, uma das ideias desejadas a partir das novas canções é fazer o público “refletir” sobre si e sobre o exterior diante da força de conflitos provocados pela “modernidade, internet e redes sociais”.Nesse sentido, entram pensamentos que marcaram - e continuam marcando - diversas pessoas ao longo da pandemia, como afirma o baixista Lucas Furtado. Para ele, houve a necessidade de se adaptar e “uma sensação de estar perdido” com mudanças tão drásticas a partir desse período.

Diante disso, o Scalene surge não para dar respostas para conflitos pessoais, mas para instigar o ouvinte a encontrar seus próprios caminhos. “O disco propõe para as pessoas refletirem a respeito do que têm pensado, e o objetivo é jogar a ideia, mas a conclusão vai vir delas. O que você interpretar disso significará mais do que o que eu tenho para dizer a respeito”, afirma Lucas.

Assim, entram em cena as discussões abordadas em “Labirinto”, como solidão e autoconhecimento. O nome vem de várias inspirações, sendo uma delas uma referência filosófica a partir de pensamentos do alemão Friedrich Nietzsche, em que ele “aborda as profundezas da consciência”, na visão do guitarrista Tomás Bertoni. “A sensação é de que o mundo não se organiza de uma forma propícia para você estar conectado consigo mesmo”, aponta.

Lucas Furtado complementa a proposição: “Dentro dessa exploração interna surge também entender como você se encaixa no mundo ao seu redor. É algo que acontece no ‘macrocosmos’ e no ‘microcosmos’. Você mergulha em si - ou pelo menos deveria - para encontrar respostas, para se entender, para saber quem você realmente é, e isso tem um reflexo no ambiente à sua volta e em como você lida com as pessoas e com as situações em que você está envolvido”.

Nos caminhos de autoconhecimento, entretanto, os músicos argumentam também sobre a “necessidade” que muitos têm de opinar sobre tudo, mas sem se aprofundar o suficiente a respeito do assunto. Assim, os integrantes defendem a necessidade de desenvolver o espírito crítico e de ter “mais responsabilidade” sobre o que se fala, compreendendo a vida em sociedade.

Para transmitir essas análises, o Scalene incorpora neste novo álbum a sintonia, a partir das músicas, de sonoridades mais “pesadas” com aspectos de maior leveza para alcançar um argumento comum. Em “Labirinto”, o contraste é perceptível quando se compara músicas como “Febril” e “Tantra” - aquela, mais enérgica; essa, mais introspectiva.

Essa é uma característica apontada por Tomás como já presente em outros trabalhos da banda, como no disco “Real/Surreal”, que “confronta”, por exemplo, a faixa “Amanheceu” - mais suave - com a canção “Danse Macabre” - que reúne traços mais pesados de guitarra. Na análise do guitarrista, isso “fortalece a concepção” de suas obras.

“O Labirinto tem essa pegada e eu acho que é uma grande dinâmica, não são tanto opostas, são músicas com momentos fortes e fracos. Nós gostamos desse processo”, divide. Tomás acrescenta: “Acho que isso combina bem com esse álbum, porque tem horas que você tem sensações que causam comoção, catarse, e às vezes você tem momentos de introspecção e calma”.

“Acaba funcionando dentro do disco como uma metalinguagem: se permita sentir essas coisas, se permita ter uma fúria, mas também ter serenidade dentro das situações em que você vai se encontrar”, pincela Lucas. Se a situação conflitante estiver relacionada ao cenário político vivido atualmente, as mensagens da banda sobre isso seguem por outras abordagens.

No álbum, os integrantes não confrontam diretamente como na música “Ciclo Senil”, de “Respiro”, e entendem que seus posicionamentos já foram demonstrados explicitamente em trabalhos anteriores. Agora, optaram por outra dinâmica. “O ato político dele é justamente a mensagem de que você precisa ter calma, refletir, conhecer, tentar não se submeter ao que o capitalismo impõe para nós, seja no nível individual ou no coletivo”, destaca Tomás.

Lucas concorda e acrescenta: “O que propomos é: entenda o que você está falando, vá atrás de conhecimento, você não precisa ter opinião formada sobre todas as coisas, mas também não precisa sair reforçando coisas que você não sabe, porque assim você acaba sendo influenciado”.

O Scalene pretende reverberar suas ideias também em turnê, e já está planejando a retomada de shows ao vivo Brasil afora. O desejo é “entrar na estrada” a partir de maio. Por enquanto, ainda não há previsão de shows em Fortaleza, mas, independentemente disso, é certo que as novidades de “Labirinto” e da banda ainda ecoarão por bastante tempo. As jornadas propostas pelo álbum, então, apenas começaram.

Capa do álbum
Capa do álbum "Labirinto", da banda Scalene

Álbum Labirinto

Onde escutar: plataformas digitais de música
Acompanhe o trabalho: @bandascalene no Instagram

 

Vida&Arte Convida

A entrevista completa com Tomás Bertoni e Lucas Furtado, da banda Scalene, estará disponível na próxima quinta-feira, 17, em agregadores de podcast como Spotify, Google Podcasts e Apple Podcasts. Na conversa, os músicos também falam sobre as parcerias no álbum e como analisam o cenário do rock atualmente.

 

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